Levando-se em conta o clima das campanhas nas últimas semanas, a expectativa era de um embate padrão MMA no primeiro encontro dos presidenciáveis no segundo turno. O evento realizado pela Band no domingo esteve mais para a antiga luta-livre, na qual os adversários repetiam coreografias ensaiadas de combate, em tom de marmelada. Durante o programa, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva chamaram um ao outro de “mentiroso” por inúmeras vezes e atacaram o oponente com munições previsíveis. O presidente foi às cordas quando o assunto era pandemia, mas tanto as acusações quanto os argumentos de defesa já eram bastante conhecidos. Bolsonaro deu o troco colocando em pauta temas como o petrolão, mas tampouco houve novidades na discussão desse capítulo. O formato inovador do debate ajudou no bate-boca, abrindo espaço para troca de “elogios” mútuos por blocos de quinze minutos, sem qualquer mediação.
Numa contabilidade mais fria, o empate técnico é mais vantajoso para Lula, que terminou o primeiro turno vitorioso e segue à frente nas pesquisas. Em outra leitura possível, Bolsonaro poderia comemorar o resultado, pois conseguiu arrastar o adversário para o campo mais rasteiro de discussão, o que em tese seria capaz de acender de vez a chama do “antipetismo”, que parece ser a sua única arma na reta final do pleito. Mas as campanhas de ambos vão se esmerar em fazer edições sob medida para as redes sociais de forma a mostrar que o seu lado “esmagou” o adversário nas argumentações. Enquanto pode haver algum questionamento sobre quem se saiu melhor, não resta dúvida sobre quem saiu perdendo no debate: o eleitor. No clima de bate-boca de várzea que dominou o confronto, temas como economia e educação foram abordados superficialmente e perderam espaço para a troca mútua de acusações. Para um país com enormes desafios pela frente nos próximos anos, não poderia haver programa pior que o debate da Band.