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Caso Henry: ‘Não tenho dúvidas de que Dr. Jairinho é culpado’, diz o pai

Em entrevista exclusiva a VEJA, o engenheiro Leniel Borel descreve os últimos momentos do filho e diz que a sua morte não será mais um caso impune

Por Sofia Cerqueira, Marina Lang Atualizado em 14 abr 2021, 16h15 - Publicado em 2 abr 2021, 11h24

Desde a morte de Henry, de 4 anos, na madrugada do dia 8 de março, engenheiro Leniel Borel, de 37, conta que tenta entender o que aconteceu com o seu filho. “Só quero a verdade. Não é porque alguém conhece esse ou aquele sicrano ou tem muito poder que pode ficar impune”, diz. O caso está sendo investigado pela 16ª DP (Barra da Tijuca), no Rio de Janeiro. Na versão dada à polícia por sua ex-mulher, a professora Monique Medeiros, de 33 anos, e o namorado, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho (Solidariedade), de 43, ela acordou com o barulho vindo do quarto em que o menino dormia e o encontrou caído, gelado e com os olhos revirando. O laudo pericial, que atesta laceração hepática e hemorragia interna provocados por ação contundente, no entanto, não condiz com a versão de acidente doméstico. Leniel revela que chegou a pensar em requerer que seu filho passasse por um exame de corpo delito diante das recorrentes reclamações do filho de que “tio Jairinho” o machucava. E que só desistiu porque nunca havia marcas no corpo do menino. O engenheiro narrou ainda que foi procurado por mulheres que relataram histórias monstruosas de agressões do vereador contra crianças de idades semelhantes à de Henry. E que não consegue entender como a ex-mulher continua defendendo o namorado. “Não sei se está envolvida diretamente ou se tem medo do poder que ele diz ter. Mas não vou deixar que o culpado da morte do meu filho fique impune”, completa.

 

O que aconteceu na madrugada em que seu filho morreu? É o que eu me pergunto a todo instante. Só tenho a certeza de que não é o que esse Dr. Jairinho e a Monique estão dizendo. Como uma criança saudável teria tantas lesões graves só de cair da cama? Para começar, suspeito de que aquela cena do quarto do casal, onde teria sido achado caído, foi armada. Meu filho tinha horror ao “tio Jairinho” e não ficaria na cama dele. Ele dormia no seu quarto, onde tinha uma caminha que acabei de comprar e foi entregue lá. Deixei o meu filho perfeito naquela noite e horas depois ele estava morto, inchado, num hospital. E ainda queriam que eu achasse isso completamente normal.

Naquele dia, o senhor deixou o Henry com a mãe por volta das 19h, após o fim de semana juntos. Não notou nada diferente? Como vinha acontecendo desde janeiro, quando a Monique foi morar com o Dr. Jairinho, que eu nem fazia ideia de quem fosse, ele chorava muito na hora de voltar para casa. Nessa noite em especial, chorou tanto e ficou tão nervoso que vomitou. Mas tínhamos passado um final de semana maravilhoso. Entre sábado e domingo, fomos à piscina no condomínio onde moro, ele brincou com amiguinhos vizinhos, levei a uma festinha infantil da filha de um amigo e ainda compramos brinquedos num shopping. Ele estava alegre, esperto, como sempre. Os problemas só começavam na hora de voltar para o apartamento onde a mãe estava vivendo.

Quando o senhor começou a perceber algo de estranho no comportamento de Henry? A partir de janeiro, exatamente o período em que a Monique foi morar com essa pessoa. Depois de oito anos de casamento, nós havíamos nos separado em outubro do ano passado. Naquele período inicial, quando ela e o Henry ficaram na casa dos avós maternos, meu filho agia normalmente. Tudo mudou assim que ela foi para o apartamento do namorado. Logo no primeiro fim de semana comigo, o Henry falou: “Papai, o tio me machuca. O tio me dá um abraço muito forte, mas a mamãe disse que é sonho”. Liguei imediatamente para a Monique, que alegou que isso era invenção da cabeça dele.

O que o senhor fez a partir daí? Naquele mesmo dia, quando fui devolver meu filho, disse a Monique que queria falar com aquele “tio”. Ela interfonou, o Dr. Jairinho desceu na portaria e disse a ele que meu filho estava reclamando de uns abraços muito fortes, que o machucavam. E Dr.Jairinho respondeu: “Mas o seu filho pede abraço”. Em seguida, disse a ele que não queria saber de abraço forte ou fraco. Ele reagiu bem, não foi hostil e acabou ali. Também falei para a Monique que o Henry estava reclamando que não queria ser deixado sozinho com aquele homem. Ela garantiu que isso não estava acontecendo.

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A situação melhorou depois dessa conversa com o Dr. Jairinho? Não. Toda vez que o Henry estava comigo e tinha que voltar para o apartamento deles chorava desesperadamente se recusando a sair do meu lado. Ele não queria ficar lá de jeito nenhum, tanto que passou a dormir duas ou três vezes por semana na casa dos avós maternos. Na quarta-feira anterior a sua morte, falei com meu filho pelo celularzinho que eu havia deixado com ele. Estava na casa dos avós, meio tristinho e repetindo que não queria ir para casa da mãe. Nesse dia soltou mais enfaticamente que o “tio Jairinho” machucava ele. A avó e a babá foram testemunhas. Não consigo entender porque não contaram isso à polícia. Só podem estar protegendo o casal.

