Randolfe: “Autoridades investigam invasão a aldeia com má vontade”
Senador disse que servidores da Funai coletaram materiais que corroboram relatos de invasão, mas foram impedidos de divulgar as provas pela direção do órgão
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) contestou nesta terça-feira, 30, o trabalho desempenhado pela Polícia Federal (PF) para investigar a suposta invasão a uma aldeia indígena do povo waiãpi, localizada em uma região remota do Amapá. Rodrigues se reuniu com uma assembleia de indígenas da área e ouviu relatos de que os policiais não ficaram mais de 24 horas no local. Segundo os moradores, os peritos ignoraram os vestígios de presença não-indígena que teriam sido encontrados na aldeia.
Rodrigues também denunciou que servidores da Funai do Amapá coletaram material que corrobora o relato de invasão, mas que as investigações foram todas concentradas na sede em Brasília. O senador acusa que a diretoria central da fundação tem impedido a divulgação das provas. A Funai é chefiada pelo delegado da PF Marcelo Augusto Xavier, que assumiu o órgão no último dia 19.
Os waiãpi afirmam que a invasão à aldeia Yvytõtõ ocorreu concomitantemente à morte do cacique Emyra Waiãpi. O líder indígena foi encontrado morto na terça-feira, 23. Os relatos ouvidos por Rodrigues dão conta de que ele foi assassinado com golpes de arma branca. Ele apresentava perfurações nos olhos e teve o órgão genital decepado, segundo os waiãpi. Nenhum índio presenciou o crime.
Emyra fazia parte da aldeia Waseity. Segundo Rodrigues, os waiãpi afirmam que há testemunhas da invasão a outra aldeia, a Yvytõtõ. Esses índios não foram ouvidos por nenhuma autoridade até o momento. Eles serão levados ao MPF na sexta-feira, 2, para prestar depoimento.
Os relatos coletados pelos índios apontam que pelo menos quatro não-indígenas munidos com armas de fogo cercaram a aldeia na última semana. Eles expulsaram os moradores e ficaram alojados no local por um período. “Os waiãpi acreditam que podem ser garimpeiros ou traficantes de drogas. Há também a possibilidade de serem pesquisadores que estudam a liberação da reserva para o garimpo”, disse Rodrigues.
O senador declarou que os índios mostraram aos peritos da PF a existência de pegadas e de uma trilha aberta na mata pelos invasores. Segundo o relato dos waiãpi, os policiais alegaram que não tinham autorização para permanecer mais tempo no local e foram embora sem dar respostas aos índios. “Há má vontade das autoridades para conduzir a investigação neste caso”, afirmou Rodrigues.
Na segunda, 29, o MPF do Amapá informou que as primeiras investigações não trouxeram nenhum indício de que a aldeia foi invadida. O procurador Rodolfo Lopes declarou que a PF não encontrou objetos, vestígios de fogueiras nem pegadas que acusariam a passagem de não-indígenas pela região.
Lopes também disse não possuir elementos para classificar a morte do cacique como um assassinato, mas não descartou nenhuma possibilidade. “Temos uma morte que será investigada”, afirmou. Ainda não foi feita a autópsia no corpo. Os índios já autorizaram a exumação, o que deve ocorrer na próxima semana. Espera-se que o laudo necroscópico fique pronto até o dia 9.
A PF concluirá um relatório sobre as investigações conduzidas pelos peritos até o final desta semana. Em nota, a PF informou que os policiais foram guiados por Aikyry, filho do cacique morto, e que “não foram encontrados invasores ou vestígios da presença de não-índios nos locais apontados pelos denunciantes”.
“Policiais federais percorreram uma grande área, realizando vistoria em conjunto com os policiais da COE/PM/AP, que são referência no estado em rastreamento e combate em áreas de mata, e nada foi encontrado”, diz a PF. A Funai respaldou o relato divulgado pela PF e informou que o presidente da fundação lamenta profundamente a morte do cacique.