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Como Frei Gilson virou pivô de batalha política entre direita e esquerda nas redes sociais

Fenômeno na internet com orações, cantos e pregações conservadoras, ele mostrou que tem influência para mobilizar muita gente no debate ideológico

Por Bruno Caniato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 mar 2025, 08h00

No último dia 6, dentro do período da Quaresma, um dos momentos mais sagrados para o catolicismo, nada menos que 1,1 milhão de fiéis acordaram às 4h20 para rezar o Terço do Rosário pelo YouTube com Frei Gilson, um religioso de 38 anos da Ordem dos Carmelitas, comunidade surgida no século XI e que se guia por uma vida de oração, penitência e silêncio. Silêncio, no entanto, foi tudo o que não houve. O oratório virtual furou a bolha e atraiu a atenção de perfis de esquerda nas redes, que resgataram posicionamentos conservadores do religioso e tentaram associá-lo ao bolsonarismo. A ofensiva desencadeou uma massiva onda de apoio da direita ao sacerdote, que incluiu o ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador Tarcísio de Freitas e deputados influentes como Nikolas Ferreira (PL-MG). Isso transformou o frei em pivô de um novo capítulo na guerra da polarização política no país.

A ofensiva esquerdista nasceu de perfis quase anônimos, ganhou tração com a reação da direita e pode ser um verdadeiro tiro no pé em um momento em que o governo Lula vê a sua popularidade definhar nas pesquisas. O desgaste se dá principalmente porque o contra-ataque da direita martelou quase que exclusivamente nas redes o bordão de que a esquerda não tolera quem acredita em Deus. “O motivo é um só: odeiam Cristo”, postou Nikolas Ferreira, por exemplo.

Com notórias dificuldades em cativar o eleitor religioso, o presidente viu seus apoiadores comprarem briga com um segmento em que ele tem alguma aceitação. Pesquisa de fevereiro da AtlasIntel/Bloomberg indica que Lula mantém maioria de 51,2% de aprovação pelos católicos, mas com recuo de mais de 4 pontos percentuais desde outubro — a rejeição foi de 42% para 48%. Já entre os evangélicos, o seu governo tem 77,5% de reprovação. “Lula ainda se beneficia de uma tendência de repúdio dos católicos a Bolsonaro, mas a vantagem não é garantida contra nomes da direita com maior aceitação por esse grupo”, avalia Yuri Sanches, diretor da AtlasIntel. Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV, a briga tornou-se uma “armadilha”. “Não é inteligente ter líderes religiosos como inimigos”, diz. O raciocínio foi sintetizado pelo deputado André Janones (Avante-­MG), aliado de Lula: “Não basta ser rejeitado pelos evangélicos, agora vamos fazer uma cruzada contra os católicos também?”, ironizou.

Frei Gilson não tem uma relação direta com o bolsonarismo, mas a sua pregação encontra eco nesse espectro político. Nos sermões, o carmelita difunde posições notoriamente caras aos conservadores, como a defesa da “família tradicional” e o repúdio ao comunismo e ao feminismo — no trecho que mais gerou revolta, ele critica “o desejo de poder das mulheres” e defende o papel feminino de “auxiliar do homem”. Ele não se associa diretamente a políticos, mas é figura frequente em vídeos do canal de direita Brasil Paralelo e foi citado no inquérito da PF sobre a tentativa de golpe. Há uma mensagem de WhatsApp em que o padre José Eduardo de Oliveira, ligado à direita, pede que ele divulgue a “oração do golpe”, que conclama militares a ter “coragem de salvar o Brasil” — não se sabe se o carmelita respondeu. VEJA procurou o frei, mas sua assessoria informou que ele não iria se pronunciar por ora e que aguardava “uma orientação do Espírito Santo” para definir o que fazer.

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arte Frei Gilson

Expoente de uma nova geração de “padres influencers”, que movimentam milhões de seguidores na internet com orações, mensagens positivas e cânticos, Frei Gilson mostrou que tem influência para mobilizar muita gente no debate ideológico. Isso, claro, não passa despercebido pela classe política, que nos últimos anos tem instrumentalizado a religião para ganhos eleitorais nem sempre compatíveis com o ideário religioso. Foi o que fez a direita ao perceber o passo em falso dado pela esquerda. Em que pese a influência da fé sobre o pensamento de boa parte dos brasileiros, no entanto, o país é um Estado laico desde o advento da República, em 1889. É bom que assim permaneça, com separação entre Igreja e Estado e, por extensão, entre fé e política. A guerra em torno das rezas do frei não tem, como se viu na batalha das redes, nada de santa.

Publicado em VEJA de 14 de março de 2025, edição nº 2935

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