Diante das constantes reclamações de Henry, o senhor não pensou em pedir a guarda de seu filho? Sei que não havia como prever que iria acontecer uma monstruosidade com meu filho, mas me culpo por não ter tomado uma medida mais drástica. Cheguei a falar algumas vezes com a Monique que se ele continuasse a reclamar que estava sendo machucado por esse tio, eu iria levá-lo para fazer um exame de corpo delito e recorrer à Justiça. A questão é que embora rejeitasse cada vez mais a casa da mãe e do Dr. Jairinho, meu filho não apresentava qualquer marca pelo corpo. Só naquele último fim de semana que ele tinha um machucado no nariz. Perguntei o que era, mas não soube dizer. Eu tinha receio de levantar uma suspeita tão séria, não se confirmar no exame e perder o direito de ver o Henry.

Em que momento vocês decidiram procurar uma psicóloga para acompanhar o Henry? Mais ou menos um mês antes da morte. Ele já havia ido a cinco sessões. A Monique também sabia que havia algo errado, tanto que buscamos essa ajuda. A questão é que a minha ex-mulher sempre alegava que a aversão a casa dela e as reclamações sobre o “tio Jairinho” eram consequências da nossa separação. Que ele estava sofrendo para se adaptar à nova casa, à rotina diferente, à mudança de escola, essas coisas.

O senhor acha que a sua ex-mulher está envolvida na morte de Henry? Vários fatos me fazem a acreditar que sim. Qual mãe não estaria desesperada e lutando para saber o que aconteceu com o filho? A todo momento, desde aquela madrugada, ela só demonstra querer proteger o Dr. Jairinho. Não sei se está envolvida diretamente na morte ou tem medo do poder que diz ter. Para mim a luz amarela acendeu quando eles disseram que o Dr. Jairinho havia ido dirigindo para hospital, naquela madrugada, enquanto ela fazia respiração boca-a-boca. Como assim, ele não é o médico? Nunca soube em dez anos que convivi com essa mulher que ela tivesse qualquer experiência em primeiros socorros. Comecei a estranhar aí. Depois que meu filho morreu, a Monique também fez pressão para eu acelerar o enterro.

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Como assim? Fui para a delegacia e para o IML resolver as questões burocráticas. A Monique ficou ligando e mandando mensagens para eu agilizar tudo, que queria que ele fosse enterrado rápido e com caixão fechado. Expliquei que de jeito nenhum, que meu filho teria velório e que eu tinha o direito de dar o último beijo nele. A minha ficha caiu mesmo que quando o policial no IML me entregou o laudo, em que dizia que meu filho tinha tido laceração hepática e hemorragia interna provocados por ação contundente. Até ali eu estava me culpando, achando que ele tivesse morrido por alguma má formação ou tido um ataque cardíaco. E que eu tivesse sido negligente quando ele chorou desesperado para não ir para casa da mãe. Só depois soube, pelo depoimento dos médicos à polícia, que o Dr. Jairinho fez de tudo para que meu filho não passasse por necropsia. Por que será?

O senhor não perguntou a Monique e Dr. Jairinho o que tinha acontecido com seu filho? Sim, perguntei muito. Ele me falou que acordou com o meu filho fazendo um barulho e que o encontrou com dificuldade para respirar e com os olhos revirando. Não falaram em queda alguma ali, tanto que os médicos que tentaram reanimá-lo não tinham noção do que havia acontecido. Já na delegacia, a Monique e o namorado mudaram a versão. Disseram que o Dr. Jairinho havia tomado remédios para dormir e que foi ela quem acordou com o barulho e viu meu filho primeiro.

O senhor acredita ele seja o responsável pela morte de seu filho? Não tenho dúvidas de que Dr. Jairinho é culpado. Naquela noite no hospital, ele ficava junto aos médicos que tentaram salvar o Henry o tempo todo. A princípio, eu achava que era porque também era médico, mas agora percebo que era para acobertar o que realmente aconteceu. Ele é muito frio. Assim que foi decretado o óbito do meu filho, Dr. Jairinho chegou perto de mim e, na frente de uma pessoa da igreja que frequento e de uma amiga minha, disse: “Vamos virar essa página, vida que segue. Faz outro filho”.

É verdade que após a morte de Henry o senhor foi procurado por mulheres que relataram outras agressões a crianças feitas por Dr. Jairinho? Sim. Essa pessoa não pode ser normal. Pelo o que chegou ao meu conhecimento, ele age sempre da mesma forma. Me relataram histórias horrorosas, sempre de agressões a meninos ou meninas com idades parecidas com a do meu filho. Também chegaram até a mim suspeitas de que ele dopa as namoradas para agredir seus filhos. Uma das mulheres já descreveu o que a filha sofreu à polícia. Tenho a convicção que mais casos ainda vão aparecer. Meu filho era um anjo. Só consigo me consolar sabendo que ele talvez tenha morrido para mostrar a existência de um monstro.

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O senhor tem medo de represálias? Nenhuma. Já perdi o que era mais importante para mim nessa vida. Estou dando a minha cara a tapa para o Brasil inteiro, mas não posso negar que algumas coisas suspeitas vêm acontecendo. Poucos dias após a morte do meu filho, um homem esteve no meu condomínio perguntando por mim e fazendo perguntas estranhas. O carro que eu estava usando também amanheceu um dia riscado com um grande palavrão.

O senhor acredita que será feita Justiça? Hoje eu vivo para isso. Já veio à público que o Dr. Jairinho ligou para o governador do Rio poucas horas após a morte do meu filho, contou sua versão e perguntou o que seria feito depois. Se fosse o contrário, com tudo o que já se sabe sobre o caso, eu estaria preso há muito tempo. Não é porque alguém conhece esse ou aquele sicrano ou tem muito poder que pode ficar impune. Meu filho não morreu em vão. Não vou deixar que seja mais um caso impune. Só quero a verdade.

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