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‘Casa veio abaixo’: moradores relatam destruição em Petrópolis; veja vídeo

Tragédia já levou a 105 mortes; casas foram destruídas e moradores dependem de doações

Por Duda Monteiro de Barros, de Petrópolis
Atualizado em 17 fev 2022, 11h32 - Publicado em 16 fev 2022, 20h10

As evidências da tragédia em Petrópolis, na região serrana do Rio, são sinestésicas. Assim que se chega às áreas centrais da cidade, todos os sentidos são despertados para o nível de destruição causada pela chuva, que já levou a 105 mortes em menos de 24 horas. A poeira domina o ar, a lama cobre o asfalto. Casas, praças e pontes estão destruídas. Os sons de helicópteros e de sirenes de viaturas, ambulâncias e caminhões dos bombeiros atordoam os ouvidos. Por todos os lados, moradores e ajudantes carregam cobertores e alimentos não perecíveis, sempre de botas ou sacolas plásticas nos pés. Enquanto isso, a água insiste em escorrer pelas ruas.

Tudo isso no Centro da antiga sede do Império, a cerca de 70 quilômetros da capital do Rio. Dali para dentro dos bairros em que a maioria dos corpos foi encontrada, o estrago é ainda maior. No Morro da Oficina, onde estima-se que tenha havido o número mais superlativo de mortes, o cenário é de destruição quase completa. A demora dos bombeiros para chegar ao local, quando os estragos começaram a acontecer, fez com que moradores tivessem que iniciar o trabalho de buscas de corpos. Alex Blatt, de 32 anos, encontrou nos escombros quatro corpos de vizinhos. Eram pessoas que estava acostumado a ver pelas redondezas. 

“Depois da nossa busca, trouxemos os bombeiros para cima. Tinha um homem dentro da casa ainda vivo, mas ele veio a óbito porque não aguentou. Acho que estava com hipotermia, com a perna quebrada. E havia mais três corpos aqui jogados em cima da terra. Foi caótico. É muito triste ver as pessoas em cima da terra”, recorda, com o corpo e a camisa do Real Madrid tomados pela lama. 

Além das casas que se foram, há aquelas em situação de risco, que foram evacuadas porque podem cair a qualquer momento. Rosa Santos, de 59 anos, passou pelas duas situações. Viu a filha ficar sem teto, enquanto ela própria precisou sair de casa. “Minha filha perdeu tudo: a casa, as roupas da bebê dela. A casa veio abaixo”, conta, enquanto aguardava a distribuição de pão e água feita pelos bombeiros. “Minha casa está na área de risco, estou esperando a Defesa Civil dizer se vou poder voltar. Somos 21 pessoas em uma casa sem água.” 

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A carga emocional da força-tarefa é alta. Técnica de enfermagem no Hospital Leônidas Sampaio, Tatiane Pinheiro pouco parou desde ontem, mas não conseguiu evitar as pausas para descarregar a emoção. “Estamos há mais de 30 horas trabalhando. Vemos o desespero das famílias e também ouvimos histórias muito trágicas. Já parei para chorar duas vezes hoje”, conta. 

A operação de busca por corpos desaparecidos mobiliza cerca de 500 bombeiros. Em outra frente, a Polícia Civil colocou 200 policiais a serviço da cidade. São peritos, papiloscopistas e profissionais de necropsia, por exemplo. Além dos mortos, há 377 pessoas desabrigadas – pelo menos 50 casas foram destruídas. “É uma situação quase que de guerra. Toda a nossa equipe está mobilizada: Corpo de Bombeiros, secretarias e demais órgãos do estado. Atuamos no resgate e salvamento de vítimas, desobstruindo estradas, atendendo pessoas que perderam seus bens com medicamentos e remoções”, disse o governador Cláudio Castro. 

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O presidente Jair Bolsonaro deve chegar na sexta-feira à cidade. Na Rússia para reuniões diplomáticas, ele voltaria para Brasília, mas mudou o destino para a serra fluminense. O governo do Rio deixou claro que a ajuda federal é essencial para a reconstrução da região. No momento, o que tem salvado a sobrevivência dos que ficaram desalojados é a solidariedade. “As pessoas estão muito solidárias, doando muitos alimentos”, conta a moradora Rosa Santos. 

Colaborou Caio Sartori

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