Grupo pró-ditadura organiza bloco de Carnaval fora das ruas
Organização mantém local de evento em segredo e promete "marchinhas opressoras", mirando movimento feminista e LGBT
Mesmo diante da repercussão negativa e das ameaças de processos judiciais por apologia ao crime de tortura, o movimento Direita São Paulo vai promover o bloco “Porão do DOPS” no Carnaval de 2018 na capital paulista. O nome é uma alusão ao local conhecido por ser um centro de tortura de presos políticos durante a ditadura militar.
“Não acho que isso progrida, mas nosso departamento jurídico estará a postos, pronto para reagir”, diz Douglas Garcia, que participa do movimento. O local do evento ainda é segredo, segundo ele, porque o dono da casa noturna que o sediaria “sofreu ataques da extrema-esquerda” — mas ele garante que o grupo já conseguiu um novo abrigo.
Ele acrescenta que o evento não consta do calendário oficial da prefeitura porque não desfilará pelas ruas e vai permanecer em local fechado. Criticado pela escolha do nome, Garcia disse que a intenção era “fazer uma graça, tirar sarro”. Além disso, ele não concorda com os documentos e decisões judiciais que ligam o Dops à tortura.
O “Porão do Dops” promete causar polêmica para além de seu nome. O grupo prepara uma série de adaptações de músicas carnavalescas para compor um repertório de “marchinhas opressoras”, cujos alvos preferenciais são os movimentos feminista e LGBT.
Para Douglas Garcia, o evento pretende ser um “contraponto” ao Bloco Soviético, de viés de esquerda e que desfilou nos últimos anos da cidade. “Se pode ter um bloco que faz apologia à morte de milhões de pessoas, por que não podemos fazer um bloco de direita, ainda mais não sendo de nada criminoso?”, questiona.
O principal homenageado do grupo é o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi, divisão de repressão e inteligência da ditadura, e foi o primeiro militar considerado culpado pelo crime de tortura no Brasil, em 2008. Mas isso não abala a defesa de Ustra por Douglas Garcia. Ele contemporiza alegando que a condenação do general, morto em 2015, ainda não “transitou em julgado”. “E a Comissão da Verdade era um tribunal de exceção, que não ouviu familiares de militares, só dos guerrilheiros”, completa.