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OAB-MT diz que desfile de crianças para adoção foi mal interpretado

Para organizadores, ideia era dar 'visibilidade a crianças e adolescentes'; no Twitter, usuários classificaram ato como 'desumano' e 'absurdo'

Por André Siqueira Atualizado em 23 Maio 2019, 07h29 - Publicado em 22 Maio 2019, 20h27
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  • A Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Mato Grosso e a Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (AMPARA) afirmaram, nesta quarta-feira, 22, que a segunda edição do desfile “Adoção na Passarela” foi mal interpretada.

    Na terça-feira 21, no Pantanal Shopping, em Mato Grosso, crianças e adolescentes de 4 a 17 anos participaram do evento que, segundo os organizadores, tinha a intenção de “dar visibilidade” aos menores e chamar a atenção para a falta de interessados na “adoção tardia”, isto é, as de crianças acima dos três anos de idade. Mesmo assim, o evento foi criticado nas redes sociais.

    Em nota enviada a VEJA, a CIJ e a AMPARA afirmam que “em nenhum momento houve a exposição de crianças e adolescentes” e que eles não foram obrigados a participar da iniciativa. “Nenhuma criança ou adolescente foi obrigado a participar do evento e todos eles expressaram aos organizadores alegria com a possibilidade de participarem de um momento como esse”, diz o comunicado.

    Segundo os organizadores, a ação representa uma oportunidade para as crianças integrarem “uma convivência social, diretriz do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária” e que o desfile foi apenas uma das ações da “Semana da Adoção”, que é composta por “palestras, seminários e recreação para as crianças”.

    As instituições também esclarecem que as crianças e adolescentes que desfilaram o fizeram na companhia de seus “padrinhos” ou com seus “pais adotivos”. “A realização do evento ocorreu sob absoluta autorização judicial conferida pelas varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande, bem como o apoio do Poder Judiciário”, acrescenta a nota.

    Em outro trecho do documento, CIJ e Ampara afirmam que na primeira edição do desfile, realizado em 2016, “dois adolescentes, cujo perfil está fora dos parâmetros de preferência da fila de interessados, foram adotados graças ao trabalho realizado, que deu visibilidade à questão”.

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    A assessoria do Pantanal Shopping informou que “repudia a objetificação de crianças e adolescentes e esclarece que o único intuito em receber a ação foi contribuir com a promoção e conscientização sobre adoção e os direitos da criança e adolescente com palestras e seminários conduzidos por órgãos competentes que possuem legitimidade no assunto”.

    Na tarde desta quarta-feira, a Defensoria Pública do estado do Mato Grosso repudiou “veementemente” o evento. Na opinião do órgão, a iniciativa expõe as crianças e os adolescentes ainda mais à situação de extrema vulnerabilidade social.

    “Corre-se o risco de que a maioria dessas crianças e adolescentes não seja adotada, o que pode gerar sérios sentimentos de frustração, prejuízos à autoestima e indeléveis impactos psicológicos”, diz a nota. “O sonho de ser mãe ou pai deve ser tratado como um ato de amor e não como uma mercadoria a ser buscada numa vitrine”, acrescentam os defensores públicos Márcio Bruno Teixeira Xavier de Lima e Cleide Regina Ribeiro Nascimento.

    Repercussão

    Nas redes sociais, o evento repercutiu de forma negativa. O candidato do PSOL à Presidência, Guilherme Boulos, considerou o evento uma “perversidade inacreditável”. Manuela D’Ávila, que concorreu ao cargo pelo PCdoB, afirmou que esta foi “uma das notícias mais tristes” que já leu.

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    Enquanto alguns usuários cobraram providências do Conselho Tutelar e do Ministério Público, outros afirmaram que a “humanidade fracassou” e que o mundo está “bizarro”.

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