Em 1959, Jackson do Pandeiro (1919-1982) fez fama com a canção Chiclete com Banana, que atravessaria décadas: “Eu só boto bebop no meu samba / quando o Tio Sam tocar um tamborim”. Quem primeiro misturou com sucesso a goma de mascar com a fruta típica dos trópicos, os Estados Unidos com o Brasil, foi o pianista e arranjador Sérgio Mendes. Em 1964, logo depois do golpe militar, ele partiu para Los Angeles — e nunca mais voltaria, a não ser para apresentações sempre muito requisitadas. A fama internacional, ao longo de 35 álbuns, brotou em 1966, com Mas que Nada, de Jorge Ben, hoje Ben Jor, em suingue contagiante, levada ao topo das paradas. Em 2006, remixada pela banda Black Eyed Peas, o samba com jeito de bossa nova renasceu com força.
De ouvido extraordinário, Mendes sabia também pôr a banana no chiclete. A regravação de um dos clássicos dos Beatles, The Fool on the Hill, foi elogiada por Paul McCartney. Havia quem fizesse cara feia para os arranjos exagerados, mas era crítica rapidamente dissipada. “Onde quer que esse moço se sente, num piano, todo mundo fica sabendo que está diante de um músico extraordinário”, disse dele Tom Jobim. Bem-humorado, gostava de relembrar histórias curiosas de uma carreira sempre alegre. A VEJA, em 2021, lembrou de um episódio do tempo da arca perdida, ao construir um estúdio na Califórnia, em 1970. O carpinteiro: Harrison Ford, antes de Hans Solo e Indiana Jones. “Hoje não teria como pagar o cachê dele”, sorriu. Mendes morreu em 5 de setembro, aos 83 anos.
Uma voz para sempre
Refinado ator de formação shakespeariana, prodigioso intérprete em 120 filmes e noventa séries de televisão, James Earl Jones colou seu nome ao século XX, aqui na Terra e quem sabe em galáxias muito, muito distantes, pela voz rouca e pausada de Darth Vader, o vilão da franquia Star Wars, lançada em 1977. “No, I am you father”, no original, em inglês, na revelação feita a Luke Skywalker, ecoará até o fim dos tempos. Jones gostava de contar uma anedota que, se não é verdadeira, é bem provável: ao pegar táxis, invariavelmente os motoristas identificam o timbre e imaginavam estar transportando o malvadão mascarado. Como que para provar a capacidade de suas cordas vocais, ele ficou conhecido também pelo Mufasa do desenho O Rei Leão: “Simba, você esqueceu quem você é e esqueceu de mim. Olhe para dentro de você. Você é mais do que pensa que é”. Jones morreu em 9 de setembro, aos 93 anos.
Publicado em VEJA de 13 de setembro de 2024, edição nº 2910