Paulo Fernando Magalhães Pinto Gonçalves é um homem bem relacionado. Vivia em boas festas, cercado de milionários (como ele) da elite carioca e sempre teve fama de prestativo. E apesar de ser um empresário com sociedade em pelo menos uma dezena de empresas, há mais de uma década vive sob a alcunha de Paulinho, uma espécie de assessor do então governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Desde a deflagração da Operação Calicute, da Polícia Federal, em outubro do ano passado, sabe-se que Magalhães Pinto havia se transformado, na verdade, em um dos muitos ‘laranjas’ usados para esconder, segundo os investigadores, a montanha de propina que seu amigo desviara dos cofres públicos. Nessa relação – que também o levou para a cadeia -, nada simboliza tanto essa maquiagem quanto a imponente lancha Manhattan, apreendida pela Polícia Federal.
Avaliado em 5,3 milhões de reais, o iate de 80 pés estava registrado em nome de uma das empresas de Magalhães Pinto, a MPG Participações, e ficava ancorado no Condomínio Portobello, justamente onde Cabral tem uma mansão e o empresário, não. Após mais de dois meses de cárcere em Bangu 8, Paulinho cansou de esconder. Conforme revelou a coluna de Lauro Jardim no jornal O Globo, o empresário negociou o acordo de delação premiada e começou a contar os meandros dessa (e outras) transações.
Assessor especial (cargo comissionado) do Palácio Guanabara, Paulinho chegou a insistir em ir contra os fatos apurados pela polícia e pelos procuradores do Ministério Púbico Federal (MPF). Nesta etapa, o depoimento do marinheiro José Carlos Cabral Filho foi decisivo, esclarecendo que os custeios da lancha quando Sergio Cabral a usava era sempre pago pela MPG. A investigação indica que a Manhattan foi arrematada, finalmente, em agosto de 2014.
A conta dessa brincadeira, aliás, é bem salgada. “Registra-se que o tanque da lancha Manhattan tem capacidade para 7 mil litros, cujo enchimento completo perfaz o valor aproximado de 31.500 reais. Além disso, o gasto médio dos motores da embarcação por hora é estimado em 1.215 reais (consumo médio por hora de 135 litros por motor), sendo que cada passeio realizado por Sérgio Cabral ou familiares custava em média 2.250,00 reais (consumo de 500 litros de diesel”, diz o relatório do MPF.
“Você empresta a embarcação e ainda paga o combustível? Isso foi para ocultar a titularidade da embarcação que pertence ao ex-governador Sérgio Cabral”, questiona o coordenador da Lava Jato no Rio, procurador Lauro Coelho Junior. O ex-governador nega que a lancha seja sua
Cabral, no entanto, não era o único a usufruir da bondade de Magalhães Pinto. No Carnaval de 2012, outro integrante do governo com quem o empresário mantinha um relacionamento estreito, José Mariano Beltrame, pegou a Manhattan Rio para um passeio pelas ilhas de Angra dos Reis. Quem usou, na verdade, foram seus filhos, Maurício e Mariana, que ainda exibiram no Facebook as imagens da diversão.
O site de VEJA procurou Beltrame para questionar quem, afinal, havia emprestado a lancha para que seus filhos passeassem e se os custos da lancha, com combustível por exemplo, foram pagos. Perguntou também sobre o relacionamento que o ex-secretário de Segurança Pública do Rio mantinha com o ‘laranja’ de seu chefe Sérgio Cabral. Por mais de seis anos Beltrame viveu em um luxuoso apartamento de Magalhães Pinto, na Rua Redentor, em Ipanema. Em viagem, Beltrame não foi localizado.
Em março de 2014, o sub-tenente da PM Adriano Matos, lotado na Subsecretaria Militar da Secretaria da Casa Civil, também aproveitou para tirar uma casquinha da embarcação do chefe. Posou para várias fotos, com o mar de Mangaratiba ao fundo e, claro, postou no Facebook. Agora, ao que tudo indica, a farra acabou.