Carta ao Leitor: Um passo adiante
Aprovação da reforma tributária demonstrou um importante sinal de amadurecimento na relação entre os poderes Executivo e Legislativo

Uma das principais missões dos veículos de comunicação responsáveis, seguida como um dos pilares de VEJA, é a fiscalização contínua dos poderes da República. Todos os dias, nossos jornalistas apuram, pesquisam e conferem informações que traçam uma radiografia dos entes públicos brasileiros. Não raro, essa cobertura leva a críticas, a análises negativas e, algumas vezes, a escândalos. Recentemente, entre outras histórias que pautam a cobertura política nacional, VEJA revelou o conteúdo do celular do ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid. Também mostramos em primeira mão a umbilical ligação do hacker Walter Delgatti com a deputada Carla Zambelli, que levou o criminoso a um encontro com o então presidente Jair Bolsonaro — assim como as maquinações atrapalhadas do senador Marcos do Val com o ex-presidente. Trata-se de um trabalho árduo, complexo, criterioso, porém necessário, para a defesa das instituições do país.
Embora a quantidade de notícias ruins (infelizmente) supere as boas, é igualmente crucial ressaltar os avanços que ocorrem no país. Elogios e salvas de palmas, vale reafirmar, fazem parte também dessa fiscalização. Quando um Plano Real é lançado ou acontece o aprimoramento das regras trabalhistas, das regras previdenciárias ou é aprovada a autonomia do Banco Central, com o mesmo rigor com que as críticas são lançadas, tais avanços — pautas que façam o Brasil evoluir — precisam ser reconhecidos e saudados. A reforma tributária é um desses temas. Graças ao entendimento político, um assunto que havia décadas estava paralisado no Congresso finalmente foi destravado. Ainda existem muitas lacunas que devem ser discutidas no Senado, mas a aprovação na Câmara com larga margem de votos alimentou a confiança de que o sistema tributário brasileiro ficará mais simples e, um dia, menos feroz.
Além do avanço numa questão crucial, a votação demonstrou um importante sinal de amadurecimento na relação entre os poderes Executivo e Legislativo. Negociações tiveram de ser feitas e diferenças foram aparadas. Destaque especial, aliás, para os comportamentos do governador Tarcísio de Freitas, do ministro Fernando Haddad e do presidente da Câmara, Arthur Lira. É exatamente assim que democracias maduras evoluem: com entendimento e concessões. Nos últimos anos, lamentavelmente, o Brasil retrocedeu no tempo com o domínio de políticos radicais, cercadinhos e teatros feitos para agradar a fanáticos de lado a lado. Em tese, presidentes, deputados e senadores são eleitos para liderar o país rumo ao crescimento, debatendo as grandes questões nacionais — e não criando problemas inexistentes. Quando essa “elite” vai na direção contrária, atrapalhando esse processo, manipulando incautos com suas redes sociais, temos um grave problema. O Brasil precisa amadurecer, pensar grande — e a aprovação da reforma tributária é uma clara demonstração de que isso é possível.
Publicado em VEJA de 19 de julho de 2023, edição nº 2850