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Um único caso servirá de base para o 1º inquérito de João de Deus

Dos quinze casos investigados pela Polícia, apenas um, que aconteceu em outubro, ocorreu dentro do prazo decadencial de seis meses

Por Estadão Conteúdo Atualizado em 19 dez 2018, 16h13 - Publicado em 19 dez 2018, 15h39

A Polícia Civil de Goiás deve se basear em um único caso de abuso sexual para concluir o primeiro inquérito contra o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus. A investigação está prevista para ser concluída até sexta-feira, 21, e vai mostrar que o líder religioso ofereceu presentes, como uma pedra de valor e um quadro religioso, para a vítima depois de tentar abusar da mulher, de aproximadamente 40 anos.

Inicialmente, a investigação tinha um rol de quinze casos, mas apenas um deles aconteceu recentemente e não perdeu seu prazo decadencial – período no qual a denúncia pode ser feita sem perder a punibilidade. Segundo a investigação, essa vítima teria sido abusada em outubro deste ano.

A mulher visitou a Casa Dom Inácio de Loyola, onde João de Deus fazia atendimentos espirituais, várias vezes e sempre acompanhada de um namorado. Em uma dessas ocasiões, ela ficou sozinha com o médium numa sala para a consulta espiritual. Com as luzes apagadas, João de Deus teria começado a tocar próximo à região íntima da denunciante que, neste momento, percebeu que ele estaria com o membro sexual para fora da roupa.

Aos policiais, a vítima contou que, quando percebeu qual era a verdadeira tentativa do médium, resistiu e fez menção de interromper qualquer contato físico. Nesse momento, João de Deus teria oferecido uma pedra de valor e um quadro religioso para a vítima. A reportagem apurou que, em seu depoimento à Polícia Civil, João de Deus disse não se lembrar de ter dado esta pedra, mas admitiu a oferta de “quadros”.

Os policiais envolvidas na investigação ainda resistem em dizer se o inquérito vai concluir que, efetivamente, João de Deus tentou silenciar a vítima com a oferta de presentes. Um delegado envolvido nos trabalhos disse que “provavelmente” essa será uma das provas a embasar a denúncia.

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Apesar disso, como se trata apenas de um caso, a Polícia Civil de Goiás deve oferecer a denúncia de João de Deus por um único crime: o de “praticar ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima”, tipificação presente no artigo 215 do Código Penal. A pena prevista para esse crime é de até seis anos de reclusão, em regime fechado.

Ainda assim, a Polícia Civil e o Ministério Público de Goiás podem abrir novos inquéritos contra o médium a partir de novas denúncias. Somente o MP já recebeu mais de 500 relatos de abuso sexual e outros trinta casos foram formalizados por meio de depoimentos colhidos presencialmente nos Estados.

‘Remédio’ antes vendido deixa de ser cobrado

A prisão preventiva de João de Deus trouxe um impacto não apenas para o movimento da Casa Dom Inácio de Loyola, onde o médium costumava fazer os atendimentos, mas também em procedimentos do local. Cápsulas “energizadas”, antes vendidas a um preço de 100 reais, passaram agora a ser distribuídas gratuitamente. Funcionários do centro afirmaram que a mudança foi determinada pelo próprio médium, que costumeiramente indicava o remédio manipulado para mais de dois terços dos frequentadores.

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A passiflora é preparada num laboratório que funciona na própria Casa Dom Inácio de Loyola. Na terça-feira, 18, o centro foi alvo de buscas pela Polícia Civil. De acordo com funcionários, as cápsulas são iguais para todos. O que muda seria a “energia” dispensada em cada frasco. Na ação de busca em imóveis de João de Deus, a polícia apreendeu armas e dinheiro vivo.

Para os fiéis, a energia do remédio é personalizada. O tratamento dura cerca de dois meses. Ao serem perguntados por que as cápsulas são vendidas a esse preço, funcionários afirmam haver custos para manutenção da fábrica – registrada no nome da mulher de João de Deus, Ana Keila Teixeira. Além disso, argumentam que as coisas são menos valorizadas quando são doadas.

A estimativa é que sejam vendidos mensalmente cerca de 8.000 frascos de remédio no centro. Isso significa que, somente com as cápsulas, a casa teria um faturamento bruto de 800.000 reais. Sem falar na pomada para dores, para queimaduras e o xarope. A ordem de gratuidade é apenas para a passiflora. De acordo com funcionários, ainda não se sabe se o remédio será dado de forma gratuita para todos. Embora sem custo, as filas para a retirada das cápsulas não foi grande.

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