Datas: Bira Presidente, Violeta Barrios de Chamorro e Hélio Delmiro
As despedidas que marcaram a semana

Rua Uranos, 1326, no bairro de Olaria, no Rio de Janeiro. Nascia ali, no início dos anos 1960, em um terreno entre sobrados, o Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, palco de uma revolução do samba. As inovações percussivas, com o tantã, o repique de mão e o banjo-cavaquinho, eram a cola de uma sonoridade de bater fundo no coração, a um só tempo elegante e vigorosa, que chamaríamos de pagode. Destacava-se, sobretudo, o pandeiro de Ubirajara Félix do Nascimento, o Bira Presidente, transformado em instrumento de protagonismo rítmico, e o que antes era secundário ganhou relevo. Aquela levada, naquele ambiente suburbano e adorável, atrairia nomes como Zeca Pagodinho, Emilio Santiago, Dudu Nobre — e especialmente Beth Carvalho, que incorporaria o estilo no álbum De Pé no Chão, de 1978. Das costelas do Cacique, brotaria um outro marco do samba, o grupo Fundo de Quintal, liderado por Bira, e que a partir de 1980 lançaria trinta álbuns, entre eles os clássicos Samba É no Fundo de Quintal (1980), É Aí Que Quebra a Rocha (1991) e A Batucada dos Nossos Tantãs (1993). “O samba perdeu sua representação máxima de elegância. A história de Bira Presidente se confunde com a própria história do samba”, disse Alcione. Ele morreu em 14 de junho, aos 88 anos, em decorrência de câncer de próstata. Havia alguns anos, lidava também com a doença de Alzheimer.
Sem radicalismo

A Nicarágua estava esfacelada, depois de uma década de guerra civil, nos anos 1980, rachada entre os defensores do sandinismo, de esquerda, e os saudosistas da ditadura sanguinária da família Somoza. O assassinato do editor de um jornal que se opunha aos dois lados, Pedro Joaquín Chamorro, levou à ribalta sua esposa, Violeta Barrios de Chamorro, que em 1990 seria a primeira mulher eleita presidente em um país da América Central, para um mandato de sete anos. Sua marca: o equilíbrio, alheio aos polos ideológicos. Contudo, a gestão foi marcada também pela hiperinflação e por imensas dificuldades econômicas. Chamorro morreu em 14 de junho, aos 95 anos.
Um gênio da guitarra

A versatilidade do guitarrista Hélio Delmiro tinha relevância mundial, ao transitar entre gêneros e estilos como poucos — seja no jazz, de técnica refinada e comovente improvisação, seja na cadência do samba. O álbum Samambaia, de 1981, gravado em parceria com César Camargo Mariano, é um clássico da nossa música instrumental. Cobiçado, Delmiro gravou com Elizeth Cardoso, Clara Nunes, João Bosco e Elis Regina, elenco estrelado que confirma sua infinita capacidade de transformação. Gravou também com a cantora americana Sarah Vaughan. Morreu em 16 de junho aos 78 anos, em decorrência de diabetes e problemas renais.
Publicado em VEJA de 20 de junho de 2025, edição nº 2949