Leia entrevista com Luciano Hang, dono da Havan, e confira a reportagem completa sobre o empresário publicada na edição da semana. Ele afirma que não é bolsonarista, mas um ativista econômico que tem pavor da esquerda.
O STF mandou bloquear a sua conta nas redes sociais. Como o senhor recebeu essa decisão? Fiquei decepcionado. Tenho 8,5 milhões de seguidores. No Código Penal, há diversas formas de você punir alguém que faz alguma coisa errada. Tem calúnia, difamação, danos morais. Eu sou muito atacado por blogs, sites e jornais de esquerda, que falam mentiras sobre mim. E aí processamos cada um. É assim que tem que ser. Não tinha por que fazer esse bloqueio. Não faço fake news. Estou sendo cerceado no direito de ter as minhas redes sociais.
Qual foi a última vez que falou com o presidente Bolsonaro? Eu não falo com o presidente há uns quinze dias. Estive em Brasília há três meses, na posse do ministro da Justiça. Fui com outros empresários. Não sou bolsonarista como dizem.
Não? Naquilo que o governo fizer certo, vou defendê-lo. Naquilo que fizer errado, vou criticá-lo. Muitos empresários não se envolvem na política com medo de receber represália em qualquer órgão, seja municipal, estadual ou federal. Eu me envolvi para mudar isso e ajudar a reduzir a burocracia para não ficarmos à mercê de um burocrata. Sou um ativista, um patriota, querendo um país livre e com economia mais liberal.
Essa proximidade do governo ajudou ou prejudicou sua empresa? A Havan vem crescendo acima do mercado e do PIB. Em 2017, cresceu 35%. Em 2018, 46%, e em 2019, 45%. Neste ano vamos crescer, mesmo com a pandemia.
Aliás, o senhor foi contra o fechamento do comércio durante a pandemia. Em março, eu me assustei. Foi como bater de frente com um trem. De repente, 146 lojas fechadas e milhares de colaboradores parados. Na época, fui contrário à quarentena. Mas tudo bem. Fui voto vencido. Teve uma loja que ficou cinco meses fechada. Quem consegue sobreviver? É fácil tomar essa decisão para quem ganha o seu salário todo mês. Fui voto vencido. Mas, apesar da crise, estou otimista.
Por que o senhor se envolve em tantas confusões? Não tenho inimigos pessoais, mas sou brigão. Tenho uns 100 advogados. Ponho tudo no pau. Se todo mundo aceitar o errado como verdadeiro, não vamos mudar o nosso Brasil. A Havan é pioneira em abertura em domingos e feriados. Você acha que foi fácil fazer isso numa cidade com 60 000 habitantes, há trinta anos, enfrentando o padre, o bispo, o sindicato? Sou formado em tecnologia da informação. Então, um mais um é igual a dois. Por isso o pessoal da esquerda vai estudar sociologia, filosofia, porque pode discutir 100 anos um assunto e não vai chegar a nada.
No ano passado, o senhor provocou o ex-presidente Lula, oferecendo um emprego a ele. Ele não quis, né? Não está acostumado. Se aceitasse, eu garanto a você que ele iria aprender a trabalhar — ou, caso não desse resultado, seria demitido.
O senhor pretende entrar para a política? Quando as pessoas perguntam se quero ser político, digo que nem aprendi a ser comerciante. Estou com 57 anos de idade e não vou aprender a ser político nunca. Porque quem vive num dia a dia de uma empresa é muito difícil se envolver com política. Quem trabalha numa empresa trabalha muito com meritocracia, com metas e uma transparência muito grande.
Mas o senhor está na base de apoio do Aliança pelo Brasil, partido de Bolsonaro? Eu estive em Brasília na época do lançamento do partido. Fui dar um abraço nas pessoas que lá estavam. Mas eu não me filiei e não vou me filiar. Não quero perder a independência de falar o que quero.
A sua militância virtual não atrapalha os negócios? Eu vivi durante trinta anos no anonimato. Todo mundo perguntava de quem era a Havan. Eu sempre acreditava que a empresa precisava aparecer mais que o dono. No trigésimo ano da empresa, eu tive que aparecer, porque começaram a dizer que a Havan era da Dilma, do Lula, do filho do Lula, da filha da Dilma, dos chineses, do Edir Macedo, do Silvio Santos. Teve até gente que hoje é bolsonarista divulgando essa versão da Dilma. Comecei a perder cliente por causa disso. Nem meus funcionários sabiam que eu era o dono. Aí, resolvi aparecer. No ano passado, falamos com mais de 100 milhões de pessoas nas redes sociais.
O senhor é investigado por supostamente fazer propaganda para o presidente na campanha de 2018. Sou disléxico e, como Walt Disney, um marqueteiro que não sabe ler nem escrever, mas sabe fazer propaganda. Por qual motivo eu teria de gastar, como dizem, 12 milhões numa campanha política se não compro nem vendo para o governo, se não tenho interesse em cargo político? Nem dinheiro emprestado tenho com o governo. Nessa pandemia, fiz questão de não pegar nenhum valor de bancos públicos, para não vincularem meu nome ao governo. Não tenho empréstimo na Caixa nem no BB. Nada.
Existe preconceito contra bilionários? Sempre digo que não muda nada na vida da pessoa ter ou não ter dinheiro. O povo quer emprego, quer trabalhar, quer dinheiro e quer ser rico também. E isso é possível hoje em todas as camadas da sociedade. O cara tem que ser original e não ter medo do ridículo. Estou botando uma nova propaganda em que me visto de ovo, porque sou careca, orelhudo, narigudo e feio. Me chamam de Veio da Havan e de Zé Carioca. Já fiz a roupa do Zé Carioca. Hoje me visto de Capitão Brasil. Rapaz, a vida é curta.
Publicado em VEJA de 5 de agosto de 2020, edição nº 2698