No dia em que denunciaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso da reforma no sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato se disseram “estarrecidos” com as revelações das delações premiadas da JBS, que colocaram o governo do presidente Michel Temer (PMDB) em uma crise sem precedentes.
“A denúncia é mais um efeito da corrupção espraiada em todo o espectro do sistema político. Os últimos acontecimentos, aliás, levam a Força Tarefa da Lava Jato a manifestar seu estarrecimento diante da gravidade dos crimes que se tornaram públicos”, afirmam os procuradores, por meio de nota.
A equipe coordenada pelo procurador Deltan Dallagnol fala em “evidências de crimes” praticados por Temer, pelo senador afastado Aécio Neves (MG) e “mais de mil e oitocentos políticos”, além de criticar “manobras para ferir de morte a Lava Jato”.
Os procuradores atacam, sem citá-lo, o empenho de Aécio na aprovação da lei que prevê punição a abuso de autoridade por membros do Judiciário e do Ministério Público Federal, assunto de uma conversa gravada entre o tucano e o empresário Joesley Batista, na qual o senador chama de “merda” as dez medidas contra a corrupção propostas pelo Ministério Público Federal.
“Depois de três anos do início das investigações, vê-se que líderes políticos continuam a tramar no escuro a sua anistia, a colocação de amarras nas investigações e a cooptação de agentes públicos, ao mesmo tempo em que ficam livres para desviar o dinheiro dos brasileiros em tempos de crise, utilizando como escudo sua imunidade contra prisão e o foro privilegiado”, diz a força-tarefa da Lava Jato.
Os investigadores ainda afirmam que “tanto os fatos que são objeto da denúncia apresentada nesta data, como os novos fatos que se tornaram públicos na última semana, são manifestações de um mesmo problema, o apodrecimento do sistema político-partidário”.
“A Força Tarefa da Lava Jato se coloca ao lado dos milhões de brasileiros indignados com essas práticas e que farão de tudo, debaixo da Constituição e da Lei, para enfrentar a corrupção”, concluem os procuradores.