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MDB já se articula para compor a chapa presidencial com Lula em 2026

A execução do plano de retornar ao centro do poder é complicada. Mas partido já tem três pré-candidatos ao posto

Por Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h25 - Publicado em 18 fev 2024, 08h00
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  • Desde a redemocratização, nenhum partido político orbitou, compartilhou, usufruiu e se locupletou do poder por tanto tempo quanto o atual MDB. Mesmo sem nunca ter vencido uma eleição presidencial, emedebistas históricos comandaram o país em três oportunidades, indicou ministros de Estado a sete presidentes seguidos e é, de longe, a sigla que mais esteve ao lado dos mandatários de turno. A gestão de Jair Bolsonaro, quando, pela primeira vez na história recente, o partido se manteve oficialmente afastado da Esplanada, foi uma exceção, daquelas que nenhum emedebista teve prazer em experimentar. Como oposição, a legenda perdeu cargos, verbas e relevância política. Em 2020, elegeu 784 prefeitos, 260 a menos do que no pleito anterior. Já o apoio ao atual governo foi recompensado com três ministérios importantes — Planejamento, Transportes e Cidades. Juntos, têm um orçamento de 80 bilhões de reais. Mas é pouco na conta de quem já foi gigante. A três anos da próxima eleição presidencial, o MDB articula para retornar ao centro do palco.

    A meta do partido é simples e objetiva: emplacar um correligionário como vice-presidente na chapa de Lula em 2026. Já a execução é um pouco mais complicada. Na cartilha eleitoral, um candidato a vice tem que, antes de tudo, agregar algo. Isso se mede em votos, na construção de palanques regionais, na promessa de uma futura base de sustentação parlamentar ou na representação de uma imagem qualquer para seduzir o eleitor. Por anos o maior partido do país, superado recentemente por uma filiação em massa de políticos ao PSD de Gilberto Kassab, o MDB reúne hoje três governadores, onze senadores, 44 deputados, além dos prefeitos e uma mulher como ministra de Estado, credenciais que, segundo os caciques do partido, atendem a esses requisitos. Vencida essa primeira fase, define-se o nome. Pelo menos três figuras em ascensão na legenda já se colocam, cada uma à sua maneira, à disposição para disputar o posto.

    Renan Filho, ministro dos Transportes do governo Lula.
    SONHO - Renanzinho: plano do ministro inclui candidatura a presidente em 2030 (Marcio Ferreira/MT/.)

    Atual ministro dos Transportes, Renan Filho é um dos mais eloquentes defensores de que o partido indique o vice de Lula em 2026 e que, de preferência, seja ele próprio o escolhido. Aos 44 anos e filho de um dos mais lulistas caciques do partido, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), Renan Filho foi governador de Alagoas, prefeito e deputado federal. Jovem e nordestino, região em que Lula amealhou quase 70% dos votos no segundo turno, trocou o posto de senador eleito pelo primeiro escalão do Executivo na perspectiva de se manter próximo e influente junto ao presidente. Ambicioso, ele confidenciou recentemente a uma pessoa próxima que tem como projeto político disputar ele próprio a Presidência da República em 2030 — sonhar, como se sabe, nada custa — e vê na vice-presidência um trampolim para chegar lá. Meio de brincadeira, meio a sério, seu nome foi listado em um discurso público de Lula como seu virtual sucessor quando o petista ainda não havia admitido disputar um novo mandato. O ministro, claro, não esqueceu a fala.

    Concorrente direto por um lugar ao sol na chapa de Lula, o governador do Pará Helder Barbalho também aparece na bolsa de apostas do partido como aspirante a vice — e com algumas jardas de vantagem. Além de partilhar características semelhantes às de Renan Filho — também tem 44 anos e está no segundo mandato no governo estadual — tem como trunfos ter conseguido se cacifar como foco de influência dentro da legenda. Têm as digitais dele, por exemplo, a eleição de nove deputados federais pelo Pará, um recorde para o partido, a indicação da mãe como primeira vice-presidente da sigla e a escolha do irmão Jader Filho como ministro das Cidades, pasta responsável pelo popular Minha Casa, Minha Vida. Em um momento em que as costuras para a formação da chapa deverão ganhar força, Helder ainda estará sob os holofotes no ano que antecede a eleição como anfitrião da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, em novembro de 2025.

