Um milhão de reais cabe em uma mochila? A defesa do ex-ministro Antonio Palocci (PT) acredita que não e usou isso como um dos argumentos para pedir sua inocência nas alegações finais enviadas ao juiz Sergio Moro no processo em que é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro oriundo de propina em contratos da Odebrecht para fornecer sondas à Petrobras.
Neste processo, também são acusados Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e outros doze investigados por corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. A força-tarefa da Lava Jato afirma que Palocci tinha uma “conta-corrente” de propinas com a Odebrecht. O ex-ministro está preso desde 26 de setembro de 2016.
Nas alegações, a defesa de Palocci faz referência a um “ex-deputado flagrado com mala de R$ 500 000,00” para confrontar uma declaração do executivo Fernando Migliaccio, um dos delatores da Odebrecht na Lava Jato. A referência é ao ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB), flagrado carregando a tal mala após recebê-la do executivo da JBS Ricardo Saud em uma pizzaria de São Paulo.
Migliaccio afirmou em depoimento que Kontic pegava dinheiro em espécie, “nunca menos do que 1 milhão”, com o próprio delator, “botava na mochila e ia embora”. Segundo o executivo, “dependendo das notas, cabe até uns 2 milhões, 3 milhões numa mochila”. A defesa do ex-ministro afirma nas alegações finais que se trata da “mentira perfeita”.
“O colaborador Fernando Migliaccio foi desmascarado pelos recentes fatos (…). No episódio envolvendo o deputado, havia uma mala contendo R$ 500 000,00”, narra a defesa no documento. “Ora, como se sabe agora, R$ 500 000,00 ocupam o volume de uma mala média. Mas, de acordo com o delator, Branislav Kontic fazia caber em uma mochila – com aproximadamente um terço ou pouco mais da capacidade da mala carregada pelo deputado paranaense – nunca menos do que o dobro do valor contido em uma mala média A falácia contada pelo réu colaborador salta aos olhos. Esse fato demonstra, por si só, a inconsistência das alegações feitas pelo corréu delator”, afirma a defesa.
Reta final do processo
Nas alegações finais – última parte do processo antes da sentença -, o Ministério Público Federal, que acusa, e as defesas apresentam suas argumentações e pedidos a ser considerados pelo juízo. A Procuradoria da República entregou seus memoriais em maio. A força-tarefa cobra R$ 32.110.269, valor correspondente à suposta propina paga pela Odebrecht nos contratos.
Segundo a denúncia do MPF, parte dos valores da “conta-corrente” de propinas foi usada para pagar no exterior serviços prestados pelos marqueteiros do PT João Santana e Mônica Moura. A acusação alega que, entre 2006 e 2015, Palocci estabeleceu com altos executivos da Odebrecht “um amplo e permanente esquema de corrupção” destinado a assegurar o atendimento aos interesses do grupo empresarial na alta cúpula do governo federal.
(Com Estadão Conteúdo)