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‘Nunca parei de sonhar’, diz Pedro Janot, paraplégico após acidente

O empresário fala sobre como seguiu em frente depois da tragédia

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 14h04 - Publicado em 16 abr 2021, 06h00
**ATENÇÃO**NÃO REUTILIZAR ESTA IMAGEM, SUJEITO A COBRANÇA POR USO INDEVIDO**FOTO EXCLUSIVA PARA A UTILIZAÇÃO APENAS NA REVISTA VEJA**
PEDRO JANOT – (Fabio Braga/Folhapress/.)

Eu trouxe a Zara para o Brasil e participei da criação da companhia aérea Azul. Sempre trabalhei muito, de doze a dezesseis horas por dia. Em 2011, presidia a Azul e sofri um acidente de cavalo que me deixou paraplégico. Quando o animal fez o movimento de subida, caí com a cabeça no chão após uma crise de hipoglicemia — ou seja, eu teria desmaiado e me acidentado mesmo sem estar no cavalo. Já no chão, pensei: que merda, quebrei o pescoço. Senti muita dor. Aliás, continuo sentindo até hoje. Passei os primeiros quatro dias no hospital com os olhos fechados, me perguntando em que planeta eu estava. Aos poucos, comecei a me reconstruir, a reconstruir a relação com a minha família (muito afetada pelas longas horas no trabalho) e com o meu corpo. Recebi apoio e amor incondicionais.

Aprendi muitas lições com o acidente. A primeira: não sobrecarregue o seu corpo. Sempre gostei de velejar, de me expor a riscos físicos, de suar e sangrar, e percebi com o acidente que nem sempre isso é uma boa ideia. A segunda lição foi que eu certamente deveria ter passado mais tempo com os meus filhos. É possível trabalhar arduamente e, ao mesmo tempo, dedicar maior atenção à família. Você é o único responsável pelo seu tempo, e é seu dever fazer escolhas da melhor maneira possível, equilibrando as diferentes partes de sua vida. Também aprendi com o acidente que você nunca sabe o que vai ser daqui para frente. Eu não fazia ideia de tudo que aconteceria comigo, nem de como a vida poderia mudar completamente de uma hora para outra.

Demorei três anos para entender quem eu seria e o que faria depois do acidente. Na área profissional, o primeiro passo foi ser palestrante. Ganhei dinheiro e empreendi no mundo das palestras, mas achava que estava fazendo pouco. Saí desse universo para trabalhar como consultor, orientado para o varejo, a minha área de especialidade. Não gostei. O trabalho de consultor é muito repetitivo.

A essa altura, parte do meu cérebro já tinha aceitado a nova realidade, e comecei a sonhar mais alto. Passei a atuar como conselheiro de companhias de capital aberto, o que envolve grandes riscos. Depois, parti para companhias menores, que oscilam entre 100 milhões e 800 milhões de reais de faturamento. Mais recentemente, desenvolvi, com três jovens, o Solum VC, um fundo de investimentos especializado em empresas com potencial de crescimento. Já trabalhei em várias áreas de negócio e hoje posso dizer que aprendi a equilibrar a vida profissional, e os desafios que o meu corpo impõe, com minhas obrigações familiares.

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Escrevi um novo livro, A Vida É Tudo o que Você Faz com Ela, porque tenho muita vontade de dividir minhas experiências. Essa é a minha forma de falar especialmente com os jovens, e para isso me inspirei no comportamento de meus filhos e de seus amigos. Em resumo, o livro diz que você pode chegar aonde quiser: basta querer. Eu escrevo sobre meus medos, erros e acertos ao longo da jornada, e comparo o desafiador mundo dos negócios com os altos e baixos da minha vida.

Eu sou um otimista, mas tenho espírito de vira-lata. É que sempre projetei objetivos ambiciosos, mas nunca esperei chegar lá. Trabalhei tanto que o vira-lata acabou ficando para trás. Ainda assim, acredito demais no otimismo. Pessoas como eu não aceitam as dificuldades da vida. Ao contrário, vão em busca das oportunidades. No fim das contas, escrevi o novo livro para disseminar conhecimento. Quero que a minha história sirva de inspiração e desejo sinceramente que as pessoas sejam mais otimistas, a despeito dos problemas que aparecerem. Em toda a minha vida, eu nunca parei de sonhar e fazer os outros sonharem comigo. Não seria diferente agora.

Pedro Janot em depoimento dado a Sabrina Brito

Publicado em VEJA de 21 de abril de 2021, edição nº 2734

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