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Copom: Mercado aposta em tom hawkish, mas decisão divide opiniões

Economistas preveem tom mais duro do BC, mas divergem entre manutenção da Selic em 14,75% ou elevação em 0,25 ponto percentual

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 jun 2025, 08h46 - Publicado em 16 jun 2025, 16h12

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) volta a se reunir nesta terça e quarta-feira, 17 e 18, para decidir os rumos da taxa básica de juros no Brasil. O encontro ocorre em um momento que os sinais da economia brasileira são contraditórios e o cenário internacional adiciona volatilidade ao jogo da política monetária.

Embora a maioria dos analistas projete a manutenção da Selic no atual patamar de 14,75% ao ano, o tom do comunicado final poderá ser mais duro – ou hawkish, no jargão do mercado – do que o registrado nas últimas reuniões.

O consenso entre os economistas é que o ciclo de aperto iniciado para conter a inflação chegou ao fim. Mas isso não significa, necessariamente, o começo da flexibilização. A cautela voltou ao centro da mesa. “Avaliamos que o balanço de riscos para a inflação deverá seguir equilibrado, com variância maior que a usual. Nesse contexto, esperamos que o Comitê reforce o compromisso com a convergência da inflação à meta”, diz Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú. A frase captura bem o espírito que deve reger a decisão: estabilidade nos juros, mas vigilância elevada.

O cenário doméstico não facilita. O PIB do primeiro trimestre veio abaixo do esperado, e os dados preliminares do segundo trimestre indicam desaceleração. Ainda assim, o mercado de trabalho segue resiliente, com pressões salariais perceptíveis no setor de serviços. A inflação acumulada em 12 meses, embora tenha recuado para 5,32% em maio, permanece acima da meta – e seus núcleos, que excluem componentes mais voláteis, ainda estão pressionados.

“Esse comportamento da inflação é positivo, mas ainda insuficiente para justificar cortes de juros”, diz Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos. Ele espera que o BC adote uma “postura cautelosa” e reforce o caráter “dependente de dados” da política monetária, observando atentamente a evolução de variáveis como o quadro fiscal, o nível de atividade e os núcleos inflacionários.

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Essa prudência se vê também nas palavras recentes de Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central. Em tom mais hawkish, Galípolo alertou que, diante da resiliência da economia e da desancoragem das expectativas para os próximos anos – como revelam as projeções do Boletim Focus para 2026, ainda em 4,5%, bem acima da meta de 3% -, será necessário manter os juros num nível restritivo “por um período bastante prolongado”.

Um mercado dividido

Até recentemente, os contratos futuros de juros embutiam uma probabilidade majoritária de manutenção da taxa. Mas as apostas mudaram. De acordo com as opções de Copom negociadas na B3, a chance de uma alta de 0,25 ponto percentual subiu de 14% em 27 de maio para 62,5% em 12 de junho, enquanto a probabilidade de manutenção caiu para 36%. Essa reprecificação reflete tanto os discursos mais duros de Galípolo quanto os riscos crescentes no cenário internacional.

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“Nossa expectativa é que o BC eleve a taxa Selic em 0,25 ponto percentual. Caso o comitê opte por manter os juros inalterados, uma alternativa será reforçar a sinalização de um cenário de juros elevados por um período mais prolongado do que o inicialmente previsto”, avalia Beto Saadia, economista e diretor da Nomos. Segundo ele, a combinação de atividade econômica aquecida, estímulos fiscais em ano pré-eleitoral e tensões geopolíticas externas – com impactos sobre o petróleo e o câmbio – formam uma tempestade inflacionária em potencial. “Esses fatores contribuem para a desancoragem das expectativas de inflação, refletida na projeção do Boletim Focus para 2026, que permanece em 4,5%, ainda significativamente acima da meta”, diz.

A condução da política monetária brasileira está, mais uma vez, diante de um dilema: fazer o bastante para manter a credibilidade, mas não tanto que comprometa uma economia que já dá sinais de perda de fôlego. É um desafio particularmente sensível quando se observa o contexto internacional. A esperada desaceleração da economia americana ainda não se concretizou, e a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos pode pressionar o real, dificultando o trabalho do BC brasileiro.

“Para preservar a confiança na política monetária e ancorar as expectativas, o Comitê precisa manter uma postura hawkish e, em nossa visão, promover um novo aumento da Selic”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research

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Embora o IPCA de maio tenha desacelerado, a batalha contra a alta de preços está longe de ser dada como ganha, alerta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. “As medidas subjacentes de inflação ainda operam acima do nível compatível com a meta, e o hiato do produto positivo impõe cautela adicional”, afirma. A Suno projeta que a Selic alcance uma taxa terminal de 15% ao ano, com o início de eventuais cortes apenas em 2026.

A reunião do Copom desta semana não deve surpreender na decisão – tudo indica que os juros permanecerão em 14,75%. Mas o que o comitê disser entre as linhas será decisivo para ancorar expectativas e manter a autoridade da política monetária intacta.

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