‘Precisamos criar forças-tarefas’, diz Valdecy Urquiza, 1º brasileiro a dirigir a Interpol
Ele aposta na troca de informações entre países como a forma mais eficaz de combater organizações criminosas como o PCC
O PCC vem crescendo bastante por causa do tráfico internacional. Como mensurar a importância da facção no cenário mundial? As organizações que operam no Brasil se tornaram transnacionais e, a partir dessa estrutura, operam os mais diversos crimes, especialmente o tráfico internacional de drogas. Mas não se limitam a isso. Têm operado também em outras áreas, como lavagem de dinheiro e crimes ambientais e cibernéticos.
Como deve ser o enfrentamento? Não há como falar no combate às organizações criminosas modernas sem integração e troca de informações entre os países. E não se pode mais atuar exclusivamente com foco no tráfico. É preciso atacar também a saúde financeira dessas organizações, que têm utilizado cada vez mais esquemas de lavagem de ativos que envolvem o sistema financeiro e imobiliário em outros países.
Como agir de forma integrada? Temos algumas estratégias adotadas com bons resultados. A primeira é a formação de forças-tarefas, com a presença de representantes das polícias dos países da rota do tráfico. Ela permite a produção da prova rapidamente, bem como a identificação dos elementos da organização criminosa. A legislação brasileira evoluiu bastante nesse tema nos últimos anos e tem tido bons resultados. É preciso que os países entendam que é um esforço conjunto que precisa que todos, desde os países produtores, os países de rota e os países de destino, atuem fortemente na repressão ao tráfico.
Qual é a atuação da polícia brasileira neste cenário? De forma muito intensa. O Brasil é um dos países hoje que mais apreende cocaína no mundo e que mais identifica os bens resultantes dessa atividade criminosa. A PF, nos últimos anos, tem focado muito em asfixiar financeiramente as organizações criminosas e atuar na identificação de ativos que são oriundos do tráfico, para que eles possam ser bloqueados e apresentados à Justiça. O que tem, de fato, ajudado muito é o uso de novas tecnologias, como imagens de satélite, principalmente nas regiões produtoras e no tráfico marítimo. Então, acredito que o caminho passa pela atuação conjunta, por investigações patrimoniais e pela adoção de tecnologia no combate ao tráfico de drogas.
Publicado em VEJA de 15 de novembro de 2024, edição nº 2919