Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

“Quero que sejam livres”, diz presidente do Instituto Arara Azul

Neiva Guedes revela por que dedica sua vida às aves

Por Neiva Guedes
Atualizado em 4 jun 2024, 15h25 - Publicado em 4 set 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • ARARA
    (Instituto Arara Azul/Divulgação)

    Depois de me dedicar durante três décadas à conservação das araras-azuis, período em que a ave saiu da lista de espécies ameaçadas de extinção, ver as chamas consumirem o Pantanal é algo que dói como se fosse na minha pele. Neste ano, especialmente, o fogo está muito mais intenso e ameaça destruir ninhos e áreas de alimentação das aves. Até hoje não sei explicar direito o que é a minha relação com elas. É parecida com o amor por um filho, como a de quem ama muito o seu bicho de estimação, mas eu não quero que elas fiquem grudadas em mim, quero que sejam livres na natureza. E, sim, a minha relação é muito mais forte com as azuis — adoro todas as outras, mas as de cor cerúlea são o meu grande amor. Tenho uma filha, que nasceu depois de doze anos do meu trabalho com as araras. Costumo dizer que ela é a minha ararinha-cor-­de-rosa e os irmãos são as outras aves que voam pelo céu.

    Sempre tive uma conexão forte com a natureza, desde a infância, mas nunca tive um animal de estimação. Mais jovem, sonhei em fazer medicina. Sou de uma família pobre, estudei em escola pública, tenho seis irmãos, e meu pai faleceu antes que eu ingressasse na faculdade. Porém, pela grade do curso, eu não conseguiria estudar e trabalhar. Por isso, optei por biologia no período noturno. Eu achava que seria uma forma de eliminar matérias de medicina e depois concluir o curso com o qual eu sonhava. No segundo ano, me apaixonei pela graduação e decidi que, na verdade, era aquilo mesmo o que eu queria. Depois de me formar, decidi me dedicar ao Pantanal e principalmente à fauna desse bioma. Durante uma viagem para trabalho de campo, um professor apontou para uma árvore onde repousavam cerca de trinta araras-azuis. Foi amor à primeira vista. Ele explicou que a espécie estava ameaçada, e a partir dali comecei a defendê-la.

    Apesar de todas as dificuldades, é muito prazeroso ver os resultados que conquistamos após trinta anos. É um alento para a alma e me faz acreditar que estou no caminho certo. Trabalho com a mesma equipe há anos, todos se sensibilizaram com a causa e defendem o que estamos fazendo. No dia a dia, pela minha personalidade, sou uma pessoa tímida. Contudo, na hora em que é necessário gritar e colocar a boca no trombone porque precisamos de ajuda, também sei fazer isso, como foi o caso da situação com o fogo em Mato Grosso. Enxergar que estamos tomando as atitudes certas é uma energia revigorante, me ajuda a perceber que nenhuma parte desse trabalho foi em vão.

    Ao mesmo tempo, o atual cenário da política ambiental brasileira me faz constatar que estamos começando a ter novos problemas, o que me faz lembrar das dificuldades que enfrentei no início do projeto com as araras-azuis. Naqueles tempos, para melhorar a educação ambiental da comunidade, precisávamos trabalhar em conjunto com as rádios locais. Não havia internet, nem WhatsApp, para disseminar conteúdo confiável e de qualidade. Eram os próprios locutores, vozes conhecidas da população, que reproduziam as informações. Então, quando chegávamos a alguma fazenda para monitorar as aves, as pessoas já tinham o conhecimento que queríamos passar, sem saber que era o nosso grupo que estava por trás daquele conteúdo.

    Continua após a publicidade

    Mesmo diante dos efeitos das mudanças climáticas, das queimadas e da ação humana com o tráfico de animais, sou otimista. A união entre parceiros fez com que essa espécie aumentasse e se expandisse na região. Preocupa-me, sim, o futuro dela. Está pegando fogo na casa dela. Espero que a atual crise de saúde e ambiental mostre que é preciso alterar o nosso modo de vida. A natureza, afinal, é uma só.

    Depoimento dado a Jennifer Ann Thomas

    Publicado em VEJA de 9 de setembro de 2020, edição nº 2703

    Publicidade

    Publicidade
    Imagem do bloco

    4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

    Vejinhas Conteúdo para assinantes

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.