O presidente Michel Temer embarcou no final da tarde desta sexta-feira para Salvador, na Bahia, em companhia da família, para passar o feriado do carnaval na Base Naval de Aratu. Temer passou a manhã no Planalto, administrando as diferentes crises políticas que atingem seu governo e, por conta disso, atrasou a sua decolagem em cerca de quatro horas.
A principal instabilidade foi a provocada pelas declarações do advogado, seu ex-assessor e antigo amigo José Yunes, que deu declarações dizendo que intermediou o recebimento e entrega de um “envelope” para o atual ministro da casa Civil, Eliseu Padilha, que conteria dinheiro para ser repassado para campanhas peemedebistas, via caixa 2.
Temer aproveitou, também, para receber o deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), quando o convidou para ser o líder da maioria na Câmara, com objetivo de estancar outra crise, da revolta de alas peemedebistas que ficaram descontentes com a nomeação do paranaense Osmar Serraglio para o Ministério da Justiça, em detrimento de um nome indicado pelo PMDB de Minas Gerais.
O presidente decidiu também anunciar a nomeação do deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) para liderança do governo na Câmara. A designação do novo ministro das Relações Exteriores para o lugar de José Serra ficou para depois do carnaval.
Antes de embarcar, Temer se reuniu com o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, e foi ao Hospital Santa Lúcia, por volta das 15h30, visitar o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que está internado lá desde ontem, depois de ser submetido a uma cirurgia de retirada da vesícula.
Temer ainda voltou ao Palácio da Alvorada para alguns novos telefonemas. Pouco antes das 18h deixou sua residência oficial, em companhia da família e, em seguida, embarcou para a Bahia, onde deverá ficar até, no máximo, a próxima Quarta-Feira de Cinzas. Lá, o presidente deverá se reunir com o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, que mora na Bahia.
Refúgio presidencial
Michel Temer vai descansar na Base Naval de Aratu, que também já foi usada pelos presidentes anteriores. No final do ano, ele e a família foram para a restinga da Marambaia, no Rio de Janeiro, outra unidade militar. O presidente tem buscado locais reservados para aproveitar dias de folga com a família. Mas, mesmo nestas ocasiões, o peemedebista não deixa de ficar em contato com assessores, além de manter conversas políticas.
Ao optar pela base de Aratu, Temer foi em busca de privacidade inclusive para preservar a primeira-dama, Marcela, e impedir, por exemplo, que sejam feitas imagens dela em trajes de banho.
Por conta disso, uma equipe do escalão avançado com um grande número de seguranças voou para Salvador na manhã desta quinta-feira para fazer reconhecimento e proteção do local. Até a área próxima à base naval será isolada para que curiosos e a imprensa não tenham acesso ao local, o que lhes permitiria registrar a intimidade do casal. A ordem é não deixar tirar fotos especialmente de Marcela e da família do presidente.
Em janeiro de 2010, uma imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva carregando na cabeça uma caixa de isopor, na Praia de Inema, na Bahia, acompanhado da ex-primeira-dama Marisa Letícia, foi amplamente divulgada. Em outra imagem, Marisa usava um maiô branco com a estrela vermelha do PT. O ex-governador da Bahia Jacques Wagner e sua mulher, Fátima, costumavam se encontrar com o casal petista na casa da Marinha.
A proteção da base naval de Aratu não será apenas por terra. A Marinha vai disponibilizar embarcações militares para evitar que qualquer tipo de lancha particular se aproxime do local. Este tipo de proteção, fazendo uma imensa área de isolamento, por terra e por mar, sempre foi adotado durante o período que os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff estiveram na Bahia.
Dilma se queixava e brigava também pela necessidade de privacidade de sua família. No caso de Lula, Marisa Letícia era quem mais reclamava dos curiosos.
Quando esteve na restinga de Marambaia no réveillon passado, Temer andou pela praia, às vezes acompanhado de Marcela, às vezes do ajudante de ordens. Em algumas das caminhadas, Temer usava boné para disfarçar e, muitas vezes, passou por pescadores da região, sem ser notado. Em outras ocasiões, se sentiu incomodado ao ser reconhecido e assediado para tirar fotos ao seu lado. Em uma de suas caminhadas, o presidente acabou cruzando com a frase escrita na areia “Fora Temer” e seguiu em frente, sem se incomodar.
(com Estadão Conteúdo)