Deputado afastado por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), o peemedebista Rodrigo Rocha Loures foi protagonista de uma das cenas mais pitorescas da Operação Patmos da Polícia Federal. Ele foi filmado correndo com uma mala de dinheiro recheada com 500.000 reais em propinas providenciadas pelo empresário Joesley Batista, dono da JBS. Na noite desta segunda-feira, a defesa de Rocha Loures devolveu a sacola aos policiais federais, mas, conforme documento da PF, na mala de dinheiro devolvida às 21h20 havia 9.300 cédulas de 50 reais, o que totaliza 465.000 reais. Trinta e cinco mil reais simplesmente sumiram.
Segundo as apurações da Procuradoria-Geral da República (PGR), a quantia representava a primeira parcela da propina a ser paga pela JBS. Conforme a delação de Joesley, a empresa enfrentava problemas no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) envolvendo uma disputa entre a empresa e a Petrobras no fornecimento de gás para uma termelétrica em Cuiabá, que pertencia à holding.
Em ações monitoradas pela PF, o deputado foi gravado tratando da propina com o diretor de relações institucionais da JBS, Ricardo Saud, e depois recebendo o dinheiro numa pizzaria de São Paulo no dia 24 de abril. Nas imagens, ele aparece saindo do restaurante às pressas arrastando a mala de rodinhas e a colocando no porta-malas de um táxi — ele havia entrado no estabelecimento de mãos vazias.
O vídeo foi feito depois de Joesley ter gravado Temer em uma reunião fora da agenda oficial no Palácio do Jaburu. No encontro, o presidente indicou Loures como seu interlocutor para tratar de assuntos de interesse do empresário no governo federal. O deputado, que era suplente até março deste ano, trabalhava como assessor do presidente desde 2011. Naquele mês, deixou o Planalto para assumir a cadeira na Câmara deixada por Osmar Serraglio (PMDB-PR), nomeado ministro da Justiça.
O parlamentar também foi flagrado em conversas com Joesley Batista nas quais ambos tratam da compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, e do operador financeiro Lúcio Funaro, preso em Brasília.
Rocha Loures teve a prisão pedida pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato na corte, negou a detenção, mas determinou outras medidas cautelares, como o afastamento do cargo e a proibição de sair do país e contatar investigados. A PGR entrou com recurso para que o ministro reconsidere a decisão. Caso Fachin não volte atrás, a procuradoria solicitou que os pedidos de prisão sejam apreciados “com máxima urgência” pelo plenário do STF.
Procurados, os advogados de Loures não atenderam às ligações para explicar porque a mala não foi entregue com os 500.000 reais. Em ocasião anterior, eles afirmaram que o deputado irá se pronunciar no momento oportuno para prestar todos os esclarecimentos devidos.