Castro diz que aguarda encontro com ministro: ‘Sozinhos não podemos vencer essa guerra’
Governador do Rio afirmou que operação foi um 'sucesso' e disse considerar vítimas apenas policiais mortos; número de óbitos já passa de 130
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), classificou nesta quarta-feira, 29, a operação nos complexos da Penha e do Alemão como “um sucesso” e lamentou a morte de quatro policiais — dois agentes da Polícia Militar e outros dois da Polícia Civil. Para o mandatário, foram eles as únicas vítimas da incursão, cuja número de óbitos já ultrapassou os 130, a mais letal da capital fluminense. Castro ponderou, contudo, que o estado sozinho “não tem condições de vencer essa guerra” contra o crime organizado. E disse que aguarda contato do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para uma reunião nas próximas horas, depois de criticar uma falta de cooperação do governo federal.
“Queria me solidarizar com as famílias dos nossos quatro guerreiros que ontem deram a vida para libertar a população. Aquelas foram as verdadeiras quatro vítimas que tivemos ontem. De vítimas ontem lá, só tivemos os policiais. A gente fez a nossa operação e foi um sucesso. Tirando a morte dos policiais, o resto da operação foi um sucesso. E a gente não fica aqui chorando, a gente fica trabalhando”, disse o governador do Rio.
Até a noite de terça-feira, 28, a conta de mortes chegava a 58 pessoas, incluindo os quatro agentes mencionados por Castro. Ao longo da madrugada, no entanto, moradores dos complexos da Penha e do Alemão encontraram ao menos novos 74 corpos em uma região de mata, onde teriam acontecido a maior parte dos confrontos com a polícia. Com isso, a conta chegaria a 132 óbitos decorrentes da operação. Novas perícias feitas pelo Instituto Médico Legal, contudo, confirmarão se os novos corpos achados têm relação com a incursão.
O governador do Rio disse ainda não ter “medo nenhum de fiscalização, de responder ou de falar o que aconteceu”. “Ontem foi uma operação de cumprimento de mandado judicial, mais de um ano de investigação, mais de 60 dias de planejamento que incluiu o Ministério Público. Temos muita tranquilidade de defendermos tudo o que foi feito ontem e de que caso alguém erre, também ficar à disposição da lei. Qualquer um que tenha saído dos ditames da lei, tem a lei como seu grande guarda-chuva e arcabouço”, completou.
Reunião com Ministério da Justiça
Na coletiva desta quarta, Castro também voltou a tratar da relação com o governo federal no campo da Segurança Pública e, mais uma vez, pediu reforços no combate ao crime organizado.
“Nós temos a convicção de que temos condições totais de vencer batalhas, mas sozinhos não temos condições de vencer essa guerra. Essa guerra é uma guerra contra um estado paralelo, que a cada dia vem se mostrando mais forte, com poder bélico maior, com mais poderio financeiro e, sobretudo, aqui no Rio de Janeiro, usando estes poderes para fazer quase uma ocupação territorial”, destacou.
Questionado na terça-feira sobre a interlocução com o governo federal, o governador do Rio reclamou por não ter seus pedidos atendidos em outras oportunidades, quando quis o reforço de blindados das forças nacionais para operações em solo carioca. Mas ponderou não ter feito qualquer requisição para a ação da vez. A declaração rendeu reações do Ministério da Justiça, que disse não ter recebido solicitações recentes e se colocou à disposição para dialogar com o governador. Castro, então, disse que seu gabinete recebeu o contato da equipe de Lewandowski, com o recado de que os dois poderiam se encontrar nas próximas horas.
“Ontem, a única tratativa minha com o ministro Rui Costa foi um pedido de transferências de presos para os presídios federais. Qualquer coisa diferente disso, nós estamos esperando uma sinalização deles hoje. À noite, o gabinete do ministro Lewandowski fez contato com o meu gabinete dizendo que ele tinha interesse de vir hoje aqui no Rio de Janeiro e que teria uma reunião de manhã com o presidente. Depois, ele diria a hora que viria aqui. Nós estamos esperando esse contato. Provavelmente devem estar em reunião ainda para não terem ligado ainda. Totalmente natural”, afirmou.
Ao abordar o atrito causado com o governo federal, Castro disse que não tratará Segurança Pública com “politicagem”. “Todos os meus secretários estão terminantemente proibidos de dar nenhuma declaração que não seja pró-segurança pública. Não bateremos boca com ninguém e espero que todas as autoridades entendam que esse é o momento de união. E sinceramente, nós que temos compromisso público, esperamos que essa oportunidade não vire um campo de batalha e não vire politicagem”, completou.
O governador também destacou que “nunca pediu GLO” — sigla para “garantia da lei e da ordem”, uma espécie de intervenção federal na segurança dos estados com o policiamento realizado pelas Forças Armadas Brasileiras de forma provisória até o restabelecimento da normalidade. Segundo Castro, houve apenas um “pedido de ajuda” com foco no envio de blindados federais.
“Não tenho nenhuma condição, nem pretendo, de dizer ao governo federal qual é o instrumento que ele vai utilizar para ajudar. Isso é um problema deles. Não cabe a governador algum pedir GLO. O governador tem que pedir ajuda, tem que pedir gente, tem que pedir infraestrutura, tem que pedir recursos. Eu deixei claro que, naquelas operações, a nossa ideia era o blindado. E vou explicar o porquê. O blindado da Marinha tem capacidade de passar por cima das barricadas. Aquilo era fundamental para que o policial, entrando na operação, não fosse alvo de uma situação privilegiada dos traficantes. E nós somos proibidos de comprar esse tipo de blindado, porque eles são exclusivos de forças nacionais. Mas não vamos ficar chorando. Ah, não ajudaram, não ajudaram. Se não dá para contar com apoio, a gente fez a nossa operação”, comentou Castro.
Vale lembrar que o governador do Rio se manifestou contrário à PEC da Segurança Pública, projeto enviado pelo governo federal ao Congresso e que previa maior ação das forças federais nos estados. Na ocasião, Castro disse que a medida tiraria a autonomia dos estados.
Auxílio de governadores
O governador do Rio disse ainda ter recebido o contato de mandatários de outros estados, que ofereceram ajuda e o parabenizaram pela operação. Segundo Castro, as conversas foram “de solidariedade, de parabenização e de percepção que esse é um problema que precisa do Rio de Janeiro para solucionar”. Os contatos teriam vindo dos chefes dos Executivos de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); Goiás, Ronaldo Caiado (União); Santa Catarina, Jorginho Mello (PL); Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (MDB); Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB); e Pará, Helder Barnalho (MDB).
“Os governadores têm muito a ideia de que grande parte das lideranças criminosas estão aqui no Rio de Janeiro e que a solução dos seus estados também passa pelo Rio de Janeiro. Recebi ligação de diversos governadores se solidarizando, parabenizando e reconhecendo a coragem do Rio de Janeiro de dar esse pontapé inicial da solução desse problema no combate dessa guerra. E eu agradeço demais os meus colegas. Com certeza, a ajuda que eles propõem será bem-vinda”, destacou.
Castro frisou, porém, que tal auxílio será definido por sua equipe de Segurança Pública. “Não haverá politicagem em sair mandando policial para cá. Não será assim. Caso a gente entenda que precisa de ajuda, ela será definida pelos secretários de Segurança Pública de forma técnica, ordeira e baseada na necessidade. E não simplesmente na vontade de encher isso aqui de polícia, que não é isso definitivamente o que a gente precisa”, concluiu.







