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Gestão de Levy foi marcada por atritos com governo e funcionários

Embora Bolsonaro tenha elevado o tom no sábado, 15, declarando que já estava "por aqui" com Levy, o principal atrito era com a equipe econômica

Por Da Redação
16 jun 2019, 15h36
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  • Os seis meses de gestão de Joaquim Levy à frente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foram marcados por atritos tanto com o governo federal quanto com os funcionários da instituição de fomento. Desde que Levy foi indicado para o cargo, em novembro do ano passado, ainda na transição de governo, estava sinalizado que sua missão seria reduzir ainda mais o tamanho do banco. Diante da pressão nos dois lados, a instituição ficou em compasso de espera, sinalizando que daria prioridade para infraestrutura, mas com o anúncio de poucas medidas concretas.

    Embora o presidente Jair Bolsonaro tenha elevado o tom no sábado, 15, declarando que já estava “por aqui” com Levy e ameaçando o presidente do BNDES com a demissão, o principal atrito com o governo era mesmo com a equipe econômica. A tensão veio à tona no início de março, quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou explicitamente, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que o BNDES teria que devolver R$ 126 bilhões dos recursos tomados com o Tesouro Nacional e disse, sobre Levy: “Não sei se ele quer, mas vai ter de devolver”.

    Com a declaração, Guedes trazia a público o atrito que já vinha de antes, sempre em torno da questão das devoluções do BNDES ao Tesouro. De 2008 a 2014, o BNDES recebeu R$ 416 bilhões em aportes do Tesouro Nacional. Inicialmente, os aportes foram parte da ação “contracíclica” do governo Luiz Inácio Lula da Silva para enfrentar a crise internacional de 2008, mas acabaram como estratégia do governo Dilma Rousseff para turbinar o crescimento econômico. A medida sempre esteve entre as mais criticadas, especialmente por economistas de perfil mais liberal, no cardápio da política econômica dos governos do PT.

    Tanto que, quando o próprio Levy assumiu como ministro da Fazenda, no segundo governo Dilma, determinou uma freada na instituição de fomento. O último aporte, autorizado no fim de 2014, ainda na gestão de Guido Mantega no ministério, seria devolvida ainda em 2015. Com a chegada de Michel Temer ao Planalto, em maio de 2016, após o afastamento de Dilma, as devoluções seriam aceleradas. Ainda naquele ano, a então presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, devolveria R$ 100 bilhões a pedido do ministro Henrique Meirelles.

    Devolução

    As devoluções seguiram no governo Temer. De 2015 a 2018, o banco já devolveu R$ 309 bilhões ao Tesouro Nacional. Em julho do ano passado, Fazenda e BNDES firmaram uma reestruturação da dívida com a União, antecipando o prazo final para devolução dos aportes de 2060 para 2040 e estabelecendo um cronograma anual de devoluções – entre 2019 e 2022, a devolução média era de R$ 25 bilhões ao ano. Para 2019, estavam previstos R$ 26,6 bilhões.

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    Apesar das suspeitas de Guedes, o principal atrito de Levy com a burocracia do banco não girava em torno da questão das devoluções, embora passasse por isso. O problema estava na tal “caixa preta” que, conforme promessa de campanha de Bolsonaro, teria que ser aberta logo no início do governo. Para os funcionários, não há “caixa preta”, e Levy era pouco enfático na defesa pública do trabalho técnico do BNDES.

    O ex-presidente recebeu uma saraivada de críticas de funcionários quando disse, numa palestra em março, que só em 2016 o BNDES criou uma área de verificação do cumprimento de normas e leis (compliance) e que, por isso, não se surpreendia com o fato de terem acontecido “coisas esquisitas”. O episódio mais recente, em maio, foi o afastamento da então chefe do Departamento de Meio Ambiente do banco após o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciar uma análise que teria apontado má aplicação dos recursos do Fundo Amazônia.

    Com as críticas de Bolsonaro, até mesmo a AFBNDES, associação que representa os funcionários da instituição de fomento, disse em nota que, “apesar de divergências sob alguns pontos da atual gestão, como o afastamento da chefe de departamento do Fundo Amazônia e declarações infelizes sobre operações de comércio exterior”, reconhecia que Levy “nunca apoiou ou defendeu fantasias e calúnias que o presidente da República, sempre saudoso da campanha eleitoral, insiste em declarar sobre o BNDES”.

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    A gestão de Levy divulgou, ainda em janeiro, no site do banco uma lista com 50 maiores clientes do banco. Compartilhado com entusiasmo nas redes sociais por Bolsonaro, o ranking já havia sido publicado no governo Michel Temer, dentro do “Livro Verde”, lançado em julho 2017, na gestão de Paulo Rabello de Castro à frente do banco.

    “Ninguém fala em ‘abrir a caixa-preta’ e ainda nomeia um petista. Então, fica clara a compreensão da irritação do presidente”. Guedes se referia à nomeação de Marcos Pinto, que ocupou cargos nos governos do PT e atualmente trabalhava na Gávea Investimentos, de Arminio Fraga, como diretor do BNDES, citada por Bolsonaro no sábado.

    Com Estadão Conteúdo

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