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Negócios entre empresas e doleiros levaram à Operação Descarte

Alberto Youssef, um dos principais delatores da Lava Jato, e Leonardo Meirelles participaram de lavagem de dinheiro em esquema no setor de limpeza urbana

Por Agência Brasil 1 mar 2018, 16h37

A Operação Descarte, deflagrada hoje (1º) pela Polícia Federal (PF) para desarticular um esquema de lavagem de dinheiro, teve origem na fiscalização de duas empresas que teriam feito transações com os doleiros Alberto Youssef e Leonardo Meirelles, investigados na Operação Lava Jato.

Youssef e Meirelles, ambos delatores, confirmaram que fizeram transações com as empresas alvo da Descarte. Participavam da rede 14 companhias que funcionavam como fachada para simular a venda de insumos que nunca foram entregues aos compradores. Os pagamentos eram feitos por meio de transferências bancárias ou boletos para dar aparência de legalidade aos negócios.

De acordo com o chefe da delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros, Victor Hugo Rodrigues Alves Ferreira, a organização criminosa se estruturou em seis células empresariais, cada uma ligada a um grupo econômico e composta de várias empresas de fachada, registradas em nome de “laranjas”. “Uma das empresas que usou esse grupo para lavar dinheiro foi o Consórcio Soma, formado em 2011 para participar de uma licitação em São Paulo na área de limpeza urbana da prefeitura”, disse Ferreira. O esquema funcionou entre 2012 e 2017.

Ainda segundo Ferreira, o Consórcio Soma entrou em contato com essas empresas, que passaram a emitir notas fiscais simulando a venda de mercadorias para o consórcio, como detergente e sacos de lixo.

Depois de emitidas as notas fiscais das vendas simuladas, o grupo transferia o dinheiro a contas das firmas de fachada. “Na seqüência, esse dinheiro é transferido novamente para outras empresas de fachada para dissimular a origem e o destino dos valores. E, finalmente, esses valores eram transferidos para as contas de pessoas ligadas ao esquema ou então remetidos para o exterior”, explicou.

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Segundo o auditor fiscal Flávio Correa Prado, de 14 empresas fornecedoras do Soma, todas tinham forjado a emissão de notas fiscais de mercadorias que nunca existiram.

“Dessas empresas nem todas eram fantasmas puras, algumas tinham atividade operacional, mas uma delas tinha como titular um serralheiro, outra tinha o colega desse serralheiro, a esposa desse segundo era titular de outra. Os mecânicos de bicicleta que trabalhavam do lado da serralheria também eram laranjas. Todas as empresas tinham controle comum, operando de forma similar”, observou.

De acordo com as investigações, desde que ganhou a licitação, o consórcio faturou 100 milhões de reais e a estimativa é de que 200 milhões de reais foram lavados com o esquema.

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Segundo Victor Alves Ferreira, é possível que o Soma tenha abatido os excessos do Imposto de Renda. “Se eles inflavam as despesas, eles pagavam menos Imposto de Renda. No mínimo aconteceu isso. Mas não está descartada a hipótese de que parte desse dinheiro que saiu do Consórcio Soma e transitou por essas dezenas de contas tenha se destinado ao pagamento de servidores públicos”, afirmou.

Vários veículos de luxo foram adquiridos pelo grupo criminoso. Todos foram registrados em nome de laranjas. Caso se confirmem as suspeitas dos policiais, a expectativa é que os investigados sejam acusados de crimes como lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação tributária e associação criminosa. Há também suspeitas de práticas dos crimes de corrupção ativa e passiva.

O Consórcio Soma informou que cumpre todas as exigências legais e que está prestando as informações solicitadas pela Polícia Federal. A prefeitura disse que não comentará o assunto.

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