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Mulheres relatam abusos sexuais do médium João de Deus

Em entrevistas ao 'Conversa com Bial', da TV Globo, elas afirmaram que os abusos ocorreram durante atendimentos espirituais. Médium nega

Por Redação
Atualizado em 8 dez 2018, 11h08 - Publicado em 8 dez 2018, 11h05
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  • Quatro mulheres entrevistadas pelo programa Conversa com Bial, da TV Globo, relataram terem sido abusadas sexualmente pelo médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, que há mais de 40 anos faz atendimentos espirituais na Casa Dom Inácio de Loyola, na cidade de Abadiânia (GO). Os casos de abuso teriam ocorrido entre 2013 e 2017. O programa, que foi ao ar na noite desta sexta-feira 7, diz ter colhido depoimentos de dez mulheres com relatos similares.

    Por meio de nota, uma assessora do médium afirma que ele “rechaça veementemente qualquer prática imprópria em seus atendimentos”.

    Segundo os depoimentos das mulheres ao jornalista Pedro Bial, os abusos cometidos por João de Deus seguiam um padrão. Ele primeiro as atendia em público, incorporando uma “entidade”, que pedia para que encontrassem o médium em seguida, sozinhas, em seu escritório. Os abusos sexuais ocorriam, de acordo com os relatos, dentro da sala dele. Algumas dizem ter sido levadas a um banheiro dentro do cômodo. Elas afirmam que João de Deus lhes pedia sigilo sobre as supostas “práticas espirituais”.

    A única das quatro mulheres a se identificar foi a coreógrafa holandesa Zahira Lienike Mous, que procurou João de Deus em 2014 para, em suas palavras, “curar” uma experiência de abuso sexual pela qual passou. Ela costumava visitar o Brasil desde os 17 anos, por ter um tio que vivia em Minas Gerais. Antes de falar ao programa da TV Globo, ela havia revelado os abusos em uma publicação no Facebook.

    No relato de Zahira a Pedro Bial, ela afirma que foi levada ao banheiro e que o médium lhe pediu que ficasse de joelhos, de frente para ele. “[João de Deus] Abriu a calça, colocou a minha mão no pênis dele e começou a movimentar a minha mão em cima do pênis dele. E eu estava em choque, eu não conseguia acreditar naquilo, eu estava congelada. E ele continuava falando da minha família e disse que eu deveria sorrir”, disse.

    Zahira Mous contou que, depois de ter sido abusada sexualmente, “ele se limpou, me levou ao escritório de novo, me sentou no sofá, abriu um armário de pedras preciosas e mandou escolher a que eu mais gostasse”. “Não sei quantos dias depois, ele me puxou de novo para o banheiro. Um padrão parecido, mas ele deu um passo adiante: me penetrou por trás”, relatou.

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    As três brasileiras que deram seus testemunhos ao programa não quiseram se identificar. Uma delas afirmou que foi à Casa Dom Inácio de Loyola em 2014 e 2015 por problemas com depressão, síndrome do pânico e pensamentos suicidas. Ela contou ter sido levada ao escritório de João de Deus, quando ele lhe disse que a “conhecia de outras vidas” e que “eles tinham uma história juntos”.

    “[João teria dito] ‘Levanta aqui que eu vou limpar os seus chacras’. E nisso ele ficou em pé, eu fiquei na frente dele. E ele já começou a fazer o movimento, como se estivesse abrindo, assim, passou a mão no meu peito, tudo, e eu lá… “, contou ela. Em seguida, o médium teria lhe pedido passar que ela fizesse uma massagem em sua barriga, o que ela fez, e então, segundo a mulher, ele tirou o pênis para fora.

    “Ele pegava na minha mão, para eu pegar no pênis dele. E eu tirava a mão. E ele falava: ‘Você é forte! Você é corajosa! O que você está fazendo tem um valor enorme!’. Eu não estava fazendo nada! Eu estava ali, sabe, sendo abusada. Não estava fazendo nada.  ‘Olha isso que você está fazendo, isso vai ser muito bom pra você’”, disse a mulher no programa. Ela também relatou que, depois do abuso, João de Deus “abriu uma caixa com pedras preciosas” e deu a ela uma esmeralda.

