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História política do Brasil Republicano – Região Norte

Dominado por um tenente de 1930 até 1959, o palco da política paraense foi dividido entre dois coroneis depois da instauração do regime militar

Por Branca Nunes, Bruno Abbud
11 set 2010, 01h59

Foram tantos os trabalhadores que morreram durante a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, que os habitantes da região continuam repetindo que sob cada um dos dormentes jazia um cadáver

A região Norte já foi praticamente uma coisa só: a capitania hereditária do Grão-Pará, que abrangia inteiramente a maior floresta tropical do mundo. Separada em duas províncias, o Amazonas e o Pará, em 1850, só terminaria de ser completamente desmembrada em 1989, com a criação do Tocantins, o mais jovem dos 26 estados. Até a instauração do regime militar, quando emergiram figuras como Jarbas Passarinho e Alacid Nunes, os caciques políticos da floresta tiveram pouca influência no resto do país. Região com menos eleitores do Brasil, o Norte só foi olhado com real interesse pelos governantes durante o primeiro ciclo da borracha.

Acre

Alçado a condição de estado em 1962, o território do Acre teve pouca importância na história política do Brasil durante a maior parte do século XX. Pertencente à Bolívia e ao Peru, a região começou a ser colonizada por brasileiros que se embrenhavam na floresta em busca de seringueiras. O conflito entre bolivianos e a tropa composta por nordestinos, sulistas e indígenas culminou na Revolução Acreana, liderada pelo gaúcho Plácido de Castro. A disputa foi encerrada em 1903 com a assinatura do Tratado de Petrópolis, idealizado pelo Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores de Rodrigues Alves.

Em troca de 2 milhões de libras esterlinas, pequenos pedaços de terra de Mato Grosso e a promessa da construção de uma ferrovia ligando os dois países (a lendária Madeira-Mamoré), o Acre incorporou-se ao mapa do Brasil. A demarcação definitiva das fronteiras com o Peru aconteceu em 1912.

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Com uma das mais baixas densidades demográficas do país (4,5 habitantes por quilômetro quadrado), o Acre começou a merecer maior atenção dos brasileiros depois do aparecimento de Chico Mendes, líder seringalista assassinado por lutar pela preservação da floresta e pelos direitos das populações nativas. Quase todos os líderes políticos que hoje se destacam na região foram ligados de alguma forma a Chico Mendes. É o caso de Jorge Viana, duas vezes governador do Acre, do senador Tião Viana, irmão de Jorge e atual candidato ao governo do estado, e de Marina Silva, que concorre à Presidência da República pelo PV.

Os pouco mais de 600 mil acrianos (o “e” foi trocado pelo “i” depois da reforma ortográfica de 2009), também são os brasileiros menos visitados pelos governantes federais. Uma expressão popular estimula o preconceito. “Ir ao Acre” também significa “morrer”.

Roraima

Com mais de dois terços do território ocupados por reservas indígenas, Roraima é o estado menos populoso do Brasil (400 mil habitantes). O antigo território do Rio Branco foi elevado à categoria de estado com a Constituição de 1988.

Um dos líderes políticos locais mais conhecidos é o senador Romero Jucá, governador entre 1988 e 1990 e ex-ministro da Previdência Social do Governo Lula. Pernambucano transformado em filho adotivo de Roraima pelo eleitorado, Jucá foi acusado, entre outras peripécias, de ter oferecido sete fazendas que nunca teve no Pará como garantia a um empréstimo milionário – que nunca pagou – no Banco da Amazônia.

Com o subsolo recheado de pedras preciosas, Roraima viu os garimpeiros serem gradativamente substituídos pelos agricultores, que passaram a cultivar gigantescas quantidades de grãos em terras indígenas. A disputa entre índios e arrozeiros pela Reserva Raposa Serra do Sol foi o último grande conflito da região. Em 2009, a reserva foi finalmente homologada.

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Rondônia

Antigo território do Guaporé, Rondônia transformou-se em estado em 1982. Quando a economia se baseava no extrativismo da madeira, de minérios e da borracha, a região atraiu habitantes procedentes de todo o país. Muitos foram seduzidos pela aventura da construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, planejada para ligar a fronteira boliviana do rio Mamoré até a cabeceira navegável do rio Madeira, em Porto Velho. Foram tantos os trabalhadores que morreram erguendo o sonho na selva que os habitantes da região continuam repetindo que sob cada um dos dormentes jazia um cadáver.

