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Os eleitos da diversidade

O pleito em 2020 funcionou, em certa medida, como uma reação à onda conservadora dos últimos anos na política

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h13 - Publicado em 27 nov 2020, 06h00
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  • As eleições de 2020 representaram um marco com relação à diversidade nas urnas e, em certa medida, funcionaram como uma reação à onda conservadora dos últimos anos na política. As comunidades LGBTQI+, indígena e quilombola fizeram uma bancada recorde nas Câmaras municipais. Em relação a 2016, subiu o número de transexuais e travestis (de 8 para 30), indígenas (169 para 215) e quilombolas (21 para 58). Algumas das novas caras também foram campeãs nas urnas. A pedagoga trans Erika Hilton (PSOL) foi a mulher mais votada do país, com 50  508 eleitores, e ficou em sexto lugar entre 55 vereadores em São Paulo. Em nono, veio o empresário trans Thammy Miranda (PL), com 43 321 votos. Em Belo Horizonte e Aracaju, as campeãs foram mulheres trans: a professora Duda Salabert (PDT), com 37 613 apoiadores, e a pesquisadora Linda Brasil (PSOL), com 5 733. “É a primeira eleição após o bolsonarismo se implantar no Brasil. Estamos mais prontas do que nunca para contra-atacar”, diz Erika.

    A necessidade de ir à luta também levou outras minorias às urnas. Além do grande número de vereadores, dez indígenas se elegeram prefeitos — em 2016, foram seis. “O aumento gradativo dos ataques nos fez ver a necessidade de estarmos nesses espaços de poder”, afirma Dinaman Tuxá, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Em Cavalcante (GO), o prefeito será Vilmar Costa (PSB), líder do Kalunga, maior quilombo do país. “Sempre fomos bons para votar, mas não para sermos votados”, dizia na campanha.

    O fenômeno não foi exclusivo do Brasil neste ano. Os americanos elegeram a sua primeira senadora transexual, em Delaware — Sarah McBride, ex-estagiária do governo Barack Obama. Logo, haters inundaram as suas redes sociais perguntando se ela era mulher ou homem. “I am a senator”, respondeu, usando a definição que no inglês cabe tanto no masculino quanto no feminino.

    Por aqui, houve também episódios desagradáveis. As primeiras vereadoras negras de Curitiba (Carol Dartora) e Joinville (Ana Martins), ambas do PT, sofreram ataques racistas. Em Belo Horizonte, o youtuber bolsonarista Nikolas Ferreira (PRTB), o segundo mais votado, disse que considera Duda Salabert “um homem” e que assim a tratará na Câmara. A despeito desse tipo de reação, os avanços são irreversíveis.

    Publicado em VEJA de 2 de dezembro de 2020, edição nº 2715

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