Em início preocupante, Teich atrasa a entrega de equipamentos anunciados
Kits de UTIs e respiradores ainda não chegaram às localidades que registram aumentos do número de casos de coronavírus
Empossado há cerca de uma semana, o ministro da Saúde, Nelson Teich, está sendo criticado por secretários estaduais de Saúde pela demora na entrega de equipamentos essenciais ao atendimento de pacientes graves de coronavírus, que acusam o ministério de “paralisia gerencial”. “A sensação é de abandono. Há um abismo entre o que é anunciado e o que de fato chega aos estados”, diz o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame.
Um dos atrasos mais preocupantes é o da entrega dos 2.000 kits de UTIs, anunciados pelo ministério há cerca de um mês no início da pandemia no país, ainda sob a gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Até agora, segundo dados do próprio ministério, só foram distribuídos 17% dos equipamentos prometidos.
A pasta também ainda não fez chegar nos estados os 14.100 respiradores que custaram 658,5 milhões de reais aos sofres do ministério. Até o momento, 230 equipamentos foram distribuídos, menos de 2% do divulgado por Teich. Há previsão de que cerca de 1.000 respiradores comecem a ser entregues a partir do próximo mês.
Em relação aos 3 milhões de testes rápidos a serem aplicados de forma geral – e não apenas aos agentes de saúde e de segurança -, um dos primeiros anúncios de Teich logo após ter sido nomeado ministro, nenhum foi enviado a estados e municípios. O ministério anunciou que as entregas serão feitas a partir da próxima semana.
Os kits de UTI são essenciais para aumentar a capacidade de atendimento nos estados que não dispõem de leitos de emergência, como na Região Norte do país, onde está o segundo município com maior número de mortes pelo Covid-19. Manaus (AM) registrou até esta segunda-feira, 27, 100,9 óbitos por 1 milhão de habitantes. Em primeiro lugar está Fortaleza (CE), com 102,1 mortes na mesma proporção. Segundo dados do ministério, Ceará e Amazonas ainda não receberam nenhum kit. Os estados contemplados com o maior número de equipamentos até o momento foram São Paulo (80), Rio de Janeiro (40) e Minas Gerais (50).
De acordo com Beltrame, os estados têm conseguido aumentar a capacidade de atendimento graças a doações de empresas privadas. “Não há mais nenhum diálogo com o ministério”, diz.
Teich tem sido criticado pela falta de sensibilidade em relação à urgência de saúde pública imposta pela pandemia. Ele tem se dedicado, segundo interlocutores, a criar planilhas de custos e estabelecer critérios para entender onde estão os focos de infecção no país. O Ministério da Saúde, sob a sua gestão, passou a divulgar a proporção de casos confirmados de coronavírus por municípios de acordo com o índice populacional. Foi anunciado, por exemplo, que a maior parte das cidades pequenas com até 49 mil habitantes não tem registros da doença.
Teich foi nomeado para comandar o Ministério da Saúde após uma série de desentendimentos entre Jair Bolsonaro e o ex-ministro Mandetta. O presidente é contrário à política de isolamento social imposta pelos estados na tentativa de frear a curva de infectados e, assim, evitar o colapso na saúde pública. Nesta segunda-feira, Teich voltou a afirmar que não irá fazer mudanças bruscas para determinar o fim da quarentena nas localidades onde há maior número de casos.
Até esta segunda-feira, foram registrados 66.501 casos confirmados de coronavírus no país e 4.543 mortes.