Dos 11,3 milhões de testes para coronavírus comprados pelo Ministério da Saúde e enviados aos estados, apenas 1,2 milhão foi efetivamente processado e os resultados integrados às estatísticas oficiais, segundo dados do próprio órgão. Desde o início da pandemia, o ministério gastou R$ 173,5 milhões para distribuir aos estados 3,8 milhões de testes RT-PCR (feitos com a coleta de material no nariz ou garganta por meio de cotonetes). Outros 7,5 milhões de testes rápidos (sorológicos) foram repassados às unidades da federação. Ao todo, o ministério comprou 24,5 milhões de testes ao valor de R$ 1,3 bilhão.
Entre os estados que menos processaram os testes RT-PCR recebidos do governo federal, estão Roraima (13%), Pará (14,5%), Rio de Janeiro (17%), Paraná (17%) e Goiás (23,6%). Na outra ponta, as unidades que mais utilizaram os kits recebidos foram Mato Grosso (71,4%), São Paulo (67,2%), Espírito Santo (63,3%), Pernambuco (55,9%) e Amapá (55,5%).
O ministério informou que armazena parte dos testes por questão logística, “pois os estados não possuem capacidade para armazenar uma grande quantidade de uma vez só”. A pasta explicou que os kits necessitam de condições específicas de armazenamento, como nível de temperatura correto. O ministério passa por crise institucional e pode trocar de comando pela terceira vez durante o pico da pandemia do país. Eduardo Pazuello é interino desde 15 de maio.
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Clique e AssineDe acordo com servidores do ministério, alguns estados têm tido dificuldades em repassar os kits de exames aos municípios. O material é importado e chega ao Brasil pelo Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, antes de ser armazenado em um galpão de onde é distribuído às capitais. Uma vez desembarcados nas capitais, cabe à administração local repassar os kits às prefeituras, o que exige um trabalho de logística nem sempre disponível ainda mais em estados mais pobres. Um agravante é o método de coleta do RT-PCR, que exige refrigeração das amostras até serem processadas no laboratório.
Diante desse cenário, a rede privada de análises clínicas tem figurado quase em pé de igualdade com o setor público em relação ao nível de testagem de casos de coronavírus. De acordo com o Ministério da Saúde, os exames processados em laboratórios particulares representam 42,5% do total notificado ao Sistema Único de Saúde desde o início da pandemia.
Especialistas são categóricos em ressaltar a necessidade da testagem para controlar a epidemia no país que acumula 2,1 milhões de exames RT-PCR e 2,4 milhões de testes rápidos (sorológicos) realizados até o momento, mais de três meses após a confirmação dos primeiros casos.
Além do baixo índice de testagem, outro fator que atrapalha a análise epidemiológica do coronavírus no país é a falta de acuidade dos exames disponíveis. De acordo com o médico infectologista do Instituto Emílio Ribas Jean Gorinchteyn, os chamados testes rápidos, que correspondem à metade dos exames processados no Brasil, têm de 40% a 50% de falsos resultados. Em relação ao RT-PCR, que identifica o DNA do vírus e é feito na fase aguda da doença, tem até 30% de margem de erro. “Os testes não trazem à luz certas respostas que gostaríamos de ter e pode ser que estejamos confundindo os resultados”, diz.
Farmácias
Mesmo assim, os testes rápidos têm tido alta procura no setor farmacêutico, que foi liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a realizá-los sem a necessidade do pedido médico, como oco-re nos hospitais privados. De acordo com a Associação Brasileira de Redes de Farmácia e Drogarias (Abrafarma), que representa 45% do setor no país, foram feitos cerca de 200.000 testes rápidos em farmácias , por volta de 50.000 por semana. De acordo com o presidente da entidade, Sergio Mena Barreto, o número movimenta cerca de R$ 7 milhões por semana. “É um valor não muito significativo em relação aos R$ 56 bilhões que o setor fatura por ano”, diz.