Gestão Doria estuda manter local controlado para uso de drogas
Possibilidade foi admitida pelo psiquiatra Arthur Guerra, coordenador do programa Redenção, da prefeitura, após nova tentativa para tirar usuários do centro
A gestão João Doria (PSDB), que vem promovendo uma cruzada para tentar põr fim à região conhecida como Cracolândia, na área central da cidade, admitiu pela primeira vez que pode manter locais controlados para consumo de drogas na cidade.
A afirmação foi feita pelo psiquiatra Arthur Guerra, coordenador do programa Redenção, após uma nova ação, em parceria com o governo do estado, no domingo, para retirar dependentes químicos e barracas da Praça Princesa Isabel, no centro – o local virou ponto de concentração de usuários após intervenção da prefeitura na antiga Cracolândia, na Rua Helvétia. Horas depois, no entanto, a praça já estava novamente tomada por usuários.
Guerra disse que a prefeitura não vai permitir novamente a montagem de tendas e barracas pelos viciados na praça, mas disse que no futuro o poder público pode oferecer locais para consumo de drogas. “Hoje, disponibilizamos 150 lugares em contêineres e mais 120 lugares em abrigos para que os usuários possam passar a noite e tomar uma canja. Eles não são obrigados a se tratar, se quiserem podem chegar lá drogados, o que ainda não dá é para usar a droga no local. Mas quem sabe, no futuro, passe a poder.” Um dos obstáculos para a decisão é como lidar com o tráfico de drogas.
“Hoje, disponibilizamos 150 lugares em contêineres e mais 120 lugares em abrigos para que os usuários possam passar a noite e tomar uma canja. Eles não são obrigados a se tratar, se quiserem podem chegar lá drogados, o que ainda não dá é para usar a droga no local. Mas quem sabe, no futuro, passe a poder.”
Arthur Guerra, coordenador do programa Redenção
Operação policial
Com 550 PMs, a ação da Força Tática e do Choque começou às 5 horas de domingo, quando os agentes cercaram a praça. Ao perceber a movimentação, parte dos usuários e traficantes da nova Cracolândia passou a seguir em direção à estação da Luz e ao Elevado João Goulart (Minhocão), abandonando as barracas montadas desde 21 de maio, quando houve a ação policial que os tirou da antiga Cracolândia.
Viaturas bloqueavam as avenidas Rio Branco e Duque de Caxias quando o helicóptero da PM sobrevoou pela primeira vez a área, às 6h25, e mais viciados saíram. Fogueiras – acesas para espantar o frio (a temperatura média à noite foi de 8,7°C) – foram alimentadas pelos dependentes. O fogo atingiu barracos e se espalhou. A PM acionou os bombeiros e o Choque entrou na praça.
Os policiais percorreram toda a praça em meia hora. Homens do Choque, com escudos, avançaram sem resistência dos que ainda estavam lá. Um viciado acordou no meio do fogo, com queimaduras no braço, e foi socorrido. Agentes da prefeitura limparam a área.
Três pessoas foram detidas: dois traficantes e um usuário acusado de agredir um jornalista. Denilson dos Santos, de 23 anos, e Elenilson Lopes da Silva, de 39 anos, carregavam 774 gramas de crack, R$ 1.596 e uma balança. Foram levados ao Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) e autuados por tráfico.
Na Avenida Rio Branco, um viciado aguardava o fim da limpeza para ver se recuperava uma carroça, abandonada às pressas. “Só deu tempo de pegar o cobertor e uma rapadura”, disse, se recordando depois que salvara a cadeira de metal acolchoada em que estava sentado.
Atendimento
O alojamento para acolhimento em contêineres teve baixa demanda. Apenas quem havia pernoitado no local continuou por lá. Às 9 horas, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e Doria foram à praça, para onde os dependentes voltaram depois de circular pelo centro.
A estratégia, segundo a prefeitura, era espalhar os viciados para facilitar a abordagem dos agentes de saúde e o encaminhamento para tratamento. “Este é um trabalho permanente, não vai resolver (o problema) do dia para a noite. Quando há concentração você facilita a vida do traficante, atrai pessoas e dificulta a abordagem”, afirmou Alckmin.
(Com Estadão Conteúdo)