    AMBIÇÃO - Helder Barbalho: governador do Pará quer usar a COP como vitrine
    AMBIÇÃO - Helder Barbalho: governador do Pará quer usar a COP como vitrine (Ag. Pará/.)
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    Um dos nomes mais vistosos da nova geração de um partido que tem o governismo no DNA, Simone Tebet, atual ministra do Planejamento, também é tratada como potencial companheira de chapa de Lula. Além de poder se apresentar como representante do eleitorado feminino, um ativo cada vez mais procurado pelos partidos, e vestir o figurino de política preparada e avessa a extremismos, uma pesquisa qualitativa em poder do MDB listou Tebet como o único nome da legenda conhecido nas cinco regiões do país. Seu plano original era voltar a se apresentar como candidata ao Planalto, em 2026, mas como a decisão de Lula concorrer à reeleição é dada como certa, seu projeto teve de ser adiado. Na última eleição, Simone implodiu pontes com seu reduto eleitoral, o estado do Mato Grosso do Sul, ao topar uma aliança com Lula no segundo turno. Uma recompensa à altura do custo político da decisão, dizem aliados, seria indicá-la para vice.

    Pelas contas do MDB, os critérios para a escolha do futuro companheiro de chapa de Lula não são os mesmos de 2022, quando o país, rachado por uma polarização alarmante, reuniu partidos de diferentes espectros ideológicos no segundo turno para derrotar Jair Bolsonaro. Inelegível pelo menos até 2030, o ex-presidente ainda é uma tremenda força política, mas agora não será mais necessário que o petista indique um adversário histórico como Geraldo Alck­min a vice para conseguir fazer frente à oposição. A moeda que provavelmente valerá em 2026, contabilizam caciques do MDB, são o peso e a força do partido, fatores que se revertem em tempo de TV para propaganda política e prefeitos atuando como cabos eleitorais. Uma primeira demonstração do poderio político da legenda são os planos de eleger pelo menos 900 prefeitos este ano.

    RECOMPENSA - Tebet: ministra implodiu pontes em seu reduto eleitoral ao apoiar Lula
    RECOMPENSA - Tebet: ministra implodiu pontes em seu reduto eleitoral ao apoiar Lula (@simonetebetms/Flickr)

    Por costuras como esta, no governo não são poucos os auxiliares de Lula que consideram que a recondução de Geraldo Alckmin ao posto de vice na chapa está na corda bamba. Além do notório apetite emedebista, o PSB, partido do vice, tem pouca densidade eleitoral — são apenas catorze deputados e três governadores. Além disso, o ex-tucano é cotado para disputar, com as bênçãos de Lula, o governo de São Paulo, estado que já comandou por quatro vezes, e tentar fazer frente ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), aliado de primeira hora do bolsonarismo e, a princípio, candidato à reeleição. Na última disputa presidencial, quando menos de dois pontos porcentuais definiram quem seria eleito presidente, Bolsonaro abriu vantagem de cerca de 5 milhões de votos sobre Lula entre os paulistas. Caberia a Alck­min, como candidato ao Palácio dos Bandeirantes, tentar esse cenário. Em agendas recentes, o atual vice-presidente tem participado de compromissos em São Paulo para se reaproximar de antigos apoiadores e reconstruir alianças no interior do estado.

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    Faltando uma eternidade para as próximas eleições presidenciais, parece cedo para discutir candidatos a vice, mas os debates antecipados têm motivo. Em 2026, o petista terá 81 anos. Os pretendentes ao cargo acreditam que, por causa da idade avançada, é possível que ele, se vitorioso, delegue cada vez mais funções ao companheiro de chapa, o que, em tese, acabará credenciando o ocupante do cargo a sucessor natural em 2030. O desafio será convencer o PT a retomar a aliança com um partido que já foi acusado de golpismo no impeachment da então presidente Dilma Rousseff. O histórico do MDB na vice-presidência, aliás, não é nada animador para seus parceiros (veja abaixo). Apesar disso, Lula, em nome de seu projeto de poder, certamente não se oporia. É nessa capacidade de sublimar o passado que os emedebistas apostam.

    Atalho para o Planalto

    Desde a redemocratização do país, em 1985, o MDB elegeu o vice-presidente em três ocasiões — todos eles acabaram assumindo o lugar do titular

    José Sarney
    José Sarney (Edilson Rodrigues/Agência Senado)

    José Sarney
    Primeiro vice da redemocratização, foi empossado presidente da República em março de 1985 depois da morte de Tancredo Neves e ficou cinco anos no poder

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    Itamar Franco
    Itamar Franco (José Cruz/Agência Brasil)

    Itamar Franco
    Ex-senador por Minas Gerais, tornou-se presidente depois que Fernando Collor, acusado de comandar um esquema de corrupção, sofreu um processo de impeachment em 1992

    Michel Temer
    Michel Temer (Alan Santos/PR)

    Michel Temer
    Duas vezes vice de Dilma Rousseff, assumiu o governo em 2016 com o afastamento da presidente, alvo de impeachment por conta de manobras contábeis para maquiar contas públicas

    Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880

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