    Outra brasileira ouvida pelo Conversa com Bial relatou ter ido a Abadiânia em 2009, por um problema de saúde do filho, e em 2013, depois de se divorciar do marido. O abuso sexual, diz ela, ocorreu na segunda ocasião, quando foi atendida por João de Deus em seu escritório e levada ao banheiro. O cômodo é descrito nos relatos como um espaço grande, que tinha até um sofá.

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    A pretexto de “realinhar energias” da mulher, conforme o relato dela, João de Deus pediu que ela tocasse seu pênis. “E aí ele ficou muito próximo, ele mandou eu colocar a mão para trás, isso ele já tava com o pênis dele para fora. Ele falou: ‘põe a mão. Isso é limpeza, você precisa da minha energia, que só vem dessa maneira, para eu poder fazer a limpeza em você’. Eu fiz, e ele falou ‘amanhã você vai para a corrente, fica na corrente e vem me ver no fim do dia’. E pediu pra eu chacoalhar o quadril, mexer o quadril”.

    A mulher relatou ter voltado ao centro espiritual do médium depois de 45 dias, quando ele teria repetido a mesma prática. No dia seguinte, João de Deus supostamente pediu a ela que fizesse sexo oral nele. “E aí eu fiz com muito nojo. Eu realmente não fazia, porque eu não chegava perto. E ele falava: ‘faça isso direito menina, você não quer as coisas? Como é que fazendo essas coisas desse jeito você vai ter as coisas na sua vida? É desse jeito que você faz as coisas na sua vida? Você nunca vai ter nada’”, disse ela.

    Em uma visita posterior à Casa Dom Inácio de Loyola, a mulher contou que o médium “ficou muito bravo” por estar acompanhada de um homem de sua família.

    A terceira brasileira entrevistada pelo programa, que também não se identificou, contou ter procurado o médium em 2017, após passar por tratamentos contra um câncer de mama. Na primeira visita, ela foi acompanhada do marido e passou por uma “cirurgia espiritual comunitária” em Abadiânia. Depois de 30 dias, voltou sozinha.

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    “[João teria dito] ‘Bom, minha filha, você levante que eu vou te curar e você vai ter que se entregar’. Aí ele pediu pra eu ficar de costas e nisso ele começou a passar a mão no meu corpo”, disse ela. Segundo a mulher, João de Deus apalpou seu abdômen, seus seios e nádegas e afirmava que estava “mexendo com a energia kundalini”.

    “Aí eu senti o membro dele nas minhas nádegas, porque até então ele já estava me comprimindo, comprimindo o meu corpo. Aí eu comecei a chorar, comecei a ficar desesperada. E eu só pensava assim: ‘como que eu vou sair daqui?’”, contou. Ela disse que teve medo de gritar e alertar as pessoas fora da sala porque poderia ser hostilizada por aqueles que “endeusam” o médium.

    A mulher disse que, diante de seu desconforto, João de Deus reclamou que ela “não estava colaborando”. “[João teria dito] ‘você tem que mover seu quadril para um lado e para o outro e colocar as mãos na minha virilha’. Aí até uma hora que ele ficou bem irritado e se afastou assim e falou: ‘estou indo até o fundo do poço por você e sua família e você está sendo ingrata, você não está se entregando. Se você não fizer o que eu estou falando, sua doença vai voltar’”, afirmou. Depois do suposto abuso, o médium teria dito: “Você não vai falar para ninguém o seu processo de cura comigo”.

    Outra entrevistada pelo programa da TV Globo foi a coach espiritual americana Amy Biank, que estima ter levado à Casa Dom Inácio de Loyola cerca de 1.500 estrangeiros entre 2002 e 2014. Ela atuava como guia aos que pretendiam conhecer João de Deus.

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    Em uma das ocasiões, ela disse ter ouvido um grito de socorro de dentro da sala do médium e entrado. Segundo Amy, João havia pedido para uma mulher fazer sexo oral nele. “Ela não queria fazer sexo oral nele, foi por isso que gritou. Sentei no sofá e fechei os olhos, porque estava doutrinada a achar que tudo era divino e especial. Ela gritou de novo, eu abri os olhos e ele parou”.

    “Ele sabia que eu tinha visto! Mais tarde, veio na minha pousada, parou na minha mesa e disse: ‘Quando sou João, sou somente um homem! Um homem tem suas necessidades’”. Após o episódio, Amy Biank diz ter recebido ameaças de morte.

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