O Ministério Público Federal chegou à conclusão de que o ex-procurador Marcelo Miller, que por cerca de três anos foi braço direito do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ajudou o empresário Joesley Batista e os demais delatores da JBS a elencar temas que deveriam ser delatados mesmo quando ainda atuava no Ministério Público. A dupla atuação de Miller é uma das principais armas da defesa do presidente Michel Temer para derrubar a íntegra do acordo de delação de Joesley. A provável rescisão do acordo de colaboração, no entanto, não invalida as provas, indícios e documentos apresentados pelos empresários.
Na última quinta-feira, a defesa dos executivos da JBS entregou ao Ministério Público mais uma rodada de áudios que seriam anexados ao processo. Aparentemente, os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud não perceberam que o gravador estava ligado e registraram conversas comprometedoras que citam ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), advogados, políticos e as próprias estratégias deles para nãos erem presos com o avanço da Operação Lava-Jato.
Em um trecho das conversas, ao qual VEJA teve acesso, Joesley Batista comenta que o procurador-geral tem interesse na delação da JBS e relata que, semanas antes, telefonou para Marcelo Miller “jogando a toalha”. Com base nas conversas, o Ministério Público conclui que “Miller ajudou Ricardo Saud a escrever anexos e prestou assessoria jurídica durante negociação do acordo de colaboração premiada”.