Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Plano contra Moraes e ação de hacker podem ampliar enroscos de Bolsonaro

Como a história do senador Marcos do Val se cruza com a da participação na campanha do ex-presidente do hacker Walter Delgatti Neto, da Vaza-Jato

Por José Benedito da Silva Atualizado em 4 jun 2024, 10h14 - Publicado em 14 jul 2023, 06h00

Em fevereiro deste ano, uma reportagem exclusiva de VEJA provocou espanto e polêmica ao revelar com detalhes uma trama desencadeada em dezembro de 2022 para tentar colocar em xeque o resultado da eleição. A conspirata, chamada de “esdrúxula, imoral e até criminal” por um dos envolvidos na ação, o senador Marcos do Val (Podemos-ES), era baseada na estratégia de gravar o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, falando alguma impropriedade que permitisse colocá-lo sob suspeição e, por consequência, a vitória de Lula. Pressionado pela repercussão, o senador enrolou-se nas tentativas de explicações, mas nunca conseguiu dissipar a suspeita de crime no episódio. Em junho, ele foi alvo de uma operação de busca e apreensão da PF — dias depois, pediu licença do cargo.

O estrago levou Bolsonaro a prestar depoimento à PF na última quarta, 12. Ele confirmou a reunião com Do Val e o deputado cassado Daniel Silveira, mas negou que ela tivesse tratado de grampear Moraes — afirmou que só depois tomou conhecimento da ideia, que classificou de“coisa de maluco”. O depoimento não deve ser suficiente para encerrar o caso. Há fatos que indicam claramente que havia mesmo uma operação tabajara para tentar melar as eleições. Marcos do Val contou que na tal reunião teria sido pedido a ele que gravasse Moraes, com a garantia de que o grampo seria depois assumido por outra pessoa.

O hacker Walter Delgatti e a deputada federal Carla Zambelli, ambos réus no Supremo
PLANO - Encontro com Zambelli: história compromete ainda mais a parlamentar (@Zambelli2210/Twitter)

Nesse ponto, a história do senador começa a se cruzar com a da participação na campanha de Bolsonaro do hacker Walter Delgatti Neto, o mesmo que vazou diálogos de membros da Lava-Jato. Preso e solto nos últimos dias pela Justiça Federal por usar a internet, mesmo sob proibição, ele afirmou à PF que foi contratado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) para invadir o e-mail e o celular de Moraes, o que complica mais a vida da enrolada parlamentar. Também disse que foi proposto a ele que assumisse a autoria do grampo de Moraes que, mais cedo ou mais tarde, viria a público.

Os detalhes da participação de Delgatti na campanha de Bolsonaro foram revelados com exclusividade por reportagens de VEJA do jornalista Reynaldo Turollo Jr. Em conversa intermediada por Zambelli, Delgatti esteve com o então presidente no Alvorada numa reunião fora da agenda na manhã do dia 10 de agosto do ano passado. No encontro, discutiram possíveis fragilidades das urnas eletrônicas e o hacker saiu de lá disposto a usar sua expertise em invasão de sistemas para colaborar na campanha à reeleição. No dia anterior, Delgatti havia se reunido com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, tratando do mesmo tema. Em entrevista à Globonews na última terça, 11, o político confirmou o encontro, mas disse que não levou a sério a conversa.

Continua após a publicidade

Apesar disso, o plano seguiu adiante, sempre com o incentivo de Zambelli. Na sequência, Delgatti participou de reuniões no Ministério da Defesa a respeito da confiabilidade do sistema de votação. Determinado a cumprir a missão de desmoralizar Moraes, entrou no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para expedir um falso mandado de prisão contra o juiz, com data de 4 de janeiro de 2023, além de ordens de bloqueio de bens e quebra de sigilo das contas. Tentou ainda cooptar um funcionário de uma telefônica para conseguir grampear o celular do ministro.

INVESTIGADO - Do Val: busca e apreensão da PF e pedido de licença no Senado
INVESTIGADO - Do Val: busca e apreensão da PF e pedido de licença no Senado (Pedro França/Agência Senado)

Em conversa gravada pela reportagem de VEJA, em setembro passado, ele disse que o pedido para assumir a autoria de um grampo em Moraes teria sido feito pelo próprio Bolsonaro em uma conversa por celular intermediada por Zambelli. “Ele falou: ‘A sua missão é assumir isso daqui. Só, porque depois o resto é com nós’. Eu falei beleza. Aí ele falou: ‘E depois disso você tem o céu’ ”. Pessoas próximas ao hacker ligaram essa história com o relato de Do Val. Para um assessor graduado de Bolsonaro, no entanto, a história é “mais uma coisa da Zambelli”.

Continua após a publicidade

Há rumores agora de que, cada vez mais enroscado na Justiça, Delgatti estaria disposto a fazer uma delação premiada, o que pode contribuir para esclarecer a verdade. Ele se dizia quebrado financeiramente após a chamada Vaza-Jato, quando chegou a ficar preso por quinze meses. Achando-se responsável pela reabilitação de Lula com a divulgação das conversas entre o então juiz Sergio Moro e membros da força-tarefa, o hacker achava que o PT deveria ampará-lo. Desiludido, trocou de lado. A aproximação com Zambelli era uma oportunidade de garantir renda e de ter proteção. Tudo parece mesmo um plano rocambolesco, dadas as credenciais dos envolvidos. “Coisa de maluco”, como disse Bolsonaro. Mas pode virar outro capítulo indigesto na relação de processos e investigações que correm contra o ex-presidente e seus aliados.

Publicado em VEJA de 19 de julho de 2023, edição nº 2850

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.