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Quais frutos do mar devem ser evitados por risco de contaminação por óleo

Moluscos, mexilhões e lagostas estão entre produtos de risco; consumidor deve estar atento à origem de peixes e evitar os provenientes do litoral nordestino

Por Giovanna Romano Atualizado em 1 nov 2019, 14h39 - Publicado em 1 nov 2019, 13h50

Considerado o maior desastre ambiental do gênero em extensão, o derramamento de petróleo no litoral do Nordeste acendeu o alerta de especialistas para os riscos que o consumo dos animais que tiveram contato com o petróleo representa à saúde humana. O diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Francisco Kelmo, afirma que a população precisa ter um cuidado maior antes do consumo. “Se você não sabe a procedência do alimento, é melhor evitar até que alguns testes sejam concluídos”, diz.

Para Kelmo, os frutos do mar fixos, como moluscos, mexilhões e ostras são ainda mais perigosos porque eles podem reter as substâncias do óleo. A lagosta também é um crustáceo que entra na lista de atenção, porque, em sua movimentação, também pode acumular partículas nocivas.

O biólogo conduziu uma pesquisa que detectou a presença do óleo dentro dos sistemas respiratório e digestivo dos animais da costa brasileira. Foram coletados amostras em três locais: na Praia do Forte, em Itacimirim e em Guarajuba, todas em Salvador (BA). O pesquisador diz que os animais podem estar infectados mesmo se aparentam estar limpos. “Os componentes se acumulam no tecido dos animais”, diz Kelmo.

Enquanto os testes não são concluídos, Kelmo explica que dentre as substâncias que podem ser encontradas nos animais, estão o benzeno, um componente cancerígeno, o tolueno e o xileno. O contato com tais substâncias pode causar desde uma dermatite de até alterações no sistema nervoso e imunológico, má formação fetal, câncer, alterações hormonais, entre outros fatores.

A partir de uma análise sobre os riscos à saúde, a Faculdade de Medicina da UFBA divulgou uma carta recomendando que o Governo Federal adotasse o estado de emergência em saúde pública “para o controle dos riscos decorrentes da tragédia”. “Há necessidade de intervenção complementar do setor da saúde”, considera a universidade, elencando características de risco à vida humana.

De olho na origem

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda que, até que sejam obtidos os dados que permitam uma análise mais precisa, a população fique atenta ao local de origem do pescado. “Nem todo o pescado consumido no país tem origem na região do Nordeste”, pondera o órgão. Ainda, a Anvisa diz que “não há métodos conhecidos de limpeza, cozimento ou de qualquer outro tipo que eliminem, com segurança, os óleos e seus contaminantes” e, por isso, não se pode limpar os produtos contaminados.

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Apesar dos riscos e do alerta dos especialistas, o secretário de Pesca do governo federal, Jorge Seif Júnior tentou fazer graça para amenizar a situação. “O peixe é um bicho inteligente. Quando ele vê uma manta de óleo ali, capitão, ele foge, ele tem medo. Então, obviamente que você pode consumir o seu peixinho sem problema nenhum. Lagosta, camarão, tudo perfeitamente sano”, afirmou, em uma live ao lado do presidente Jair Bolsonaro — que concordou com a afirmação.

O pesquisador da UFBA retruca. Kelmo explica que peixes simplesmente não conseguem evitar o contato com um elemento poluente, pois suas partículas podem ser inaladas na respiração embaixo d’água. “A maioria dos habitantes do mar estão presos no fundo, como as ostras, moluscos e mexilhões”, acrescenta.

De acordo com o pesquisador, as consequências do derramamento de petróleo vão continuar presentes nos próximos anos na biodiversidade da costa nordestina. “Podem existir consequências para a reprodução de populações, já que estamos no períodos em que eles se reproduzem [entre setembro e janeiro]. Após a retirada completa do óleo, é preciso monitorar o ambiente por dois anos porque não há a certeza dos animais que ficaram vivos estão infectados”, completa Kelmo.

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