O nome do estado homenageia o marechal Rondon, primeiro indigenista brasileiro, responsável pela instalação de linhas telegráficas ligando o Rio de Janeiro, São Paulo e o Triângulo Mineiro à região amazônica. A ele se devem levantamentos cartográficos, topográficos, zoológicos, botânicos, etnográficos e lingüísticos. Como diretor do Serviço de Proteção aos Índios, comandou a Expedição Roosevelt-Rondon, que levou o ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, a percorrer o interior do Brasil entre 1913 e 1914. Uma das frases mais famosas de Rondon sobre seu relacionamento com povos indígenas era: “Morrer, se preciso for; matar, nunca”.

Amapá

Disputada por portugueses, ingleses, franceses e holandeses, a região pertenceu ao Pará até 1943 e transformou-se em estado com a Constituição de 1988.

Colonizado por habitantes vindos principalmente de Minas Gerais, de Goiás, do Pará e do nordeste do país, o Amapá tem como principal cacique político um forasteiro. Depois de deixar o Maranhão para a filha Roseana Sarney, José Sarney passou a eleger-se senador pelo estado nortista.

Tocantins

Caçula dos 26 estados brasileiros, o Tocantins fez parte de Goiás até 1989. A luta pelo desmembramento intensificou-se na década de 1960, depois da transferência da capital do país para o Planalto Central. Cansados de reivindicar maior atenção do governo estadual – que, segundo os habitantes do norte, sempre privilegiou a região sul, onde fica Goiânia – os nortistas decidiram brigar pela emancipação.

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O deputado federal José Wilson Siqueira Campos foi o mais ativo defensor da ideia. Governador entre 1995 e 2002, Siqueira transformou em herdeiro político seu filho José Eduardo, eleito prefeito de Palmas em 1993 e senador, em 1999.

Amazonas

Maior estado brasileiro (1.570.745 quilômetros quadrados), o Amazonas fez parte do Pará até 1850. A região viveu seu grande momento a partir de 1900, quando Manaus se tornou a cidade mais rica do Brasil em conseqüência do ciclo da borracha. As sementes plantadas por essa fortuna colossal originaram riquezas que possibilitaram a implantação de um serviço de bondes elétricos e de um sistema de telefonia, eletricidade e água encanada sem paralelo no país.

Um dos políticos de maior destaque no estado foi Gilberto Mestrinho, líder populista eleito três vezes governador do estado – a primeira em 1958. Cassado pelo regime militar, Mestrinho perdeu o mandato em abril de 1964.

Com o fim do bipartidarismo, filiou-se ao PMDB e voltou ao governo em 1982, deixando como sucessor Amazonino Mendes. Envolvido em escândalos de corrupção, foi derrotado por Artur Virgílio Neto na disputa pela prefeitura de Manaus, em 1988. Eleito senador, morreu em 2009 no exercício do mandato.

Pará

Dominado por um tenente de 1930 até o fim da década de 50, o palco da política paraense foi dividido entre dois coroneis depois da instauração do regime militar em 1964. Jarbas Passarinho e Alacid Nunes revezaram-se no posto de comando que pertenceu a Magalhães Barata até sua morte em 1959.

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Nomeado governador em junho de 1964, Passarinho elegeu-se senador dois anos depois e, em seguida, assumiu o Ministério do Trabalho no governo Costa e Silva. No governo Médici foi ministro da Educação. Reeleito senador em 1974, foi um dos poucos arenistas a escapar da derrota naquele ano. Presidente do Senado no governo João Figueiredo, teve sua liderança contestada pelo antigo aliado, Alacid Nunes, que indicara para a prefeitura de Belém. A dupla passou anos disputando o controle o Partido Democrático Social (PDS) no Pará.

Mesmo com o apoio de Brasília, Passarinho não conseguiu impedir a vitória do então deputado federal Jáder Barbalho em 1982. Integrante do chamado bloco autêntico do PMDB, Barbalho garantiu o apoio de Alacid, que lhe rendeu o governo do estado. No mesmo ano, Passarinho perdeu a disputa ao Senado para Hélio Gueiros, assumindo o Ministério da Previdência Social de João Figueiredo em 1983.

Reeleito senador em 1986, Passarinho foi ministro da Justiça de Fernando Collor, mas deixou o cargo antes das investigações que resultariam no impeachment do presidente. Em 1994, perdeu para Almir Gabriel a eleição para o governo estadual.

Com o fim da ditadura militar, Alacid se afastou de Jáder Barbalho. Eleito deputado federal em 1990 pelo PFL, conseguiu emplacar o filho Hildegardo Nunes como vice-governador na chapa que reelegeu Gabriel.

Presidente do Senado em 2001, Jader Barbalho protagonizou um duelo feroz com o cacique baiano Antônio Carlos Magalhães, ao fim do qual ambos perderam o mandato. Eleito deputado federal em 2003, tenta voltar neste ano ao Senado. O político que já foi um exemplo de combatividade oposicionista luta na justiça para reverter a decisão do TSE que impugnou sua candidatura com base na Lei Ficha Limpa.

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