O procurador da República Deltan Dallagnol, encarregado da operação Lava Jato no Ministério Público Federal, disse nesta quinta-feira que a delação de ex-executivos da Odebrecht dobrará o número de pessoas sob investigação. “A perspetiva é que a operação dobre de tamanho. A colaboração da Odebrecht e de vários de seus funcionários são fatos trazidos que podem continuar em boa parte em Curitiba, mas muito provavelmente vão ser espalhados pelo Brasil criando uma espécie de filhos da operação”, disse, em entrevista.
Deltan Dallagnol, que dirige a equipe que revelou o esquema de corrupção e desvio de dinheiro na Petrobras, declarou que os investigadores ficaram espantados com a sofisticação do esquema montado pela Odebrecht no chamado “departamento de suborno”. “Ficamos surpresos porque uma coisa é você saber a partir de pesquisas internacionais, estudos que a corrupção no Brasil é enraizada, sistêmica e volumosa; mas outra coisa é você ver o monstro em carne e osso com teus olhos”.
Considerada a maior investigação de corrupção da história do Brasil, a “Lava Jato” já denunciou até o momento 259 pessoas, incluindo políticos e dirigentes das maiores empreiteiras do país. Dezenas de empresários e políticos já foram condenados à prisão, entre eles o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, que aderiu à delação premiada.
A investigação poderá dar agora um salto qualitativo, com as “delações premiadas” de 77 executivos da Odebrecht. “Estamos investigando milhares de crimes bilionários praticados por centenas de pessoas”, declarou Dallagnol. Os estilhaços do escândalo da Odebrecht atingiram o próprio presidente Michel Temer, após o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da construtora Cláudio Melo Filho revelar que em 2014 o grupo doou 10 milhões de reais para campanhas do PMDB. O presidente nega as acusações.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já enfrenta cinco processos na justiça, foi apontado por Dallagnol como o cérebro por trás do megaesquema de corrupção na Petrobras, em uma apresentação pública que lhe valeu muitas críticas. Mas no final, o juiz Sérgio Moro “acolheu a denúncia”, recordou o procurador.
Morte e dúvidas — A Lava Jato foi sacudida na semana passada pela morte do ministro Teori Zavaski, relator do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) e encarregado de homologar as delações premiadas dos 77 executivos da Odebrecht. O ministro morreu no dia 19 de janeiro passado, na queda de um avião em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, que matou ainda outras quatro pessoas.
O Supremo discute no momento quem assumirá a relatoria da Lava Jato no lugar de Teori Zavaski. “O juiz da Lava Jato pode determinar os rumos de toda a operação. A mentalidade dele, sua forma de pensar, sua visão do mundo e do direito pode determinar o sucesso ou o naufrágio da operação. Especialmente, o juiz que é o relator do caso no STF”, concluiu Dallagnol.
(Com agência France-Presse)