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Nizan Guanaes: ‘Fake news’ são jornalismo com criminalidade

Para publicitário, empresas como Facebook e Google têm que estabelecer códigos para saber separar o que é uma notícia do que é mentira

Por Leonardo Lellis Atualizado em 10 dez 2018, 09h17 - Publicado em 24 abr 2018, 15h00
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  • Toda empresa será vítima de notícia falsa um dia. A constatação é do publicitário Nizan Guanaes, que discutiu como os boatos atingem as companhias em sua participação no fórum Amarelas ao Vivo, promovido por VEJA nesta terça-feira, com o tema “Como as redes sociais e as fake news afetarão as eleições, o Brasil e você”.

    Em entrevista conduzida pelo redator-chefe e titula da coluna Radar, Mauricio Lima, Guanaes recomendou que as empresas criem um “cinturão de empatia e transparência” para quando acontecer de um boato atingi-las. Ele elogiou a iniciativa da Unilever, que anunciou recentemente que não fará propaganda em plataformas que não tenham mecanismos para coibir fake news.

    “Como colocar anúncios em plataformas que estão colocando coisas absurdos sobre pessoas, países, opções sexuais? É uma excrescência.” O publicitário também cobrou maior controle das empresas de tecnologia para reduzir os efeitos do fenômeno.

    Para ele, empresas como Facebook e Google têm que estabelecer códigos para saber separar o que é uma notícia do que é mentira. Em uma comparação com o mercado publicitário brasileiro, regulado pelo Conar, Nizan Guanaes considera que as empresas de tecnologia devem ser capazes de remover conteúdo nocivo e possam ser responsabilizadas.

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    Citando o escândalo Cambridge Analytica, em que dados coletados no Facebook foram usados para influenciar as eleições americanas, Nizan Guanaes considera que a própria plataforma é uma das maiores vítimas de notícias falsas, “provando do próprio veneno”. “O Facebook fez deliberadamente aquilo? Não sei se fez. É paradoxal que o Facebook seja vítima das coisas que acontecem com ele.”

    Nizan Guanaes enfatizou que fake news não têm qualquer relação com a propaganda. “É mistura de jornalismo com criminalidade. É uma coisa engendrada para fazer com que a gente seja conduzido a conclusões erradas”. Ele também relativizou a capacidade que os leitores têm de conferir a veracidade de toda informação que recebe. “Eu não tenho condição de ficar checando o que me passam. No calor da emoção você acaba compartilhando o que não é verdadeiro”, disse.

    Eleições

    Falando sobre o cenário eleitoral, Nizan Guanaes disse que, hoje, os publicitários não têm o poder de inventar um candidato. “Isso talvez existia nos primórdios do raciocínio político do Brasil. Hoje vai ser cada vez mais difícil pegar um candidato do nada porque pessoas discutem política tanto quanto futebol”. O publicitário também comentou que o pré-candidato Jair Bolsonaro existe porque interpreta, “do jeito dele”, uma demanda da população sobre segurança.

    “Existe uma demanda de raiva, de radicalismo, que é natural nas pessoas quando elas convivem com violência. Quer que elas reajam como? É desta demanda que surge o Bolsonaro e que em outros momentos da história surgiram opções radicais. Mas isso é democracia.” O publicitário também criticou a predominância do senso comum no debate. “As pessoas querem customizar o Supremo, que ele vote de acordo com elas. O Congresso tem que ser especializado em compreender a complexidade das coisas.”

    Sobre a possibilidade de ser candidato a deputado federal nas eleições, ele brincou tratar-se de uma notícia falsa criada por ele mesmo. “Eu não tive o cuidado de apurar a notícia com a minha mulher, que é a editora-chefe”, disse, reconhecendo que gostaria de ajudar país na política, mas desistiu depois de uma reflexão mais profunda. “Eu não tenho a lógica da política. Não tenho a couraça da política. O setor não é minha expertise nem o meu foco”. 

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    Pesquisa exclusiva feita a pedido de VEJA pela consultoria Ideia Big Data, com 2 004 pessoas ouvidas por telefone entre 9 e 10 de janeiro, mostra que 83% dos entrevistados temem compartilhar notícias falsas em suas redes sociais e grupos de WhatsApp.

    A preocupação com a influência das notícias falsas nas eleições aumentou após a vitória do republicano Donald Trump à Presidência dos EUA. Uma pesquisa das universidades de Dartmouth, Princeton e Exeter mostrou que durante a eleição presidencial, um em cada quatro americanos leu conteúdo falso. Isso, porém, não significa necessariamente que as inverdades foram relevantes para a tomada de decisão dos eleitores.

    Apesar do alcance das fake news, os eleitores continuam se informando com muito mais frequência pelos veículos da imprensa profissional, diz o estudo. O que os pesquisadores verificaram, no fim, foi que as fake news circularam com mais força nas extremidades do espectro político, em que a decisão de voto já está tomada e a notícia falsa serve apenas como “viés de confirmação”.

    Na Europa, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou que enviará ao Congresso um projeto de lei para conter as notícias falsas. No Brasil, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) criou força-tarefa para combater as fake news nas eleições presidenciais deste ano. Um grupo com membros da Polícia Federal e do Ministério Público Federal estuda métodos legais para conter a proliferação de notícias falsas e a atuação de robôs na internet, além de encontrar os responsáveis por sua disseminação.

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    Mauricio Lima entrevista Nizan Guanaes
    “Como colocar anúncios em plataformas que estão colocando coisas absurdos sobre pessoas, países, opções sexuais? É uma excrescência”, questiona Nizan Guanaes – 24/04/2018 (Antonio Milena/VEJA.com)

     

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