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Passo de Dodge para federalizar caso Marielle se baseia em falsa premissa

Inquérito da PF que investigou obstrução às investigações não confirma uma das suspeitas da procuradora-geral. Famílias querem apuração mantida no RJ

Por Leandro Resende
13 set 2019, 14h45
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  • Às vésperas de terminar o seu mandato à frente da Procuradoria-Geral da República, Raquel Dodge corre contra o tempo para tentar federalizar as investigações sobre as mortes da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes, ocorridas em 14 de março de 2018. Seus argumentos, no entanto, se baseiam em premissas que não foram confirmadas pela Polícia Federal na investigação pedida por ela própria, cujos detalhes estão na edição de VEJA desta semana.

    Ao pedir ao Superior Tribunal de Justiça acesso ao inquérito feito pela PF que apurou indícios de obstrução às investigações, um primeiro passo para federalizar o caso, Dodge indica que há indícios de que o conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Rio (TCE), Domingos Brazão, seria o “autor intelectual” do crime. Mas, na sequência, afirma que ele “teria utilizado de pessoa e da estrutura de seu gabinete para interferir no rumo das investigações iniciais do duplo homicídio”.

    O relatório do inquérito da Polícia Federal dá versão oposta sobre a participação de Brazão na interferência das investigações. Diz, sim, que há indícios de que ele seja o mandante do crime, mas não de que ele agiu para atrapalhar a Polícia Civil na apuração do caso. A PF concluiu que o miliciano Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha e sua advogada e namorada, Camila Nogueira, agiram sozinhos em uma trama que visava a afastar o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, do Rio de Janeiro e enviá-lo para um presídio fora do estado – o que de fato aconteceu. Ferreirinha foi preso pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil em maio por envolvimento com a milícia.

    No relatório do inquérito, a PF alega que a narrativa de que Brazão agiu para interferir nas investigações não faz sentido e que é “difícil crer” que ele utilizaria “um miliciano de terceira categoria”. “Considerando, por hipótese, que o assassinato de Marielle Franco tenha sido determinado por Brazão, não há nenhuma plausibilidade em que, jamais tendo sido alcançado ou incomodado pela investigação desenvolvida pela delegacia de homicídios até o final do mês de abril de 2018, se mobilizasse para ‘plantar’ uma testemunha no feito, atitude além de temerária, injustificável”, diz o texto. Brazão nega envolvimento com o crime.

    Assim como Dodge, o relatório da Polícia Federal também quer a federalização das investigações. “A árdua tarefa de intervir neste complexo cenário demandará ações integradas efetivas de diversos órgãos, inclusive federais”, aponta a PF já no fim do documento.

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    Em agosto do ano passado, o Ministério Público do Rio de Janeiro já havia reagido à sugestão do então ministro da Segurança Pública Raul Jungmann de transferir para a Polícia Federal as investigações do caso. Na ocasião, o procurador-geral de Justiça do Rio, José Eduardo Guassem, afirmou que a colaboração com a PF “está totalmente dissociada do deslocamento de competência para Justiça Federal”.

    Família de Marielle é contra federalização das investigações

    Em entrevista concedida nesta quinta-feira 12, os pais da vereadora Marielle Franco criticaram a possibilidade de federalização das investigações. “Por que agora, no final do mandato dela, ela quer pedir a federalização? Eu não vejo essa necessidade”, indagou Antônio Francisco, pai de Marielle. A mãe dela, Marinete, endossou a opinião. “Isso indo para a esfera federal hoje a gente não sabe na mão de quem vai cair esse processo”, declarou.

    Em nota enviada a VEJA, a Procuradoria-Geral da República informou que ainda não pediu a federalização da investigação e que “não adianta posicionamento em relação a casos que estejam sob investigação”. Em agosto, ao pedir acesso ao inquérito da PF, que tem 37 volumes, a PGR fez crítica a tese apresentada pelos investigadores do Rio quando da prisão de Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, apontados como atirador e motorista do crime. A tese divulgada na época da prisão, em março do ano passado, era de que a dupla agiu motivada por “ódio político”. Segundo a PGR, tal fato “mantém o grave estado atual de incerteza em relação aos mandantes do crime”.

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