Carta ao Leitor: Debate em alto nível
Encontros promovidos por VEJA serão uma grande oportunidade para que os candidatos discutam, de fato, os principais projetos e ideias para suas cidades
Nesta sexta, dia 16, começa oficialmente a campanha para as eleições que serão realizadas em 5 570 municípios brasileiros. Devido ao grande número de candidatos e grupos políticos que vão rivalizar, os prognósticos são difíceis na maioria das cidades. Neste ano, temos um dado adicional que deixa o pleito ainda mais imprevisível: a nacionalização, um duelo velado Bolsonaro-Lula. Diante das tantas possibilidades e eventuais reviravoltas, típicas de uma disputa com essas características, vale destacar pelo menos uma certeza: graças ao excepcional funcionamento das urnas eletrônicas no país, os resultados sairão rápido e de forma transparente, um feito que deveria ser motivo de orgulho nacional. Se existe algo que realmente funciona no sistema público brasileiro, entre alguns poucos exemplos, são as apurações conduzidas pelos tribunais eleitorais. Trata-se de uma das mais expressivas conquistas da nossa democracia.
Democracia que nem sempre é valorizada e respeitada. Bem a seu feitio, inteligente e irônico, o célebre Winston Churchill brincava: “A democracia é o pior sistema de governo — com exceção de todos os outros”. É natural que as pessoas saiam insatisfeitas de uma votação em que seu candidato tenha perdido para um opositor. Isso não significa que possam organizar levantes ou mandar as instituições às favas quando isso acontece. Lamentavelmente, episódios dessa natureza têm ocorrido com frequência nos últimos tempos: nos Estados Unidos, no fatídico 6 de janeiro de 2021, na Venezuela, patacoada ainda em andamento, e no Brasil, durante o violento 8 de janeiro de 2023. Deveria ser um conhecimento adquirido, mas não custa lembrar que o processo democrático é o mais justo que existe. Os cidadãos de um país reúnem-se e escolhem seus governantes. Se a maioria vota em seu adversário, paciência. Espere a próxima oportunidade. A alternância de poder (e, portanto, de visões) é a condição sine qua non para a manutenção da democracia e a estabilidade de uma nação. Em outra tirada muito bem-humorada, o escritor português Eça de Queiroz resumiu tal pensamento com um cruel sarcasmo: “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”.
A questão fundamental — que deveria ser o cerne de toda eleição — é por que razão tirá-los ou colocá-los lá. Infelizmente, em tempos de redes sociais e lacrações, a troca de ideias na política tem hoje a profundidade de uma poça de água (e a polarização só fez piorar o cenário, abusando do recurso do ódio ao diferente). Tal panorama, no entanto, não afasta VEJA de uma de suas missões históricas: elevar o nível das discussões, ajudando pessoas com sede de conhecimento a formar sua opinião. Com essa esperança, vamos organizar seis debates, iniciando com os candidatos à prefeitura de São Paulo, na próxima segunda (19). Parte do projeto VEJA E VOTE, que foi lançado nas eleições de 2020 e prosseguiu no último pleito presidencial, o evento começará às 10h30, com transmissão na nossa plataforma de streaming VEJA+. Além de São Paulo, promoveremos encontros entre os candidatos de Campinas (no dia 23), Guarulhos (26), São Bernardo (30), Santos (2) e Rio de Janeiro (em 12 de setembro). Conduzidos pelos jornalistas de VEJA, tropa liderada pelo redator-chefe Sérgio Ruiz Luz, esses debates serão uma grande oportunidade para que os postulantes discutam, de fato, os principais projetos e ideias para suas cidades. Se necessário, com críticas construtivas. Mas sempre em alto nível — e democraticamente.
Publicado em VEJA de 16 de agosto de 2024, edição nº 2906