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Romeu Zema, entre o velho e o novo

O governador mineiro recua em promessas e aposta as suas fichas em um plano de recuperação que inclui a venda de estatais para tirar o estado do buraco

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h42 - Publicado em 20 set 2019, 06h30
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  • Em fevereiro, pouco mais de um mês depois de tomar posse como o primeiro governador eleito pelo Novo, Romeu Zema garantiu que, no ajuste das caóticas contas de Minas Gerais, sua tesoura não perdoaria nem condecorações oficiais. “No ano passado, o estado gastou mais de 3 milhões de reais com onze eventos de entrega de medalhas. Neste ano, teremos apenas um, a entrega da Medalha da Inconfidência”, garantiu, poupando a mais alta comenda mineira. Sete meses depois, na quinta-feira 12, ele foi a Diamantina receber a Medalha Juscelino Kubitschek, com mais 107 agraciados. A entrega da honraria na cidade natal de JK é prevista em lei e recebê-la é condição para que ele condecore outras pessoas. Apesar de ter custado 50 800 reais, apenas 12% dos 416 067 reais de 2018, não combinou com a ideia de austeridade absoluta de um empresário que entrou para a política vendendo aos eleitores a ideia de que faria tudo diferente.

    Esse é apenas o exemplo mais recente de quebra de promessas de campanha. Em 2018, Zema registrou em cartório que seus secretários só receberiam salário quando os pagamentos a servidores fossem regularizados. Pois os pagamentos seguem parcelados, sem previsão de normalização, e os membros do primeiro escalão nunca deixaram de receber. Ele também havia se comprometido a abolir jetons pagos a secretários que integram conselhos de estatais, mas mudou de ideia. Nos dois casos, atribuiu as mudanças à inexperiência. O novato tinha prometido ainda acabar com a “farra” do uso de aviões. Zema deixou de ir à posse de Bolsonaro porque não havia voo de carreira em horário que permitisse que tomasse posse em Belo Horizonte e fosse a Brasília. Quinze dias depois, passou a usar um helicóptero e dois jatinhos em seus deslocamentos.

    Enquanto incorre em velhos vícios da política, Zema até o momento não demonstrou que ideias novas tem para salvar Minas Gerais da bancarrota. A seu favor, ele cita o pouco tempo para reverter a situação delicada. “Estamos equilibrados no fio da navalha”, disse a VEJA o governador. Minas tem um déficit de 15 bilhões de reais em 2019 — fora os 34 bilhões herdados da gestão Fernando Pimentel (PT). Na mais recente avaliação do Tesouro Nacional sobre a capacidade de pagamento dos estados, Minas teve a pior nota, D, não por coincidência ao lado do Rio de Janeiro, em regime de recuperação fiscal desde 2017, e do Rio Grande do Sul, que estuda a mesma solução. Sem dinheiro, Zema tem sido pressionado por categorias de funcionários públicos. Policiais e bombeiros protestaram por reajuste salarial na sede do governo na segunda 16 e ameaçam entrar em greve.

    MANIFESTANTES-REAJUSTE-SALARIAL-MINAS-GERAIS-2019
    PRESSÃO Servidores da segurança pública do estado: protesto na Cidade Administrativa e ameaça de greve (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

    Passados quase nove meses de governo, Zema finalmente apresentará nas próximas semanas à Assembleia mineira as linhas mestras de seu plano de recuperação fiscal. Será seu primeiro grande desafio no Legislativo. Dos 77 deputados, apenas 21 integram sua base. O governador quer se desfazer de todas as empresas públicas, entre elas Cemig (energia), Codemig (desenvolvimento econômico), Copasa (saneamento) e Gasmig (gás), com as quais estima arrecadar até 40 bilhões de reais. Obstáculo extra será o artigo da Constituição estadual que condiciona a venda de estatais a referendo popular, o que Zema descarta. “Está fora de cogitação”, garante. Por isso vai enviar também uma proposta que acaba com a necessidade de consulta. Detalhe: são necessários 48 votos para alterar a Carta estadual, e a dispensa do plebiscito não é popular entre os deputados.

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    Se por um lado Zema abandonou promessas da “nova política”, por outro pôs em prática itens basilares da cartilha do Novo: abriu mão da residência oficial, diminuiu o número de secretarias de 21 para doze, exonerou 32 000 comissionados, vendeu duas aeronaves e fez uma reforma administrativa que poupará 900 milhões de reais. Ele tem reuniões mensais com o fundador do Novo, João Amoêdo, a quem passa as linhas gerais de sua gestão. Para o cientista político Malco Camargos, da PUC-MG, o movimento do governador é bastante arriscado. “Se o plano de recuperação der errado, pode ser que o governo todo dê errado.” Nessa hipótese, o novo vai ficar rapidamente ultrapassado — e nenhuma medalha vai mudar essa realidade.

    Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2019, edição nº 2653

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