Durante as suas declarações finais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou praticamente todo o tempo para falar sobre suas conquistas políticas e se colocar como vítima de ataques da imprensa e dos procuradores que o denunciaram por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá (SP). Em pelo menos três momentos diferentes, o juiz Sergio Moro ficou incomodado com o discurso político do petista e o interrompeu para afirmar que aquele espaço não era destinado a palanque.
“Presidente, só para esclarecer: não sei quanto tempo vai durar o pronunciamento, mas não é para fazer um apanhado do que [o senhor] fez no seu governo, não é programa eleitoral”, disse Moro. O petista logo reagiu: “É porque eu estou sendo julgado pelo que eu fiz no governo, pela construção de um Power Point mentiroso. Aquilo é ilação pura”.
Mais adiante, o magistrado tomou novamente a palavra para dizer que Lula estava “realmente fugindo da questão” e que ele tinha condições de fazer esse tipo de fala em outros lugares. O petista insistiu — disse ter “orgulho” da Petrobras e do desafio que teve em assumir a presidência sendo um metalúrgico sem formação acadêmica — e pediu ao juiz por mais paciência. “Eu sei que o senhor é muito jovem, jovem tem menos paciência que velho”, cutucou.
Na parte final, ocorreu o momento de maior tensão entre Lula e Moro — o petista se virou para o juiz e reclamou de duas decisões tomadas por ele na Lava Jato, a de liberar os áudios de conversas telefônicas com mulher, Marisa Letícia, e a de decretar a sua condução coercitiva na 24ª fase da Operação.
“O senhor sem querer entrou nesse processo, porque o vazamento de conversas com a minha mulher e os meus filhos foi o senhor que autorizou. Eu não tinha o direito de ter a minha casa molestada, sem que eu fosse intimado para uma audiência. Ninguém nunca me convidou. De repente, eu vejo um pelotão da Polícia Federal, quando eu sai até levantaram o colchão, achando que eu tinha dinheiro”, afirmou.
O ex-presidente prosseguiu, dizendo a Moro para tomar cuidado porque a imprensa também passaria a ataca-lo se percebesse que ele poderia absolve-lo na ação penal. O juiz retrucou: “Senhor ex-presidente, eu já sou atacado por bastante gente, inclusive por blogs que supostamente patrocinam o senhor. Também padeço dos mesmos males em certa medida”.
Com um calhamaço de folhas na mão, Lula listou ao juiz em números exatos quantas vezes virou manchete de jornais e capas de revista por acusações da Lava Jato. Moro rebateu, perguntando se outros réus também não haviam sido citados nas matérias. “A imprensa tem a liberdade dela. Só para esclarecer: Não é a imprensa que faz a acusação nesse processo”, completou.
Num certo momento, Lula tentou apelar para o lado emocional do juiz, dizendo que não estava preocupado com os adversários, mas com os seus netos de 4 e 5 anos que sofrem bullying na escola “por causa das mentiras” e ficam lhe fazendo perguntas. “Confesso que esperava mais respeito por um homem que deu a esse país uma dignidade que ele não tinha há muito tempo”, disse.