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Operação Cui Bono: O que se sabe até agora

Desdobramento da operação Catilinárias, PF agora indica formação de quadrilha na Caixa encabeçada por Geddel e Cunha

Por Da redação
Atualizado em 4 jun 2024, 20h43 - Publicado em 15 jan 2017, 13h32

A Polícia Federal deflagrou na manhã de sexta-feira da semana passada a operação “Cui Bono?”, expressão em latim que significa “a quem interessa?”, que deixou o Planalto de cabelo em pé. Desdobramento da Operação Catilinárias, deflagrada no final de 2015, a nova operação investiga quadrilha que arrecadava propinas na Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2013.

Na mira dos investigadores está o ex-ministro Geddel Vieira Lima, responsável, até pouco tempo atrás, por fazer a articulação política entre o governo de Michel Temer e o Congresso. Também são apontados como integrantes do esquema criminoso: o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o doleiro Lúcio Funaro, ambos presos na Operação Lava Jato, e o vice-presidente da instituição financeira pública Fábio Cleto, além de empresários interessados em receber recursos do banco estatal.

Confira o que se sabe até agora sobre a nova operação:

O que é

  • A “Cui Bono?”, deflagrada nesta sexta-feira, é um desdobramento da Operação Catilinárias, de dezembro de 2015, na qual foi encontrado um celular na casa de Eduardo Cunha que registrava, entre outros, trocas de mensagens entre o ex-deputado e Geddel Quadros Vieira Lima.
  • Geddel foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2013, período investigado pela PF. Segundo o Ministério Público ele, Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, ainda contando em alguns momentos com a participação de Fabio Ferreira Cleto, desviaram “de forma reiterada recursos públicos a fim de beneficiarem a si mesmos, por meio do recebimento de vantagens ilícitas, e a empresas e empresários brasileiros, por meio da liberação de créditos e/ou investimentos autorizados pela Caixa Econômica Federal em favor desses particulares”

Como funciona

  • Entre os documentos encontrados pela PF, obtidos por VEJA, estavam papéis com uma relação de empresas que pleiteavam empréstimos e financiamentos na Caixa, além de informações detalhadas sobre taxas de juros, prazos das transações e os valores de cada operação. Uma folha, destacada com o título “Pipe Line Geddel” (o equivalente a “Duto Geddel”), faz referências a companhias como Eldorado, Flora, Vigor, Bertin e J&F. Há ainda outro material, chamado de “Pendência Geddel”, que lista uma série de operações de crédito envolvendo a J&F, a Hypermarcas e a Gol.
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Documento encontrado pela PF: Geddel atuava em operações da Caixa (reprodução/Reprodução)
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  • Depois de defender os pleitos de cada companhia, Geddel repassava informações confidenciais para os demais integrantes da quadrilha, como Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, para que pudessem achacar  empresas que pleiteavam recursos do banco estatal.
  • As propinas eram pagas tanto em contas na Suíça como em dinheiro vivo e para empresas do operador Lúcio Funaro.
  • A principal prova da atuação da quadrilha está em mensagens enviadas do celular de Cunha para Geddel. Ao discutirem o caso Marfrig, em julho de 2012, Geddel reporta ao ex-deputado que o “voto sai hj”, em referência à liberação dos recursos que beneficiariam a empresa. Um mês depois, a Marfrig, quando estava com a corda no pescoço e prestes a se desfazer de alguns negócios para quitar a sua dívida, fechou um empréstimo de 350 milhões de reais com Caixa.
  • Ao longo das investigações da Operação Lava Jato, Ministério Público e Polícia Federal já haviam recolhido indicativos da atuação criminosa de Eduardo Cunha junto ao fundo de investimento do FGTS (FI-FGTS). Em delação premiada, Fábio Cleto, por sua vez, detalhara que o esquema de Cunha no FI-FGTS também era replicado na Caixa Econômica, tanto na vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias, presidida pelo próprio Cleto, quanto na vice-presidência de pessoa jurídica, sob responsabilidade de Geddel.
  • Geddel relata, também por mensagem, a Cunha pendências do grupo J&F Investimentos com o FI-FGTS e avisa: “Fala p regularizar la”. No caso do Grupo Bertin, cujos dirigentes também caíram na rede de investigações do petrolão, a Polícia Federal mapeou uma mensagem de setembro de 2012 na qual Cunha intercede junto a Geddel em favor do grupo e cobra: “Precisa ver no assunto da bertin a carta de conforto com os termos que necessita”.
  • A relação entre os integrantes da quadrilha não era um mar de rosas. Conforme revelou o Radar, Funaro chegou a falar de Geddel a Cunha referindo-se a ele como “porco folgado” e disse estar disposto a sair na porrada: “tenho total condição”.

