O suicídio de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi o tema da última das dez entrevistas do fórum Amarelas ao Vivo, nesta terça. Irmão de Luiz, Acioli Cancellier de Olivo conversou com o colunista de VEJA Augusto Nunes no evento, versão de palco das tradicionais Páginas Amarelas da revista.
Em 14 de setembro de 2017, o então reitor da universidade foi alvo da operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal, que combatia supostos desvios de dinheiro na gestão da UFSC. Acusado levianamente de integrar um “esquema criminoso”, ele tirou a própria vida dezessete dias depois.
Para Acioli de Olivo era nítido o impacto permanente dos fatos na vida do irmão. “Ele se sentiu humilhado e impotente diante da pecha que lhe causaram”, argumenta.
De acordo com o familiar, Luiz Carlos, que considerava a instituição “sua vida”, ficou afetado diante das manchetes estampadas de que era responsável por um desvio de 80 milhões de reais, conforme o acusou a comunicação da PF no dia da operação — na verdade, esse era o valor do custo total do programa que estava no centro da investigação e não havia qualquer prova de participação do reitor em desvios.
O irmão contou que Luiz Carlos consultou diversos juristas de Santa Catarina sobre a sua situação e que sua esperança diminuiu perceptivelmente depois disso. “Provavelmente, falaram para ele sobre as dificuldades que uma pessoa tem para se livrar de uma acusação mesmo que esta seja falsa. Ele deve ter percebido que a pecha que o infligiram nas redes sociais e, principalmente, no meio acadêmico não sairia. Percebeu que, ali, tinha acabado a carreira dele”.
Durante os dias que antecederam, nem ele nem nenhum outro familiar anteviram o que aconteceria. No entanto, estava evidente, conta, que algo não estava bem. “Saíamos de táxi e o temor dele era ser reconhecido. Olhava para os lados o tempo todo. Temia que alguém falasse: ‘Você não é o reitor dos 80 milhões de reais?'”. Também lembrou que os muros da universidade foram pichados com mensagens no mesmo sentido.
Acioli conta que entrou com uma representação junto ao Ministério da Justiça para apurar o motivo da divulgação tão ampla e errônea sobre os fatos que pesavam contra o seu irmão. Ele contou que, cerca de dois meses depois, recebeu a resposta da PF, que dizia que o fato de existir uma informação errada em seu site era “indiferente”, porque “ninguém lê”.
O irmão contou que o papel do bilhete, em que o reitor afirmou que sua morte foi selada no dia em que foi afastado da UFSC, veio de um livro doado a ele, escrito pelo israelense Amos Oz, que dizia respeito ao combate ao fanatismo. “Esse recado ele passou para a posterioridade. Conviver com a diversidade e rejeitar o fanatismo.”
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