O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, de 56 anos, já ameaçou contar o que sabe umas 300 vezes. Nunca deu certo, fosse porque não tinha o que contar, não contava tudo o que sabia ou não oferecia provas do que dizia.
Na semana passada, Marcos Valério, que está preso desde 2013, cumprindo pena por corrupção, lavagem de dinheiro, peculato, evasão de divisas e formação de quadrilha, conseguiu finalmente fechar um acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Pela sua biografia, tem potencial para incriminar meio mundo.
O publicitário tornou-se nacionalmente conhecido por sua participação no mensalão do PT, esquema para o qual levou sus experiência de ter sido figura central no chamado mensalão tucano, em Minas Gerais.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, a delação de Marcos Valério já possui 60 anexos que foram escritos à mão por ele e digitalizados por policiais.
A publicação sustenta que ele cita dois ex-presidentes, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva; e os senadores tucanos Aécio Neves e José Serra. Essa delação já tinha sido rejeitada pelo Ministério Público Federal, em Minas, mas a PF continuou investigando os crimes relatados pelo publicitário e coletando indícios para tentar homologar o acordo. Marcos Valério já assinou o acordo, a PF já enviou para o STF e agora aguarda pela homologação.
Em abril passado, VEJA teve acesso aos capítulos da proposta anterior de declaração premiada encaminhada ao MPF. Entre os temas estava um plano do PT para subornar o então ministro Joaquim Barbosa, que exercia a função de relator do mensalão no Superior Tribunal Federal (STF); informações sobre o caixa dois de petistas e tucanos e até mesmo o nome dos mandates do assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel.
Os procuradores, porém, não aceitaram a proposta de delação. Valério queixava-se de que havia uma operação destinada a evitar que ele rompesse o silêncio.
Diante da recusa do Ministério Público, os advogados do operador do mensalão então negociaram os termos de uma delação com a Polícia Federal. É esse acordo que acaba de ser selado.
Com base no conteúdo de depoimentos anteriores que ele prestou à Justiça, sabe-se que ele tem informações sobre o escândalo da Petrobras, detalhes inéditos do mensalão do PT e de um suposto esquema de propina que envolve Aécio Neves. Se ele vai falar com propriedade, só o tempo dirá.