Dentre os quase 20 milhões de itens destruídos pelo fogo que consumiu o Museu Nacional no último domingo, as múmias egípcias arrematadas pelo próprio Dom Pedro I estavam entre os que despertavam maior curiosidade de visitantes e pesquisadores. O que pouca gente sabe é que foram necessários alguns séculos para que a coleção – considerada a maior da América Latina – caísse nas graças dos cariocas.
Instalada em julho de 1826 no andar térreo do Museu Real – primeiro nome da instituição fundada por d. João VI – a exposição não impressionou todo o público que compareceu ao Campo de Santana, no Centro do Rio, onde funcionava o museu. Uma carta publicada pelo jornal Ástrea no dia 19 de setembro daquele ano afirmava que o local parecia ter se transformado “(…) nas antigas catacumbas dos Terceiros de S. Francisco, onde se mostravam pedaços de corpos mirrados”.
O crítico também disparou contra os animais mumificados que completavam o acervo: “Também aí se falou em gatos do Egito: por mais que acanhasse as pupilas dos olhos não vi o que era, apenas umas capas, e uns embrulhos nojentos”.
A crítica não impediu que Dom Pedro I comprasse a coleção em abril de 1827. Conta-se que o primeiro imperador do Brasil teria sido influenciado por seu ex-ministro e futuro tutor de d. Pedro II, José Bonifácio de Andrada e Silva.
Prestes a lançar a biografia do segundo monarca, na qual narra o processo de criação do museu, o historiador Paulo Rezutti discorda: “Nessa época, os dois estavam de relações rompidas e Bonifácio se encontrava exilado na Europa. Se alguém pode ter influenciado a compra, provavelmente essa pessoa foi d. Leopoldina, estudiosa de ciências naturais e ávida por conhecimento”, explica.