Quem está na mira

  • Além de Geddel, Cunha, Funaro e Cleto, o ex-número 2 de Michel Temer, Roberto Derziê de Sant’Anna, também á alvo da investigação. Na análise de mensagens recuperadas de um celular encontrado na residência de Cunha, durante a Operação Catilinária, os investigadores encontraram menção a “Desirre”, codinome atribuído a Derziê. Na época dos diálogos, em 2012, Derziê era diretor-executivo de Pessoa Jurídica da Caixa. Depois de exercer essa função, foi nomeado secretário-executivo da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), em 2015, no período em que Temer, ainda como vice-presidente, assumiu a pasta, responsável pela articulação política com o Congresso.
  • De acordo com o G1, relatório da PF diz que Cunha e Geddel também discutiram repasses para o Partido Social Cristão (PSC) a pedido do Pastor Everaldo.
  • Apesar de estar fora da operação deflagrada nesta sexta-feira, o empresário Eike Batista também está na mira dos investigadores. A Polícia Federal encontrou mensagens de Cunha que tratam de negócios do interesse do fundador do grupo EBX. Em abril de 2012, o ex-presidente da Câmara mandou mensagem para uma pessoa identificada como Gordon Gekko. O apelido, uma referência ao especulador do mercado financeiro interpretado pelo ator americano Michael Douglas no filme Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme, era usado por Fábio Cleto. “E Eike?”, indagou o ex-presidente da Câmara. “Eike tudo bem, abordado o tema do FI”, respondeu Cleto.
  • Cunha não era o único interessado em ajudar o empresário Eike Batista, que chegou a ser um dos homens mais ricos do mundo antes de as suas empresas derreteram na Bolsa de Valores. Quatro meses depois da mensagem de Cunha, em junho de 2012, o ex-presidente da Câmara André Vargas escreveu para Cleto: “Eike estará com hereda hoje?”. Hereda é Jorge Hereda, ex-presidente da Caixa. 
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Mensagens trocadas entre André Vargas e Fábio Cleto: suspeita de negociatas em favor de Eike ()
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  • As conversas também arrolam na investigação outros políticos peemedebistas, de acordo com o G1. Em 2012, Lúcio Funaro diz a Fábio Cleto: “Tem que ver essa situação da Comport e Hypermarcas aí dentro pra andar rápido porque eles dois tão contribuindo com o Chalita e querem a contrapartida”. Em 2012, Gabriel Chalita foi candidato a prefeito de São Paulo pelo PMDB. A investigação não conclui se Chalita recebeu alguma doação do esquema.

Em nota, a Marfrig afirma que “diante das notícias veiculadas hoje pela imprensa, não foi alvo de qualquer medida da Polícia Federal, que a Caixa Econômica Federal ou qualquer um de seus fundos não são acionistas relevantes da Companhia e esclarece que as operações com tal instituição financeira sempre foram feitas em condições de mercado, com custos equivalentes aos dos bancos privados, com garantias reais e sem qualquer tipo de privilégio. Ainda informa que todas as operações contratadas durante o período apurado nas investigações (2011-2013) foram devidamente liquidadas no prazo e condições, não restando em relação a estas quaisquer débitos em aberto.”

Também por meio de nota, a Hypermarcas diz que “não realizou doações para Gabriel Chalita, nem nunca possuiu nenhum tipo de contrato com a Caixa Econômica Federal”.

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