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‘Grotesca e absurda’, diz Santana sobre entrevista de Cardozo

Ex-ministro disse ao jornal 'O Globo' que há "contradições delicadíssimas" entre depoimentos de marqueteiro e Mônica Moura

Por Da redação
Atualizado em 17 Maio 2017, 17h12 - Publicado em 17 Maio 2017, 16h13

O marqueteiro João Santana, um dos delatores da Operação Lava Jato, classificou como “grotesca e absurda” a entrevista do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo publicada pelo jornal O Globo nesta quarta-feira. Na entrevista, Cardozo diz haver “contradições delicadíssimas” entre os depoimentos de Santana e os de sua mulher, Mônica Moura, em relação ao suposto aviso dado pela ex-presidente Dilma Rousseff de que o casal seria preso pela operação, em fevereiro de 2016. O publicitário também acusou o ex-ministro de mentir de maneira “deslavada” para defender a petista.

“Ela (Mônica) diz que recebeu uma mensagem, que essa mensagem não estava clara se era sobre a prisão, e que depois Dilma pede um telefone seguro, liga para o João Santana e diz que ia ser preso, porque o José Eduardo Cardozo viu o papel (mandado de prisão) rolando pelas mesas. O ministro da Justiça vai ficar andando pelas mesas da Polícia Federal procurando mandado? Segundo: mandado de operação sigilosa largado em cima da mesa? É uma versão grotesca. Que coisa ridícula”, afirmou Cardozo ao jornal.

Por meio de nota, Santana respondeu que “a grotesca e absurda entrevista do advogado José Eduardo Cardozo ao Globo faz-me romper o compromisso – que tinha comigo mesmo – de somente tratar dos termos das colaborações, minha e de Mônica, no âmbito da Justiça”. Ele ressaltou que não há contradições entre o que ele e sua mulher disseram ao Ministério Público Federal.

“Quando disse que soube da prisão pelas câmeras de segurança de minha casa -acessadas por computador desde a República Dominicana – referia-me ao óbvio : foi naquele momento, na manhã do dia 22 de fevereiro, que eu vi, de fato e realmente, a prisão concretizada (…) Antes, sabíamos, por informações da presidente Dilma, que a prisão seria iminente. Seu último informe veio no sábado, em e-mail redigido com metáforas, cuja cópia está anexada aos termos da nossa colaboração”, diz o marqueteiro.

Segundo Santana e Mônica, eles compartilhavam com Dilma Rousseff uma conta de e-mail fictícia, o 2606iolanda@gmail.com. As mensagens não eram enviadas entre eles, para que não fossem rastreadas, mas salvas na página de rascunhos e, depois de lidas, apagadas. Foi assim que Dilma teria informado ao casal que eles seriam presos. “O seu grande amigo está muito doente. Os médicos consideram que o risco é máximo, 10. O pior é que a esposa, que sempre tratou dele, agora está com câncer e com o mesmo risco. Os médicos acompanham os dois, dia e noite”, escreveu a petista no rascunho a que Santana se refere.

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“Se não estivéssemos sendo informados da iminência da prisão, porque chamaríamos, na sexta, 19 de fevereiro, o nosso então advogado, Fabio Tofic, para que viesse às pressas a S. Domingos? Por que cancelaríamos nosso retorno ao Brasil, dias antes, com passagem comprada e com reserva já confirmada?”, questiona o publicitário.

‘Pra cima de mim?’

Na entrevista publicada por O Globo, embora reconheça que “historicamente, no Brasil se tenha caixa 2 desde que Pedro Álvares Cabral chegou aqui”, José Eduardo Cardozo disse que Dilma orientava os responsáveis por sua campanha a não aceitarem doações “por fora”. “João Santana recebeu R$ 70 milhões declarados por uma campanha eleitoral. É muito dinheiro para ter esse caixa 2”, argumentou o ex-ministro.

Neste ponto, Santana classificou como “surrada” a versão de Cardozo, mantida também por Dilma, de que o alto valor declarado à Justiça Eleitoral provaria que não houve caixa dois. “De forma cínica, diz que não houve caixa dois nas campanhas de 2010 e 2014. Pra cima de mim, José Eduardo?”, ironiza o publicitário.

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João Santana também afirma que José Eduardo Cardozo mente de maneira “deslavada” ao dizer que não seria possível distinguir, entre os valores pagos a Santana no exterior pela Odebrecht, quais valores corresponderiam às campanhas de Dilma Rousseff e quais seriam referentes a campanhas presidenciais em outros países. “É uma mentira deslavada: nos nossos depoimentos está bem discriminado o que são campanhas do exterior e campanhas do Brasil”.

O marqueteiro encerra a nota dizendo que já mentiu para defender a ex-presidente. “Para finalizar, afirmo que as únicas vezes que menti sobre a presidente Dilma – e isso já faz algum tempo – foi para defendê-la. Jamais para acusá-la. Lamento por tudo que ela, Mônica e eu estamos passando. A vida nos impõe momentos e verdades cruéis”.

Tréplica de Cardozo

Após a divulgação da nota de repúdio de João Santana, José Eduardo Cardozo também soltou uma nota em que reafirma haver contradições entre as delações do marqueteiro e a de sua mulher.

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No comunicado, Cardozo diz que “é esperado que alguém defenda, inclusive com deliberada veemência e indignação, os termos de uma delação que firmou com a finalidade de obtenção de condições mais vantajosas para o cumprimento de uma sanção penal (…) Todavia, o que chama atenção é que, com esta manifestação, o publicitário não só não esclarece a clara contradição entre o seu depoimento e o de Monica Moura, mas como a reitera. De fato, basta verificar os depoimentos dos delatores e a nota em questão, para que se constate a evidente contradição, sobre os momentos e as maneiras pelas quais teriam sido hipoteticamente avisados da sua prisão pela presidenta Dilma Rousseff”.

O ex-ministro também volta a dizer que não foi informado com antecedência pela Polícia Federal, o Ministério Público Federal ou a Justiça a respeito da deflagração da operação que prendeu João Santana e Mônica Moura.

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