Há quatro anos, quando a vitória apertada da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sobre o senador Aécio Neves (PSDB) acendeu o sinal da polarização que marca o pleito de 2018, a 188ª Zona Eleitoral do Rio, na Zona Norte da cidade, foi o retrato da divisão que se desenhava no país. Enquanto em bairros como Copacabana, na Zona Sul, e Campo Grande, na Zona Oeste, foram marcados pela escolha majoritária de um dos candidatos, na região de Vila da Penha, Vila Cosmos e Vicente de Carvalho a petista venceu por apenas 55 votos. VEJA percorreu os pontos de votação e constatou que, ao contrário do que se esperaria em uma corrida presidencial marcada por extremismos, o clima na área é de tranquilidade. Não há bandeiras nem carros de som nas ruas, e os eleitores com camisetas e adesivos de candidatos são raros.
Nos arredores da escola Pio XII, um dos principais pontos de votação da Vila Cosmos, havia “santinhos” dos candidatos
Cabo Daciolo (Patriotas),
Ciro Gomes (PDT) e
Jair Bolsonaro (PSL), algumas vezes retratado ao lado do senador Romário (Podemos), candidato ao governo do estado. O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) também foi visto com frequência nos papeizinhos. Algumas famílias trajavam verde e amarelo e conversavam sobre Bolsonaro. A professora Márcia Bastos, nascida em Vila da Penha, era uma das únicas com a camiseta “Ele Não”. “Não voto no Bolsonaro e nem no PT de jeito nenhum. Fui de Ciro porque é o mais viável”, explicou a moradora, que diz que não comprou briga com ninguém por causa de política. “A Vila da Penha é uma área de transição. Há pessoas com boa condição econômica, mas muita gente pobre. Acredito que é a causa da divisão”, disse a VEJA.
Já no Colégio Miguel Couto, em Vila da Penha, o engenheiro José Carlos Mendes trajava uma camiseta vermelha com os dizeres “Lula livre” e afirmou não ter sido abordado por nenhum “verde-amarelo”. À reportagem, confirmou que o clima no bairro é sempre de tranquilidade. “Nós somos suburbanos. Alguns com cabeça de elite, outros com cabeça de quem pega ônibus todo dia”, comentou. Ao lado de Mendes, o militar da reserva Maurício Soares, eleitor de Ciro Gomes, concorda com a leitura. “O povo aqui pensa muito diferente e por isso se respeita muito, está aberto ao diálogo”, explicou.
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Na Vila da Penha, a mesma tranquilidade. Nos clubes e escolas onde houve votação, mesários e seguranças confirmaram a ausência de manifestações e até mesmo de eleitores com adesivos. Na fila da votação, a faturista hospitalar Zaira dos Santos, cumprimentava vizinhos e abraçava amigos que, segundo ela, votam em candidatos diferentes. “Ali na urna sou eu e ela. Não brigo com ninguém. Se brigar, no final de ano eu vou pra onde? Pra casa do meu candidato?”, brincou a moradora.