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‘Não é bom ser impedido de cantar’, diz Caetano Veloso

Cantor criticou decisão que vetou show dele em ocupação do MTST e declarou que esta é a primeira vez em que é proibido de cantar no período democrático

Por Ricardo Chapola
Atualizado em 4 jun 2024, 20h37 - Publicado em 30 out 2017, 22h10
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  • Depois de a Justiça de São Paulo barrar o show de Caetano Veloso na ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em São Bernardo do Campo (SP), o cantor e compositor classificou a decisão como “manobra legal” e afirmou que esta foi a primeira vez em que foi impedido de cantar desde o fim da ditadura militar, em 1985. Mais cedo, a juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Bernardo, atendeu a pedido do Ministério Público, que alegou que a área é invadida, que a invasão é ilegal e que o local não tem estrutura para comportar um show desse porte, além de não ter as autorizações necessárias.

    “No período democrático, creio que não, é a primeira vez [que é impedido de cantar]. Eu vivi o período oficialmente não democrático, não é bom pra mim ser impedido de cantar”, disse o cantor a jornalistas. Questionado por que havia usado o termo “oficialmente não democrático”, Caetano explicou que “durante a ditadura, era nitidamente uma ditadura, fechou-se o Congresso, não se dizia que era democracia, não era. Mas agora, formalmente, é uma democracia, então a gente tem que obedecer às leis do Estado de Direito”.

    Para o cantor e compositor, “manobras legais foram feitas para que o show não pudesse acontecer” e a decisão “dá a impressão de que não é um ambiente propriamente democrático”. “Pode ser um modo de reprimir alguma ação que seria legítima, em princípio. Mas eles apresentam também justificativas por causa de segurança, porque como o lugar não foi vistoriado. Mas não é em um lugar interno, tem espaço, seria possível. Eu acho que há má vontade deles”, criticou Caetano.

    Além de Caetano Veloso, a comitiva de artistas contou com as atrizes Sonia Braga, Leticia Sabatella e Alline Moraes, os cantores Emicida e Criolo e a produtora Paula Lavigne, mulher de Caetano. O vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT) e o deputado estadual do Rio de Janeiro Marcelo Freixo (PSOL) também participaram do ato.

    Caetano disse ter se inteirado da pauta de reivindicações da invasão do MTST a partir de uma conversa com o líder do movimento, Guilherme Boulos, no Rio de Janeiro. Ele argumentou que um terreno como o ocupado pelos sem-teto, que pertence a uma construtora e está vago há 40 anos, “não pode ficar sem função social”. “Não é um parque, não é uma construção para moradia, então, a invasão tem um sentido de exigir que a lei se cumpra, então achei que é legítimo apoiar publicamente e estar perto das pessoas, viver e cantar”, completou.

    O cantor ainda declarou que, embora o show tenha sido barrado, as pessoas que participam da invasão puderam ver que têm apoio de parte da classe artística.

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    Ao fim da curta entrevista a jornalistas, Caetano foi questionado sobre qual música dedicaria aos membros da ocupação. Encorajado por Paula Lavigne, que pediu “uma cantadinha”, “porque isso aqui não é show, é entrevista”, o compositor citou a música Gente, escrita por ele em 1977, e cantarolou alguns versos. Veja abaixo o vídeo e a letra da canção:

    Gente (Caetano Veloso)

    Gente olha pro céu

    Gente quer saber o um

    Gente é o lugar

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    De se perguntar o um

    Das estrelas se perguntarem se tantas são

    Cada, estrela se espanta à própria explosão

    Gente é muito bom

    Gente deve ser o bom

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    Tem de se cuidar

    De se respeitar o bom

    Está certo dizer que estrelas

    Estão no olhar

    De alguém que o amor te elegeu

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    Pra amar

    Marina, Bethânia, Dolores,

    Renata, Leilinha,

    Suzana, Dedé

    Gente viva, brilhando estrelas

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    Na noite

    Gente quer comer

    Gente que ser feliz

    Gente quer respirar ar pelo nariz

    Não, meu nego, não traia nunca

    Essa força não

    Essa força que mora em seu

     

    Coração

    Gente lavando roupa

    Amassando pão

    Gente pobre arrancando a vida

    Com a mão

    No coração da mata gente quer

    Prosseguir

    Quer durar, quer crescer,

    Gente quer luzir

    Rodrigo, Roberto, Caetano,

    Moreno, Francisco,

    Gilberto, João

    Gente é pra brilhar,

    Não pra morrer de fome

    Gente deste planeta do céu

    De anil

    Gente, não entendo gente nada

    Nos viu

    Gente espelho de estrelas,

    Reflexo do esplendor

    Se as estrelas são tantas,

    Só mesmo o amor

    Maurício, Lucila, Gildásio,

    Ivonete, Agripino,

    Gracinha, Zezé

    Gente espelho da vida,

    Doce mistério

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