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Fundamental para o agro, Embrapa vê minguar a verba federal para pesquisas

Há relatos de atrasos no pagamento de terceirizados e de contas de luz dos laboratórios, colocando em risco experimentos

Por Bruno Caniato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 mar 2025, 08h00

Fundada em abril de 1973 a partir de uma parceria entre a ditadura militar brasileira e o governo dos Estados Unidos, a Embrapa nasceu com o objetivo de promover o desenvolvimento da agricultura nacional e garantir a segurança alimentar do país. Em cinco décadas, a estatal capitaneou o desenvolvimento tecnológico de ponta que elevou o Brasil de economia importadora de alimentos a potência exportadora agropecuária, responsável por metade da balança comercial e 22% do PIB. A incontestável relevância torna ainda mais alarmante a grave crise financeira que hoje paira sobre a empresa, que perdeu quase 60% da verba federal para pesquisa e inovação tecnológica desde 2014 (veja o quadro), colocando em xeque a hegemonia do país no campo onde mais se destaca no cenário mundial.

arte Embrapa

A importância da empresa pode ser medida em números. A Embrapa emprega mais de 2 200 cientistas de altíssima qualificação, dedicados a cerca de 1 200 projetos de pesquisa nas 43 unidades espalhadas pelo Brasil, voltados tanto aos grandes exportadores quanto à agricultura familiar. Em 2024, os laboratórios da estatal registraram 69 sofisticadas tecnologias para a atividade rural — as inovações incluem técnicas de agricultura de baixa emissão de carbono, plantas geneticamente adaptadas às mudanças climáticas, fertilizantes com reduzido impacto ambiental, combustíveis verdes gerados a partir de biomassa e modelos de plantio que integram lavouras a florestas. Os equipamentos são desenvolvidos com uso de nanotecnologia, drones, satélites e inteligência artificial. “Se a Embrapa é importante, cabe a nós, do governo, dar a ela o tamanho que merece”, prometeu o presidente Lula em 2024, na celebração dos 51 anos da empresa.

CONTRADIÇÃO - Lula: exaltação à estatal em meio a corte de recursos
CONTRADIÇÃO - Lula: exaltação à estatal em meio a corte de recursos (José Cruz/Agência Brasil)

As palavras do presidente contrastam com a realidade da Embrapa, que não escapou aos cortes do governo nos últimos anos. A área de pesquisa abriu 2025 no vermelho, com déficit de 26 milhões de reais. Há relatos de atrasos no pagamento de terceirizados e de contas de luz dos laboratórios, colocando em risco experimentos que dependem de ambientes climatizados. “Todas as linhas de pesquisa, em diferentes graus, estão sendo prejudicadas pelos cortes”, afirma Marcus Vinicius Sidoruk Vidal, presidente do Sinpaf, sindicato da categoria. O prejuízo não é sentido imediatamente, mas vira uma bomba-relógio para o futuro. “É um jogo de médio prazo. A Embrapa hoje é a antessala da agricultura amanhã”, diz Daniel Vargas, professor da FGV.

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Às vésperas da COP30, quando Lula se propõe a apresentar o Brasil como vanguarda em política ambiental sustentável, a crise causa ainda mais insatisfação. Para especialistas, secar a fonte da Embrapa ameaça não só a sobrevivência da empresa, mas a posição internacional do Brasil no setor. “Países como China e EUA veem a produção sustentável de alimentos como questão de soberania nacional e investem massivamente em tecnologia agrícola. Subfinanciar a Embrapa neste momento é um enorme tiro no pé”, avalia Vargas. “Se não pensarmos nisso agora, podemos perder o protagonismo brasileiro no agro em cinco ou dez anos”, projeta a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá.

REAÇÃO - Protesto de servidores: prejuízos em todas as linhas de atuação
REAÇÃO - Protesto de servidores: prejuízos em todas as linhas de atuação (Camila Bordinha/SINPAF/.)

A luz vermelha já acendeu no governo. Após reuniões com Lula e ministros, a Embrapa conseguiu 324 milhões de reais para pesquisa e desenvolvimento no Orçamento de 2025, quase o dobro de 2024, mas aquém dos 500 milhões demandados pela empresa — resta saber se o dinheiro, que ainda não foi aprovado, irá chegar ou será alvo de cortes ao longo do ano. Há ainda a busca por mais dinheiro privado — está em análise a criação de uma “fundação” para centralizar os royalties oriundos das tecnologias desenvolvidas pela estatal. Desde 2021, tramita também no Congresso um projeto de lei para isentar a Embrapa de impostos sobre a propriedade intelectual das tecnologias que desenvolve. “Ela é uma joia que o governo trata como bijuteria”, diz o senador Plínio Valério (PSDB-AM), autor da proposta. Seja qual for a saída, é imprescindível que os investimentos na Embrapa sejam vistos sob a ótica da soberania econômica, tecnológica e ambiental do Brasil. Um corte desse tipo pode ter o efeito desastroso de tirar o país dos trilhos da vanguarda da inovação no campo.

Publicado em VEJA de 21 de março de 2025, edição nº 2936

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