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Coronavírus leva prefeitura de São Paulo a dobrar número de coveiros

No maior cemitério da cidade, o da Vila Formosa, número de sepultamentos aumentou em mais de 40%

Por Mariana Zylberkan Atualizado em 3 abr 2020, 16h06 - Publicado em 3 abr 2020, 15h13
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  • A epidemia do novo coronavírus aumentou o número de enterros realizado na cidade de São Paulo e fez com que a prefeitura dobrasse o contingente de agentes funerários de forma emergencial. Nos últimos dois dias, 220 funcionários terceirizados passaram a atuar nos cemitérios, número que representa o dobro do efetivo atual.

    Epicentro da epidemia no Brasil, a cidade concentra o maior número de mortos, 188, em decorrência da doença e também grande parte da quantidade de infectados, 3.506, segundo dados do Ministério da Saúde.

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    Diante do aumento progressivo de mortos, a situação causada pelo novo coronavírus tem evidenciado a falta de estrutura e de funcionários nos cemitérios em São Paulo. Nos últimos três anos houve redução no quadro de profissionais. O problema coincidiu com os projetos da prefeitura em conceder os 22 cemitérios da metrópole à iniciativa privada por meio de concessão pública. Projetado em 2017 por João Doria, na época em que ele comandava a cidade, o plano de privatização ainda não saiu do papel.

    De acordo com o Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), o efetivo de funcionários foi cortado pela metade desde o início de 2018, daí a necessidade dos contratos emergenciais. “Trabalhamos no limite e agora temos que treinar às pressas os terceirizados que estão chegando”, diz o dirigente do Sindsep Manoel Norberto, que trabalha há 20 anos como agente sepultador.

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    Ele conta que os sepultamentos das vítimas de covid-19 têm sido direcionados principalmente a dois cemitérios na cidade, Vila Formosa, na zona leste, e São Luis, na zona sul. No Cemitério da Vila Formosa, foi deflagrado o plano de emergência, que inclui aumento no ritmo de abertura de novas covas. Desde quarta-feira, 1º, os funcionários têm cavado 100 novas sepulturas por dia, o dobro do ritmo de trabalho em relação ao cenário anterior à pandemia. Na quinta-feira, 2, foram realizados 57 enterros na Vila Formosa, 43% a mais do que o normal. Funcionários temem uma sobrecarga ainda maior de trabalho nos próximos meses. Durante o inverno já há historicamente um aumento de 40% dos sepultamentos na cidade por mortes causadas por problemas respiratórios.

    Diante dos atrasos no processamento de exames de Covid-19 em São Paulo, qualquer morte causada por insuficiência respiratória, um dos sintomas da covid-19, é tratada como potencialmente contagiosa, o que obriga os funcionários a usar equipamentos de proteção individual a cada enterro. Os funcionários reclamam de falta de roupas apropriadas, que devem ser descartadas a cada enterro, além de álcool em gel, luvas e máscaras. Muitas vezes, os agentes funerários chegaram a se recusar a realizar sepultamentos por falta dos equipamentos se segurança. Procurada por VEJA, a prefeitura de São Paulo afirmou que tem abastecido as equipes com os itens de proteção e que aguarda a chegada de nova remessa de macacões especiais para os agentes funerários.

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    Outro gargalo que tem se imposto na administração municipal é a falta de equipamentos necessários para fazer a chamada necrópsia minimamente invasiva nas vítimas de coronavírus. Por ser uma doença altamente contagiosa, a covid-19 é tratada como extremo risco nas unidades do Instituto Médico Legal, e qualquer manipulação dos corpos por parte dos legistas é evitada para não incorrer em novas contaminações. Por isso, os enterros de vítimas da doença estão sendo feito sem a conclusão do diagnóstico por meio de exames necroscópicos.

    O Instituto Adolfo Lutz, laboratório de referência em São Paulo para realizar os exames de coronavírus, está com uma fila de mais de 26.000 testes para serem finalizados, o que tem feito parentes de vítimas que morreram com sintomas da doença esperar mais de 20 dias pela confirmação da causa da morte. Diante disso, os médicos, principalmente na rede pública, têm se baseado em diagnósticos por imagem, como raio-x e tomografia, para atestar a causa da morte como suspeita da covid-19. Por ser um vírus que ataca o sistema pulmonar, a doença é caracterizada por lesões no órgão.

    O Brasil figura entre os países que ostentam o menor número de pacientes testados pelo coronavírus. De acordo com a plataforma de dados global Our World in Data, financiada pelo empresário George Soros, o país figura apenas em 15º no ranking de países com maior número de testes realizados, atrás da Colômbia, Irã e África do Sul. Em primeiro lugar aparece os Emirados Árabes com 12.000 testes para cada um milhão de pessoas. No Brasil, o número está em 13,7 testes para cada um milhão de pessoas. “Vivemos um verdadeiro apagão de diagnósticos”, diz o médico e professor de Medicina da Família da Unicamp Pedro Tourinho. “Isso é reflexo da demora do Ministério da Saúde em comprar insumos e equipamentos para realizar os exames. Os casos começaram a chegar ao Brasil cerca de 20 dias depois do que na Europa, houve tempo para planejamento, o que não foi feito”, completa. Na quinta-feira, 2, o Ministério da Saúde anunciou a distribuição de 500.000 testes rápidos. Os kits, porém, serão direcionados a agentes de saúde e de segurança que apresentam sintomas da doença.

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