Como Elon Musk impôs uma sombra incômoda na política brasileira em 2024
A postura do bilionário leva a uma discussão relevante e compulsória sobre os limites das redes sociais, ágora de agressividade e imposturas

Um personagem atravessou o Brasil em 2024 como sombra incômoda e irresponsável: o bilionário Elon Musk. No início do ano, arrogante a não mais poder, ele descumpriu uma série de decisões assinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em torno da rede social X. Musk ameaçou reativar perfis de usuários bloqueados por ordem judicial em 2022, ano da eleição a presidente, banhada de fake news, e em 2023, quando houve os atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília. Não bastasse a afronta, o empresário atacou Moraes, acusando-o de censura e de ameaçar prender funcionários da plataforma em território nacional.
Pagou para ver, e perdeu. No início de agosto, Musk recebeu ordem para nomear um representante legal da X no Brasil, conforme exigido por lei. Em seguida, subindo o tom, fechou o escritório brasileiro da companhia e demitiu cerca de quarenta funcionários. Moraes reagiu no ato e ordenou a derrubada “imediata, completa e integral” da ferramenta eletrônica. O magistrado impôs, na ocasião, multa de 50 000 reais por dia a toda pessoa ou empresa que usasse qualquer subterfúgio (como as chamadas VPNs) para acessá-la. Após 38 dias de paralisação e muita tensão, Musk piscou. Avisou que pagaria, sim, as multas. E, então, a Procuradoria-Geral da República manifestou-se a favor da liberação das postagens.
A postura de Musk, nomeado por Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, como um dos secretários do novo Departamento de Eficiência Governamental, impõe uma discussão relevante e compulsória sobre os limites das redes sociais, ágora de agressividade e imposturas. É preciso alguma legislação que barre a desonestidade, sem que represente qualquer tipo de cala-boca à liberdade de expressão, ao contrário. Nada, contudo, apesar da estultice antidemocrática de Musk, autorizaria a provocação da primeira-dama Janja da Silva, que durante um dos eventos do G20, no Rio, em novembro, soltou diatribe inaceitável: “F… you, Elon Musk”. Era o que ele queria, virar vítima. E, claro, retrucou a seu modo. Lá no X, anotou como resposta: “Eles vão perder a próxima eleição”.
Publicado em VEJA de 20 de dezembro de 2024, edição nº 2924